Cidade da Praia, 15 Jul (Inforpress) – O antigo primeiro-ministro de Portugal Durão Barroso defendeu que é essencial uma África mais unida e institucionalizada, afirmando que os governos africanos devem reforçar a capacidade da União Africana para melhor defender os seus interesses no plano internacional.
Durante a sua intervenção na conferência intitulada “Desafios da Actual Situação Geopolítica Internacional”, considerou que a União Africana ainda não dispõe da capacidade necessária para exercer um papel mais eficaz no plano internacional, sublinhando que essa limitação decorre essencialmente da falta de vontade política dos governos africanos.
“Há aqui um problema de institucionalização, que a meu ver deve ser ultrapassado, quando a África é o continente com o maior dinamismo demográfico, com a maior juventude e também com tantos recursos, faz sentido uma África mais unida, mas também mais institucionalizada”, apontou.
Para o antigo presidente da Comissão Europeia, a responsabilidade está nos governos, porque a União Africana só pode fazer aquilo que os governos africanos lhe permitam fazer.
Segundo avançou Durão Barroso, a União Africana tem “uma coisa muito boa” que é a ideia da união, a ideia pan-africana, de que todos os países africanos podem comungar certos valores e trabalhar em conjunto, mas “não tem conseguido alcançar um nível de institucionalização que permita coordenar interesses, por vezes contraditórias”.
Comparando com a União Europeia, referiu que apesar dos seus problemas esta conseguiu desenvolver um sistema supranacional que concilia interesses nacionais com um bem comum europeu.
Para este responsável, isso tem faltado à União Africana, que continua a funcionar como uma organização intergovernamental ou, em muitos casos, inter presidencial.
Durão Barroso defendeu ainda que a Europa deve dar “maior prioridade à África”, reforçando os laços de cooperação e reconhecendo o papel central que o continente pode desempenhar no futuro global.
Destacou ainda Cabo Verde como “um dos casos notáveis” do continente africano, sublinhando a sua “resiliência, coerência política e capacidade de afirmação”, apesar da escassez de recursos naturais.
Afirmou que Cabo Verde se afigura actualmente entre os dez países africanos com maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita, numa lista em que predominam estados exportadores de petróleo ou outras matérias-primas.
Sublinhou que o mundo vive um período de transição marcado por incertezas, onde se conhece o ponto de partida, mas não o destino.
Referindo-se à guerra na Ucrânia, afirmou que não antevê uma reconciliação genuína a curto prazo, considerando mais provável um cenário de cessar-fogo ou tréguas prolongadas.
“Não há, no futuro previsível, a hipótese de uma verdadeira reconciliação como aquela que tivemos na Europa após a Segunda Guerra Mundial”, observou, referindo-se à sua experiência direta com o presidente da Rússia.
No contexto internacional incerto, defendeu que países de menor dimensão, como Cabo Verde, devem apostar em alianças estratégicas.
“É aí que entram as parcerias, como aquelas que Cabo Verde tem com a União Europeia, e que considero fundamentais, e fui parte desse processo e continuo a acreditar na importância de uma cumplicidade entre a Europa e a África”, frisou.
Segundo Barroso, essa cumplicidade justifica-se por razões históricas, culturais, linguísticas e geográficas, e deve ser aproveitada por países como Cabo Verde para garantir liberdade de actuação num mundo em transformação.
“A resiliência do povo cabo-verdiano tem sido acompanhada de uma notável consistência e coerência no seu posicionamento internacional”, referiu.
Relativamente ao estado da democracia, o antigo governante português considerou que, apesar dos desafios, esta continua a ser mais forte do que as ditaduras.
Durão Barroso encontra-se em Cabo Verde no âmbito do lançamento do livro «CABO VERDE – Crises e Resiliência», da autoria de Ulisses Correia e Silva.
AV/AA
Inforpress/Fim
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