*** Por Letícia Neves, da Agência Inforpress ***
Mindelo, 27 Mar (Inforpress) – O novo presidente da Associação Mindelact, que assumiu as rédeas da organização há pouco mais de uma semana, tem como pretensão trabalhar para fazer um pouco a diferença nas artes cénicas cabo-verdianas que “evoluíram muito”.
Aos 29 anos de idade, Yannick Fortes é o novo rosto da associação que teve à frente nomes como Daniel Monteiro, já falecido, e João Branco, este último a quem sucedeu depois de seis de mandato, findos por o dramaturgo se ter ausentado do País.
O jovem terá agora como um dos desafios organizar mais uma edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo – Mindelact, principal feito da associação com o mesmo nome, e que agora em 2024 comemora 30 anos de existência, as bodas de pérola, um ano a mais que a sua idade cronológica.
“Assumo essa responsabilidade de ser presidente do Mindelact, pelo menos para os próximos três anos. Isto vem de uma vontade de dar o meu contributo para fazer com que artes cénicas possam evoluir em Cabo Verde, e, se calhar, fazer alguma diferença”, justificou em entrevista à Inforpress a propósito do Dia Internacional do Teatro, assinalado hoje.
Traz como bagagem vários anos de “vivência íntima” como actor e dramaturgo, mas também a formação académica, realizada em Portugal, de mestre em Artes Cénicas e, neste momento, doutorando na mesma área. Até porque, acredita, o desenvolvimento dessa arte performativa passa pela formação.
“Não podemos ter só vontade de fazer. Este é o principal problema que impede a evolução, porque temos muita vontade de fazer, mas sem se profissionalizar e sem formação acabamos sempre por ser um teatro amador”, considerou a mesma fonte, acrescentando que este item, com certeza, será um dos pilares nos quais deverá alicerçar a sua liderança.
Outros dos cajados, enumerou Yannick Fortes, será maior aproximação às companhias nacionais, tanto no Mindelo, como nas outras ilhas, que devem a partir de agora ganhar mais espaço no festival Mindelact com a retoma do "Festival Off", rubrica concebida para servir de palco-experiência para as novas companhias.
Tem ainda como outras das prioridades a edição e documentação da dramaturgia cabo-verdiana, que inclui a reactivação do Centro de Investigação Teatral (CdTI) e retoma da publicação da Revista Mindelact.
Yannick Fortes apontou ainda mais dois pilares, sendo estes, a internacionalização de agentes e grupos de Cabo Verde e um último, que considerou “um dos mais difíceis” a ser alcançado, a associação ter um espaço próprio, e que servirá, ao mesmo tempo, de apoio para os grupos locais ensaiarem e se apresentarem.
A seu ver a falta de espaços de ensaios e preparação tem sido um dos “calcanhar de Aquiles”, não obstante acreditar que o teatro cabo-verdiano já evoluiu a “um nível de se admirar” devido ao número de pessoas neste momento a estudarem e a se profissionalizarem nesta arte.
“Pode ter diminuído a quantidade de peças apresentadas, mas aumentou-se a qualidade”, defendeu, exemplificando com o caso de São Vicente, onde “quase todos os actores e actrizes”, já passaram por uma formação, nem que seja de iniciação teatral, e outros conseguiram bolsas de estudo para se especializarem no exterior.
Entretanto, uma profissionalização, que, assegurou a mesma fonte, ainda está “sub-aproveitada”, porque muitos desses profissionais não foram enquadrados e não recebem um salário como agentes teatrais e “estão a ser deixados de lado” pelas autoridades como câmaras municipais, Governo e próprias universidades.
“Falta Cabo Verde ir um pouco mais além dos patrocínios e apoios e de alguma forma envolver esse pessoal qualificado, porque sozinhos não conseguimos tudo e nem conseguimos viver só da bilheteira”, lançou Yannick Fortes, para quem, por exemplo, os centros culturais podiam ter um artista residente a fazer programações para o ano inteiro.
Constrangimentos à parte, o novo presidente do Mindelact quer dar provas da sua capacidade, da sua experiência acumulada desde muito novo envolvido, por crescer assistindo teatro, depois com o curso de iniciação teatral do Centro Cultural Português do Mindelo, e agora com as suas formações superiores, em Portugal.
Toda uma bagagem que vai colocar na montagem e concretização da 30ª edição do festival Mindelact, no mês de Novembro próximo, que, garantiu, vai ser “em grande”, com a vertente de internacionalização, mas, “envolvendo ao máximo” o teatro cabo-verdiano” para a troca de conhecimentos e experiências.
Promete uma “programação rica” com a participação de grupos de vários países e actuações de “muita qualidade”.
O Dia Mundial do Teatro é celebrado no dia 27 de Março e foi criado pelo Instituto Internacional do Teatro em 1961.
LN/CP
Inforpress/Fim
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