*** Por: Feliciano Monteiro, da Agência Inforpress ***
Achada Igreja, 06 Mai (Inforpress) – As artistas Ana Mileida e Milene Gomes, dos grupos Freirianas Gueirreiras e Flor de Esperança, respectivamente, vêm-se destacando no batuco, tanto pelas letras que emocionam, como pelo toque de modernidade que introduziram neste género musical cabo-verdiano.
As duas artistas do interior de Santiago, radicadas em Portugal, encontram-se em Cabo Verde para espectáculos, com destaque para o festival “Nhu Sior do Mundo 2025”, realizado a 02 de Maio, e no “Festival 13 de Maio 2025”, em Santa Catarina, aprazado para 10 de Maio.
As pessoas ouvidas pela Inforpress, à margem do festival “Nhu Sior do Mundo 2025”, consideraram-nas “grandes nomes da nova geração” e responsáveis por elevar e colocar o butuco “na moda”.
Natural de Pico Freire, no município de São Salvador do Mundo, Ana Mileida, que antes de emigrar para Portugal pertencia ao grupo Voz de Esperança, admitiu à Inforpress que o grupo que lidera deu um “toque de modernidade” ao batuco, mas sem tirar o tradicional.
“O batuco está na moda e estou orgulhosa. Acredito que este sentimento é de todas as batucadeiras, porque o batuco, nos últimos anos, tinha caído no esquecimento, mas, graças à nossa luta e desempenho de todos os grupos, o batuco já se levantou de novo e para nunca mais cair”, afirmou a artista.
Questionado se esta mistura com piano, bateria, baixo e gaita não tira a essência deste género musical património imaterial de Cabo Verde, Mileida esclareceu que o objectivo é modernizar o batuco, assim como vem acontecendo com outros ritmos a nível internacional, e não é tirar a sua essência tradicional.
“Esta mistura é um toque de actualização, mas, sem deixar morrer a parte tradicional. Continuamos a cantar de forma normal, só que demos um toquinho e acrescentamos algo diferente sem deixar perder a parte tradicional”, insistiu Mileida, considerada uma das vozes mais influentes, de momento, do batuco.
Durante a entrevista à Inforpress, admitiu que este género tem ganhado destaque fora de Cabo Verde, não só porque os grupos são melhores, mas porque ali há mais condições para se divulgar o trabalho, sobretudo, nas plataformas digitais.
Neste sentido, instou as batucadeiras em Cabo Verde a continuarem “firmes” para que juntos possam continuar a elevar o batuco a outro patamar e para que nunca mais caia no esquecimento.
“Não é mudar o batuco, é dar-lhe novo fôlego para continuar a viver nas novas gerações”, estamos a cantar a tradição da nossa terra, mas com as ferramentas do nosso tempo”,
Na mesma linha, Milene Gomes, natural de Entre Picos de Reda, Santa Catarina, acrescentou que a introdução de bateria, baixo, piano ou gaita “não tira” a essência do batuco, mas a ajuda a renascer para não morrer nem dentro e nem fora de Cabo Verde, como todos os grupos têm feito ultimamente.
É que, segundo ela, no palco continuam a ter batucadeira com o instrumento próprio e pessoas para dar “ku torno” (dança do batuco), o movimento de corpo, chamado de txabeta.
“Batuco é nossa tradição, contudo, temos de levá-lo para a modernidade. Estamos num outro tempo. Nunca fugimos da tradição da nossa terra, apenas queremos levar o batuco para a modernidade”, disse, reafirmando que o batuco de outrora não pode ser batuco de hoje.
Milene Gomes, que considera o batuco a sua “fortaleza”, realçou ainda que este “toque de modernidade”, não significa que estão a romper com o passado, mas, sim oferecendo-lhe novas possibilidades sonoras.
Nesse sentido, disse acreditar que nos próximos tempos outra geração também poderá acrescentar algo novo ao batuco, sem deixar perder a sua essência.
Em dueto, as duas artistas, cantaram, encantaram, fizeram o público dar “torno” (dança de batuco) no festival “Nhu Sior do Mundo 2025”, num repertório marcado pelos temas “Nha minino”, “Mudjer”, “Abraça nha terra”, “10 Ilhas”, “Família”, e sobretudo “Imigrason” e “Amizade na nota”, temas nomeados na categoria “Batuco do Ano” nos Cabo Verde Music Awards 2025 (CVMA).
O batuco é um género musical cabo-verdiano, tradicionalmente executado por mulheres, que se baseia na percussão, no canto e na dança.
É um património cultural de Cabo Verde, principalmente, na ilha de Santiago.
FM/HF
Inforpress/Fim
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