
Yamoussoukro, 23 Out (Inforpress) - Os eleitores da Costa do Marfim escolhem no sábado o Presidente da República, sendo que a corrida presidencial foi marcada por contestações, desinformação, exclusão dos principais opositores e receio de uma nova agitação pós-eleitoral.
Das 60 candidaturas à corrida presidencial, somente cinco - incluindo a do atual Presidente, Alassane Ouattara -, foram aceites pelo Conselho Constitucional, segundo a lista definitiva publicada pelo órgão em 08 de Setembro.
Alassane Ouattara, de 83 anos, assumiu o cargo em 2011, na sequência do conflito pós-eleitoral de 2010-2011. Este conflito, que resultou em mais 3.000 mortos e deixou o país à beira de uma guerra civil, ocorreu após o principal opositor e ex-Presidente, Laurent Gbagbo, se ter recusado a aceitar a derrota eleitoral, culminando na sua captura e na da sua mulher, Simone Gbagbo.
Os principais candidatos da oposição, Laurent Gbagbo e Tidjane Thiam, foram excluídos da corrida presidencial, sendo as suas candidaturas rejeitadas pelo Conselho Constitucional. O primeiro devido a uma condenação judicial ocorrida em 2018 e o segundo por questões de nacionalidade.
Esta decisão reforça a probabilidade do actual chefe de Estado ganhar as eleições.
O Presidente marfinense, da União dos Houphouëtistas pela Democracia e a Paz (RHDP), originalmente limitado a dois mandatos, procura ser reeleito, sendo que os dois principais partidos da oposição protestam contra o quarto mandato do Chefe de Estado e consideram-o inconstitucional.
A actual lei da Costa do Marfim prevê um máximo de dois mandatos, mas o Conselho Constitucional considerou em 2020 que a adoção de uma nova Constituição quatro anos antes tinha reposto o contador dos mandatos presidenciais a zero.
Nesta eleição presidencial, o chefe de Estado enfrentará os ex-ministros Jean-Louis Billon e Ahoua Don Mello, bem como a ex-primeira-dama Simone Ehivet Gbagbo, do Movimento das Gerações Capazes (MGC), e Henriette Lagou, que também foi candidata em 2015, do partido Renovação para a Paz e a Concórdia (RPC-PAIX).
O ex-ministro do Comércio, Jean-Louis Billon, é dissidente do Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI), de Thiam, mas irá concorrer à presidência sob a bandeira de uma coligação de pequenos partidos denominada de Congresso Democrático.
Já Ahoua Don Mello é ex-membro do Partido Popular Africano - Costa do Marfim (PPA-CI), de Gbagbo, e concorre como independente sem o apoio do partido.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) enviou no inicio deste mês uma missão de observação eleitoral para a Costa do Marfim, com o objectivo de monitorizar todas as etapas do processo eleitoral.
A Agência Nacional para a Segurança dos Sistemas de Informação (ANSSI), sediada em Abidjan, Costa de Marfim, reportou campanhas de desinformação, feitas através de contas falsas com ligações ao Burkina Faso e a outras juntas militares do Sahel, destinadas a desestabilizar as instituições marfinenses e a perturbar as eleições, com táticas que incluíam a divulgação de notícias falsas, como por exemplo, a morte do Presidente ou um suposto golpe de Estado.
Em resposta a este problema, uma grande campanha publicitária, denominada de "Notícias falsas dividem, informações unem", foi veiculada nas ruas da cidade de Abidjan.
A campanha eleitoral começou a 10 de Outubro neste país com 8,7 milhões de eleitores.
Os principais partidos da oposição convocaram manifestações, exigindo diálogo político, a menos de duas semanas das eleições, sendo que os protestos causaram um morto, segundo a polícia, e três mortos, de acordo com a oposição.
Em 11 de Outubro, centenas de pessoas responderam ao apelo da oposição para marchar em Abidjan, a maior cidade do país, mas a polícia dispersou a manifestação, com recurso a gás lacrimogéneo, e deteve 237 pessoas, de acordo com o Ministério do Interior, que tinha proibido marchas e reuniões a contestar as decisões do Conselho Constitucional.
Nas eleições de 2020 foram marcadas por diversos distúrbios e confrontos, causando pelo menos 85 vítimas mortais e feridos.
O director da África Ocidental no International Crisis Group (ICG), Rinaldo Dapgne, afirmou que a situação permanece calma "comparando com o que aconteceu em 2020".
Segundo um relatório da ICG, nenhuma eleição presidencial na Costa do Marfim desde 1995 resultou numa mudança pacífica de poder.
A Costa do Marfim, com uma população com cerca de 32 milhões de habitantes, é um país importante na zona da CEDEAO, composta por 15 países, incluindo os lusófonos Cabo Verde e Guiné-Bissau.
A base da economia do país da África Ocidental é o cacau, que representa 40% da produção mundial, o maior produtor, e 14% do seu Produto Interno Bruto (PIB), e o marfim. O cultivo de palmeiras-de-dendé e seringueiras são também um dos pilares da economia marfinense.
Entre 2002 e 2007, a Costa do Marfim mergulhou numa guerra civil, sendo o conflito alimentado por divisões étnicas que opuseram o sul do país ao norte.
Inforpress/Lusa
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