
*** Por Sandra Custódio, da Agência Inforpress ***
Cidade da Praia, 07 Dez (Inforpress) - O empresário Marcos Rodrigues, líder da maior família empresarial de Cabo Verde, considera-se um homem de bem com a vida, quer centrar-se em “relações profícuas, intensas e inteligentes”, e procura a dignidade como um valor permanente.
Viajamos desta vez à Câmara do Comércio de Sotavento, onde conversamos com um “gentleman”, um homem polido e cortês, que abriu as portas do seu gabinete de trabalho, para durante aproximadamente 50 minutos, dar a conhecer, em entrevista, o outro lado do empresário Marcos Barbosa Rodrigues, enquanto ser humano e cidadão comum.
Falamos de tudo um pouco entre sorrisos e risadas animadas num ambiente climatizado, deixando transparecer que é um homem determinado e de convicções fortes, e que não dá murro na ponta da faca.
Nascido na ilha do Fogo, nos Mosteiros, em 1958, a contar hoje 67 anos, filho de Cândido Rodrigues e de Luísa Barbosa Rodrigues, disse que durante esse seu percurso de vida procurou sempre demonstrar respeito, consideração e delicadeza no trato diário com os outros.
Os pais nasceram, cresceram e viveram na ilha do Fogo, mas foram para Angola, Marcos Rodrigues tinha 03 anos, onde passou toda a sua infância, uma infância que se lembra de ter sido maravilhosa, porque partilhava-se ambientes simplesmente idílicos - a natureza, o campo, os rios, os lagos, as paisagens, as plantas, as flores e os pássaros.
“Angola, para mim, foi um paraíso. As pessoas, as culturas diversas e dispersas ali dão-nos, efectivamente, um sentido interessante de uma infância, uma vida e uma vivência extraordinária”, recordou.
Em 1975, com a independência de Angola, também ano da Independência de Cabo Verde, regressaram ao país, e três meses depois de ter voltado à terra que o viu nascer, Marcos Rodrigues, na altura com 16 anos, viaja para Portugal, onde continua os estudos e faz a sua vida por lá, até o ano 2000, momento que vai para os Estados Unidos da América reencontrar-se com os progenitores que tinham emigrado.
Entretanto, antes, viveu toda a sua juventude em Portugal, chegou numa altura de transição em que se tinha dado o 25 de Abril, acompanhando de perto a transformação de Portugal do ponto de vista da transição, da ditadura para a democracia.
Ali granjeou, conforme notou, um “grande e consistente” aprendizado que provocou nele um impacto no seu caráter e disciplina, que o acompanha até hoje.
Nessas lembranças da sua juventude, embora se considere um “tipo pacato”, teve tempo para namorar, tendo namorado “muitas mulheres bonitas e encantadoras”, feito muitas amizades e intensas relações que hoje ainda sobrevivem.
“Namorei obviamente, conheci mulheres muito bonitas e encantadoras. A mãe da minha filha, que é alentejana, e que me acompanhou nessa juventude, que me deu alguma paz e serenidade durante algum tempo do nosso casamento, de que tive uma filha, que vive em Portugal neste momento. Foram tempos de muitos sonhos, muitas realizações, muitos impactos, mas estar longe da família biológica… também tem outro preço”, desabafou.
Conta que não tinha vindo para Cabo Verde nem conhecia ninguém em Portugal, pelo que a distância da família teve um impacto enorme na sua vivência, então, acabou por ancorar-se um pouco na sociedade portuguesa, com os portugueses, que aliás “não foi mal de todo, antes pelo contrário”.
Falando em família, Marcos Rodrigues veio de uma linhagem abastada, com muitas condições de vida, os seus avós e bisavós eram grandes proprietários, latifundiários de café, com imensos terrenos agrícolas na ilha do Fogo.
Os ascendentes, tanto da parte da mãe como do pai, tinham sido também imigrantes nos Estados Unidos da América, carregando uma intensa vida e vivência familiar, ancorada nos negócios e na imigração.
“De forma que tinham condições económicas bastante sustentáveis, e uma vida condigna, do ponto de vista daquilo que era a sociedade cabo-verdiana, na altura. Segundo os relatos, ainda hoje é possível ver os sobrados e as casas onde viviam, infelizmente todos abandonados, porque os filhos e os netos emigraram”, disse, depreendendo, que efectivamente, essa atitude relacionada ao mundo dos negócios que existia na família, despertou nele esse sentido empresarial e de administração de empresas.
