
Sal Rei, 01 Nov (Inforpress) – A ilha da Boa Vista encerrou a temporada de desova da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) de 2025 com o registo de 62.996 ninhos de tartarugas marinhas nas áreas monitorizadas pelas três maiores ONG locais de proteção e conservação da espécie.
Apesar do volume total, que reafirma a importância da ilha como principal santuário no arquipélago, as organizações Cabo Verde Natura 2000, Bios.CV e Fundação Tartaruga classificaram 2025 como uma temporada de baixa densidade de desovas em comparação com anos recorde anteriores.
Em 2024, segundo dados divulgados pela Rede de Conservação Ambiental (Taola+), o registo foi de 75.998 ninhos.
A temporada decorreu de Junho a Outubro e contou com a mobilização de cerca de 180 colaboradores e voluntários.
A Cabo Verde Natura 2000, que monitorizou 15 quilómetros de praia, registou 43.138 ninhos e classificou a temporada como um "ano baixo de tartarugas", apesar do volume.
A Fundação Tartaruga registou 9.220 ninhos nas suas áreas de 35 quilómetros de patrulha, indicando uma redução para metade do total registado em 2024, cerca de 19 mil ninhos.
A Bios.CV, que opera em 5 quilômetros no sul da ilha, registou 10.638 ninhos, também considerando a época "mais baixa" em termos de fêmeas.
Os dados apontam uma libertação de pelo menos 45.683 tartaruguinhas para o oceano, um “sucesso vital” assegurado pelas operações de vigilância e viveiros.
As três ONG reiteraram o alerta para as ameaças persistentes que dificultam o trabalho de conservação como a caça furtiva, sendo confirmados 22 casos de caça ilegal de tartarugas fêmeas adultas nas praias de desova, 16 registados pela Cabo Verde Natura 2000 e 6 pela Fundação Tartaruga.
O turismo “ilegal e desorganizado” também foi condenado pelas organizações, que apontaram o uso de veículos nas praias de desova, apontando situações de condução sobre ninhos e rastros de tartarugas, juntamente com a iluminação artificial, a poluição luminosa de hotéis principalmente na Praia de Lacacão.
Assim como turistas “desacompanhados” continuam a ser “um desafio”, obrigando à Fundação Tartaruga a fazer a translocação de 204 ninhos para viveiros, por exemplo.
Além da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), que domina 99% das desovas, a Fundação Tartaruga registou este ano três casos esporádicos de Tartaruga-verde (Chelonia mydas).
Apesar dos resultados abaixo da média esperada pelas ONG, o balanço de mais de 62 mil ninhos demonstra a capacidade de resiliência e a necessidade contínua de proteção reforçada da Boa Vista.
MGL/JMV
Inforpress/Fim.
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