Cidade da Praia, 07 Abr (Inforpress) – A exposição "Atlântico Negro", patente desde hoje, na cidade da Praia, é resultado de uma residência artística entre Cida Lima e Amadeu Carvalho, e homenageia a história e identidade das mulheres cabo-verdianas.
Em declarações à Inforpress, Cida Lima explicou que o projecto nasceu de uma colaboração artística iniciada em Cabo Verde, depois de um encontro com Amadeu Carvalho, com quem partilha afinidades técnicas e estéticas.
“Ele trabalha com projecção e sombras, e eu, com técnicas de desconstrução e abstracção, a fusão resultou num trabalho a quatro mãos, com imagens cuidadosamente escolhidas para representar a mulher cabo-verdiana de forma autêntica”, afirmou.
Segundo a artista, a exposição é também uma forma de militância.
“Queríamos falar da mulher sem a colocar apenas no papel de guerreira. Falamos desde a escravidão até aos feminicídios, passando pelos diferentes papéis que as mulheres ocupam na sociedade: vendedoras, donas de casa, empresárias”, sublinhou.
O projecto conta com 38 obras no total, das quais 29 estão actualmente expostas. A instalação mistura artes visuais com elementos performativos e simbólicos, numa ocupação artística do espaço que pretende criar impacto e reflexão.
Já o artista Amadeu Carvalho, actualmente residente em Londres, revelou que a exposição partiu de uma pesquisa aprofundada sobre o quotidiano das mulheres cabo-verdianas.
“Queríamos mostrar que estas histórias existem, mas nem sempre são contadas. A mulher não é apenas musa, é o coração da transformação cultural”, explicou.
A iniciativa contou também com a colaboração da poetisa Erika Silva, cujos poemas integram a narrativa visual da mostra.
Para Amadeu Carvalho, a exposição é igualmente uma ferramenta para elevar a auto-estima feminina.
“Muitas mulheres inicialmente recusavam ser fotografadas, dizendo-se feias e depois de verem os retratos, reconheciam a sua beleza. Esse é o poder da arte, revelar o que há de mais bonito e forte na mulher comum”, declarou.
Ambos os artistas se mostraram abertos a futuras colaborações, sendo que o próximo passo será levar a exposição ao Brasil.
“É um trabalho que precisa de circular, ir ao encontro do povo”, afirmou Cida Lima.
A residência artística teve a duração de três meses e é parte de um esforço mais amplo para fortalecer a produção artística nos países africanos de língua portuguesa.
Amadeu Carvalho tem como objectivo criar residências artísticas em Cabo Verde, valorizando a arte local e oferecendo espaços dignos para que os artistas possam criar e expor os seus trabalhos.
A exposição "Atlântico Negro" propõe uma reflexão sobre a resistência poética e criativa no quotidiano da mulher cabo-verdiana, destacando o valor da arte, do intercâmbio cultural e da promoção da dignidade humana.
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Inforpress/Fim
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