Tanto assim é que já esteve em várias áreas de actividade, teve, nomeadamente uma “grande empresa de comunicação e marketing” em Portugal, onde chegou a empregar cerca de 70 pessoas na área de comunicação e marketing, uma empresa de merchandising, uma gráfica e restaurantes, tudo em Portugal, ou seja, esteve em várias áreas de actividade empresarial.
Neste momento tem uma empresa em Cabo Verde, envolvida em vários projectos, cujo negócio passa pelo desenvolvimento da área tecnológica, importação e imobiliária, e a dirigir também a associação empresarial, a Câmara de Comércio do Sotavento que, conforme disse, tem um “peso enorme” em Portugal, e em Cabo Verde tem conhecido “um crescimento exponencial” nestes quatro anos em que está a frente da organização.
Contando esses e outros episódios, Marcos Rodrigues apontou que foi com o único propósito de vir ajudar a desenvolver e transformar o país, tendo em conta a experiência e conhecimentos adquiridos pelo mundo, que resolveu deixar os EUA, em 2015, para, em definitivo, fixar residência em Cabo Verde.
Licenciado em Comunicação e Marketing, pós-graduado em Empreendedorismo e Gestão de Inovação, sectores de que se diz apaixonado e se sente capacitado para poder fazer, já que fundamentais para a competitividade das empresas, identificação de oportunidades e fortalecimento das habilidades empreendedoras, que envolve a transformação de ideias criativas em soluções práticas e valiosas.
Nesse percurso de vida, Marcos Rodrigues que foi casado durante 28 anos e divorciado há 13, desde 2012, de cujo casamento tem uma filha de 40 anos, que também lhe deu uma neta, já com 11 anos, actualmente numa relação amorosa, considera-se um homem de bem com a vida.
“Eu diria que o nosso sucesso é quando chegamos a casa e encostamos a cabeça ao travesseiro tranquilamente. Aprendi na família que a maior riqueza não é a questão material (…) é importante, mas não é o suficiente para ancorar aquilo que é a profundeza do homem”, observou.
“Quero centrar a minha vida, essencialmente, em relações profícuas, intensas e inteligentes. Em relações que possam construir valor para mim e para aquele que interage comigo”, realçou, definindo-se um homem determinado, consciente, que procura a dignidade como um valor permanente, que não gosta de barulho, antes alguma tranquilidade, de ouvir uma música de fundo e estar em paz.
Socialmente muito intenso, de fácil diálogo, Marcos Rodrigues que gosta de convívios, falar com as pessoas, dançar e festas, mas mais de carácter privado, diz adorar os seus amigos, um activo que daria tudo para nunca perder.
Para ele cozinhar é uma arte e gosta de entrar na cozinha para fazer um bom pitéu para os amigos lá em casa, mas quando adolescente ouvia o pai dizer que a cozinha não era para os homens.
“Foi talvez por isso que eu mais me apaixonei pela cozinha, porque a minha mãe cozinhava muitíssimo bem, adorava vê-la cozinhar e isto levou-me à paixão pela cozinha e refinei o meu conhecimento na área. A cozinha é uma arte, o esplendor do amor, especialmente quando estamos a cozinhar para os outros”, comentou.
Sendo um bom garfo, como confessa, dedica-se a sério à cozinha e sabe cozinhar, particularmente comida portuguesa, por exemplo, cozido à portuguesa, uma boa dourada, feijoada, mas também aprendeu a fazer uma boa cachupa rica.
“Eu adoro a minha comida e como muito bem, porque sei aquilo que eu fiz. Faço também questão de cozinhar para os meus amigos e fico mais feliz ouvir depois no fim: está muito bom”, conta entre risos, indicando que cabrito assado no forno, uma boa cachupa, são seus pratos predilectos.
No final da nossa conversa, olhando um pouco para Cabo Verde, Marcos Rodrigues disse que gostaria de ver um país com maior riqueza, que gerasse riqueza suficiente para que ninguém tivesse necessidade de emigrar.
“Que todos nós, que têm responsabilidade neste país pudéssemos focar o seu trabalho e o seu desempenho na construção da riqueza, em que as ilhas todas tivessem oportunidade de desenvolvimento, para que as pessoas possam viver com qualidade”, almejou.
SC/AA
Inforpress/Fim
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