***Por: Marli Coutinho Mendes, da Agência Inforpress***
Assomada, 18 Dez (Inforpress) – Manuel Gonçalves, mestre do karaté com 5º Dan, compartilha a sua experiência e paixão por esta arte marcial, que considera uma das melhores ferramentas para alcançar o equilíbrio entre corpo, mente e o espírito.
Com 64 anos e uma trajectória marcada por dedicação e perseverança, Manel de Juliana como é conhecido, contou à Inforpress que é natural de São Lourenço dos Órgãos e que começou a sua jornada no karaté aos 14 anos, em 1974.
A sua trajetória inicial foi “solitária”, pois, segundo o mesmo, quem o orientava ainda não era mestre e somente em 1985, sob a tutela do sensei Santos, começou a entender a profundidade e a filosofia do karaté.
Desde então, a sua vida foi dedicada a essa prática, que ele considera não apenas um desporto, mas uma “forma de educação e desenvolvimento pessoal”.
No seu município de origem, quando começou a aprender o karaté, sempre teve a preocupação de transmitir aos seus amigos e colegas os aprendizados, pois, nem todos tinham condições para pagar o treino e em 1988, começou a dar aulas no Ministério da Educação, no Ciclo Preparatório de São Salvador do Mundo, mas não abandonou o karaté, transmitindo agora os seus ensinamentos aos salvadorenhos.
Até porque, relembra que foi em Abril deste ano que fez o 1º Dan, em 2000 foi ao Senegal onde fez o 2º Dan com o Sensei Fernando Nunes e também foi ali e com este sensei que fez o 3º Dan e somente o 4º Dan foi feito em Cabo Verde com a criação da Federação Cabo-verdiana do Karaté.
Em 2000, Manel contou que se estabeleceu em Santa Catarina, e em 2001 abriu o seu próprio espaço de treinamento, atraindo alunos de diversas idades e actualmente treina crianças a partir dos cinco anos, “promovendo um ambiente de aprendizado que vai além das técnicas de combate”.
“Ver os meus alunos terem sucesso é uma satisfação indescritível”, afirma Manel, que, apesar de nunca ter participado de competições, viu a sua escola se destacar em competições regionais e nacionais, com os alunos a conquistarem títulos em kata e kumité, e muitos deles até já abriram as suas próprias escolas.
Numa época em que se fala muito sobre a juventude estar “perdida”, Manel acredita que o desporto em si e karaté, principalmente “une as pessoas, promovendo valores como amor e solidariedade”.
Pois, para ele, o desporto é um compromisso que mantém os jovens afastados de comportamentos autodestrutivos, como o consumo de álcool e drogas.
“O karaté ensina a ser uma pessoa melhor, equilibrando mente, corpo e espírito”, explica.
O mestre também enfatiza que o karaté é uma jornada de aprendizado, onde o aluno começa com exercícios físicos em grupo, mas a parte técnica é ensinada individualmente, passo a passo, comparando-a com o desenvolvimento da criança que nasce, gatinha…
Através do kata e do kumité, continuou, os alunos aprendem a se defender e o “mais importante, a controlar as suas emoções”.
“Nunca briguei ou discuti com ninguém desde que comecei a treinar. O karaté é uma forma de disciplina”, assevera.
No ano em que Cabo Verde declarou o ano 2024 como sendo o Ano da Saúde Mental, este sensei destaca que o karaté pode ser uma terapia poderosa, relembrando que ele mesmo era uma criança rebelde e agressiva, mas encontrou no karaté o seu caminho e a sua salvação.
“O que sou hoje é graças ao karaté”, diz, reflectindo a transformação que viveu.
Apesar de satisfeito com a sua trajectória, Manel lamenta a “falta de organização” no karaté em Cabo Verde, que acredita estar prejudicando o desenvolvimento da modalidade no país.
Ele critica os processos de graduação que “não respeitam a necessidade de aprendizado contínuo” e acredita que a formação dos instrutores precisa ser aprimorada para garantir a qualidade do ensino.
Recentemente, Manel obteve o seu 5º Dan num exame na Itália, onde teve a oportunidade de aprender com o sensei Tanaka do Japão vários conhecimentos, principalmente uma nova perspectiva de humildade e pedagogia de ensino.
Com a aposentadoria da carreira de professor, Manuel Gonçalves agora dedica a sua vida ao karaté, acreditando que o seu trabalho pode mudar vidas.
MC/JMV
Inforpress/Fim
Partilhar