CPLP irá "matar-se lentamente" ao ser presidida pelo "ditador de Bissau" - activista

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CPLP irá "matar-se lentamente" ao ser presidida pelo "ditador de Bissau" - activista
17/07/25 - 09:00 am

Lisboa, 17 Jul (Inforpress) - O escritor guineense Amadú Dafé considerou, em entrevista à Lusa, que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa irá “matar-se lentamente” ao ser presidida pelo "ditador da Guiné-Bissau" e que Portugal tem sido cúmplice deste regime.

"A Guiné-Bissau, enquanto país, está obviamente em condições de assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa [CPLP]”, mas a organização "está a morrer, a matar-se lentamente no que diz respeito à moralidade democrática e à ideia de solidariedade, na minha opinião", frisou o autor de “Ainda Te Manifesto”, livro que será lançado sábado em Lisboa.

O também apresentador do programa Mar de Letras, da RTP África, respondia à Lusa sobre qual a sua posição face à assunção da presidência rotativa da CPLP pela Guiné-Bissau, que acontecerá na sexta-feira, num contexto político marcado por críticas à forma como o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o parlamento, no final de 2023, formando um Governo de iniciativa presidencial, e estendeu o seu mandato, que formalmente teria terminado em 27 de fevereiro último, até setembro.

Na sua perspetiva, a comunidade internacional tem olhado com hipocrisia para esta nação da África Ocidental, uma vez que se percebe "claramente que existe uma ditadura instalada, uma ditadura de um marginal, de uma pessoa banal, medíocre, que não tem a mínima noção do que é que um país precisa para se avançar". 

"É uma pena que a Guiné-Bissau, um país assim tão interessante, com uma população e um povo muito humilde, muito solidário, tenha a ditadura do marginal", reiterou. 

Relativamente à ausência de crítica por parte dos governantes portugueses, Dafé explicou que em "Ainda Te Manifesto" condena as autoridades portuguesas "em relação ao seu posicionamento face ao regime ditatorial da Guiné-Bissau". 

"Critico isso no livro porque acho que é preciso ter alguma coragem. Eu vivo aqui em Portugal, trabalho aqui em Portugal e sinto que não é por isso que eu me devo anular (...) e omitir opinião em relação a isso, e pelo menos posicionar-me", frisou. 

Na sua opinião, na Guiné-Bissau falta o básico, como o acesso à educação e à saúde, as instituições "estão completamente paralisadas, a Assembleia da República não funciona há mais de um ano" e "Portugal estende o tapete vermelho a esta pessoa, condecorando-o com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique, faz visitas de Estado e chama-o de amigo, ignorando completamente o sofrimento de um povo". 

Portugal, através dos seus políticos, "tem tido um papel de hipócrita na relação com o regime ditatorial da Guiné-Bissau e por extensão arrasta a CPLP", assim como "o Brasil e todos os outros países que fingem que não sabem que aquilo que se passa na Guiné-Bissau é uma ditadura", lamentou. 

No entanto, "estas organizações são sempre as primeiras a apontar o dedo a qualquer situação de imoralidade que acontece internacionalmente, mas quando são coisas que têm de enfrentar e resolver internamente refugiam-se nas suas covardias e não assumem posições que sejam dignas", acrescentou.

"Infelizmente, a CPLP perde aqui uma oportunidade de se afirmar através dos valores que lhe serviram de base para a sua fundação", criticou. 

O ativista reforçou não ter medo de expressar a sua opinião: "Como é que eu posso viver com orgulho sabendo que eu tenho irmãs, sobrinhos, tios, primos, amigos, sem capacidade de ter uma boa condição de saúde, de educação, coisas que hoje são consideradas luxuosas na Guiné-Bissau? Eu não me vou calar!"

No entanto, esclareceu, não apela a um golpe de Estado ou guerra civil, apenas pede aos “partidos da oposição - se é que ainda existe algum - para que assumam as suas obrigações".

"O que eu acredito é que, quer o povo, quer os partidos de oposição, têm que primeiro ter consciência que o regime ditatorial não beneficia ninguém", nem mesmo os "próprios apoiantes do regime. Porque um ditador nunca quer saber propriamente do outro", concluiu.

A CPLP é constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. 

Inforpress/Lusa

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