
Cidade da Praia, 04 Dez (Inforpress) - O coordenador científico da Conferência Internacional “O Concílio Vaticano II e África”, Jairzinho Pereira, alertou hoje para a grande carência de estudos sistemáticos sobre as relações entre o Concílio Vaticano II e o continente africano, sobretudo no espaço lusófono.
O teólogo falava aos jornalistas à margem da Conferência Internacional "O Concílio Vaticano II e África: Receção, Impacto e Implementação" que acontece na Praia, organizada em colaboração com a Academia Portuguesa da História e o Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra.
“A parte mais relevante a ter em consideração é, de facto, a falta de estudos que se nota em relação a este âmbito das relações entre o Concílio Vaticano II e o continente africano. Não se fez ainda nenhum estudo sistemático sobre o assunto, com exceção dos Camarões”, declarou.
“No espaço da expressão portuguesa em África não há rigorosamente nada publicado”, acrescentou, sublinhando que esta ausência de produção científica motivou, em grande parte, a realização da conferência.
Jairzinho Pereira fez saber ainda que no espaço lusófono, o único país que conta com estudos detalhados é o Brasil. No espaço da expressão portuguesa em África não há rigorosamente nada, não se sabe “muita coisa”.
No entanto, revelou que tem desenvolvido investigação sobre a participação dos bispos das então colónias portuguesas, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe – no Concílio Vaticano II, mas os resultados ainda não foram publicados, estando prevista a sua divulgação futura.
O historiador apontou também que, na fase preparatória do Concílio, os bispos das colónias portuguesas ignoraram por completo a problemática da colonização e da descolonização, apesar de o processo já estar em curso desde a década de 1950.
“As cartas enviadas para Roma em 1959 e 1960 limitaram-se a aspetos litúrgicos e disciplinares”, explicou, referindo que a posição dominante dos bispos foi, na generalidade, uma opção pelo silêncio em relação ao colonialismo.
Por isso, defendeu que a Escola Universitária Católica de Cabo Verde tem uma responsabilidade acrescida no impulso dos estudos sobre o Concílio Vaticano II, salientando que muitos dos documentos conciliares continuam ainda hoje amplamente desconhecidos no país, inclusive entre membros do clero.
“A conferência deve ser encarada como um pontapé de saída para se começar a estudar seriamente o Concílio Vaticano II em Cabo Verde, onde praticamente não existe investigação nesta área”, vincou.
A conferência, que decorre de 3 a 5 de Dezembro, reúne investigadores de várias partes do mundo, maioritariamente por via telemática.
Durante os debates já foram abordados temas como a colonização, os processos de independência, a atuação dos missionários portugueses, o papel dos bispos congoleses, sul-africanos e da Tanzânia, com enfoque particular na África subsaariana.
O balanço do encontro, segundo Jairzinho Lopes Pereira, é “muito positivo”, sendo a principal recomendação final continuar a estudar, aprofundar e investigar o legado do Concílio Vaticano II, que continua a definir as orientações doutrinárias e disciplinares da Igreja Católica.
No último dia do evento está ainda prevista uma visita à Cidade Velha e ao Campo de Concentração do Tarrafal, no âmbito da reflexão sobre a violência colonial.
TC/CP
Inforpress/Fim
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