Assomada, 20 Mai (Inforpress) – As oleiras de Fonte Lima, no município de Santa Catarina, expressaram hoje a sua preocupação com a diminuição da presença de jovens na continuidade da tradição da olaria local.
O grupo, que outrora contava com mais de 20 mulheres, é actualmente composto por apenas seis idosas, o que coloca em risco a preservação desta arte ancestral.
A manifestação foi feita durante um ateliê prático de olaria, realizado na tarde de hoje, voltado tanto para os guias turísticos já formados como para os estudantes do curso de Guia e Animação Turística da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde (EHTCV).
O objectivo do evento é valorizar e divulgar a técnica tradicional da fabricação de peças de barro, como o binde, potes, pratos, entre outros, resgatando a importância e o valor cultural dessa actividade.
Maria Jesus da Veiga, conhecida como Lourinha, em representação das oleiras, destacou a preocupação com a perda da força jovem na comunidade e, consequentemente, no grupo de oleiras.
“Antes, éramos mais de 20 mulheres oleiras entre idosas e jovens, mas hoje, devido à saída de jovens que buscam outras oportunidades, restamos apenas seis, todas de idade avançada”, contou.
Aliás, reforçou que ela é uma das mais novas do grupo e que já tem 60 anos de idade e maior parte da sua vida dedicado à olaria, pois, recordou que iniciou nesta actividade por volta dos 14, acompanhando a sua mãe.
Esta é uma profissão e actividade que, segundo a porta-voz, quem a ela se dedica é movido pela paixão e amor, ressaltando que foi passada de geração em geração além de representar o sustento das famílias.
Lourinha, também recordou as dificuldades enfrentadas no passado, quando não havia espaço adequado para trabalhar e as mulheres faziam as suas peças sob chuva ou sol, às margens de mangueiras ou na ribeira.
Hoje, com uma estrutura digna, a força humana ainda é o principal factor, embora a idade e a falta de apoio de novos jovens tornem o trabalho mais árduo.
No que diz respeito à introdução de máquinas na produção, as oleiras garantem que essa tecnologia será apenas um apoio, pois as peças delicadas e de alta qualidade continuam sendo feitas manualmente, preservando a essência e o valor artístico do barro.
“As máquinas podem ajudar na agilidade, mas o que faz a diferença é o amor e a dedicação colocados na peça”, afirmou Lourinha.
Esta oleira contou que o processo de fabricação de uma peça, como o binde, envolve uma longa rotina de colecta, preparo do barro, amassamento e modelagem manual, que pode levar de uma a duas horas, dependendo da idade e resistência das oleiras.
“Já não tenho mais tanta força como antes; pilava com dois paus, e agora só consigo com um”, comentou a oleira.
Durante o evento, os estudantes do curso de Guia e Animação Turística tiveram a oportunidade de conhecer de perto o trabalho das oleiras, entendendo a complexidade e o valor cultural dessa arte.
Gilson Ramos, um dos participantes, elogiou a iniciativa e destacou a importância de preservar essa tradição.
“Foi uma experiência enriquecedora. Quando passarmos por lojas de artesanato ou acompanharmos turistas, poderemos explicar todo esse processo, valorizando ainda mais essa arte”, comentou.
Ramos reforçou a necessidade de passar essa técnica às novas gerações, alertando para o risco de perda da identidade cultural caso essa tradição desapareça, defendendo que a modernização com o uso de máquinas pode ser uma ferramenta útil, desde que não comprometa a essência artesanal e o amor depositado em cada peça.
Por sua vez, Rafael Fortes, outro participante, destacou que essas peças representam o amor e o carinho de quem as faz, além de serem uma demonstração do orgulho pelo país.
“Quando compramos uma peça de barro feita à mão, estamos valorizando a cultura local e apoiando os artesãos”, afirmou.
As oleiras de Fonte Lima reforçam o apelo para que os jovens possam se interessar pela olaria, garantindo a continuidade de uma tradição que faz parte do património cultural de Santa Catarina e de Cabo Verde como um todo.
MC/JMV
Inforpress/Fim
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