
Espargos, 22 Dez (Inforpress) – A líder da bancada do PAICV na Assembleia Municipal do Sal, Estregilda Oliveira, traçou hoje um cenário “crítico” sobre a situação da ilha, acusando a autarquia de promover um modelo de governação “socialmente injusto e focado na propaganda”.
Durante uma conferência de imprensa realizada na sede do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) em Espargos, a porta-voz sublinhou que a “falta de uma visão estratégica e sustentável” tem impedido que os benefícios da centralidade económica do Sal cheguem ao quotidiano da maioria dos cidadãos, criando um contraste entre os indicadores económicos oficiais e a vulnerabilidade social vivida nas comunidades.
Estregilda Oliveira questionou abertamente o "caso de sucesso" frequentemente apresentado pela Câmara Municipal, argumentando que esse desenvolvimento não contempla os trabalhadores que enfrentam salários baixos e precariedade, nem os jovens que, por falta de oportunidades, são forçados a emigrar.
A líder partidária alertou que o município não pode continuar a camuflar problemas graves, como o aumento do consumo de drogas e da prostituição, apenas para preservar a imagem turística da ilha, uma vez que estas questões são reflexos directos da exclusão social e da ausência de programas municipais de prevenção e reintegração.
“Não se pode esconder esse buraco tão grande da pobreza e das suas vulnerabilidades, o que tem impactos negativos para moradores e visitantes e que coloca em causa o recurso que permite não só o nosso sustento, mas o do país de uma forma geral”, sublinhou.
A situação habitacional e do saneamento básico mereceu especial destaque nas críticas do PAICV, que classificou o estado actual como "vergonhoso".
“Em relação à habitação, a situação atingiu níveis inaceitáveis. Sal enfrenta um défice habitacional gritante. A especulação imobiliária avançou sem controle, o que empurrou os salenses para os bairros informais, como Terra Boa, onde tem vindo a crescer a construção de barracas, mas estão fingindo que não é nada”, continuou.
Além disso, descreveu um cenário de “saúde pública em risco”, com fossas a transbordar a céu aberto e uma gestão de resíduos sólidos “caótica”, que resulta na queima de lixo e na poluição das praias.
No que diz respeito à gestão do espaço público, a oposição apontou uma falta de controlo preocupante na praia de Santa Maria e na Pedonal Ildo Lobo, descrevendo esta última como uma "selva", onde os regulamentos aprovados não são cumpridos.
Segundo Oliveira, a economia da ilha permanece prisioneira de um modelo “exclusivamente dependente do turismo”, negligenciando pequenos comerciantes, pescadores e a diversificação económica necessária em sectores como a cultura e a inovação.
O diagnóstico final revelou um município “sufocado por dívidas avultadas e custos de funcionamento elevados”, o que, segundo o PAICV, exige uma mudança de rumo onde a governação seja feita para as famílias e não apenas baseada em “estatísticas e campanhas de imagem”.
NA/JMV
Inforpress/Fim
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