1.º de Maio deve homenagear também aqueles que deram a vida na defesa de um “trabalho mais justo” – líder da UNTC-CS

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1.º de Maio deve homenagear também aqueles que deram a vida na defesa de um “trabalho mais justo” – líder da UNTC-CS
01/05/25 - 02:17 am

***Por Luís Carvalho, da Inforpress***

Cidade da Praia, 01 Mai (Inforpress) – A secretária-geral (SG) da UNTC-CS disse hoje que o 1.º de Maio é uma data que deve homenagear aqueles que ao longo dos tempos deram a vida na defesa de um “trabalho mais justo e com direitos”.

“Lembramos ainda que este dia nos inspira a continuar a exigir o respeito, a valorização para as melhores condições de vida para todos os trabalhadores cabo-verdianos”, afirmou Joaquina Almeida.

A SG da maior central sindical cabo-verdiana fez essas considerações ao ser abordada pela Inforpress sobre a importância de que se reveste o 1.º de Maio na vida dos trabalhadores cabo-verdianos.

Acrescentou que em Cabo Verde que os trabalhadores festejam esta data “consciente dos desafios” que tem diariamente.

“Este dia [1.º de Maio] nos inspira a continuar a exigir o respeito, a valorização para as melhores condições de vida para todos os trabalhadores cabo-verdianos”, pontuou a líder da UNTC-CS, para quem ainda não se chegou a um “patamar de um salário digno”.

Na sua perspectiva, na ausência de um salário digno “muitos trabalhadores jovens e, não só, estão a deixar o país” à procura na emigração o que Cabo Verde não lhes está a dar.

“A maioria da população cabo-verdiana vive na diáspora, mas mesmo assim, continuamos a sair à procura de um salário digno, vital e melhores condições de vida”, realçou a sindicalista.

Instada se esta saída em massa dos jovens tem prejudicado o País, em termos de mão-de-obra, respondeu que sim.

“Claro que tem prejudicado e de que maneira. Basta termos em atenção o anúncio do senhor ministro do Trabalho, que, como consequência da saída em massa dos trabalhadores e não só, agora fala de possível recrutamento de mão-de-obra estrangeira”, lamentou, acrescentando que se está a falar da mão-de-obra da costa da África para a construção civil e agricultura.

Joaquina Almeida defende que em Cabo Verde “não existem condições para receber esta mão-de-obra estrangeira”.

“Será que o Governo já fez algo em termos habitacionais? Como é que essa gente vai viver?” pergunta a SG da UNTC-CS, para depois questionar se aquelas pessoas vão viver nas barracas.

Para ela, a parte “melhor do anúncio do Governo” é que se vai abrir a fronteira para “melhor mobilidade, o que já deveria existir entre os países da CEDEAO [Comunidade Económica dos Países da África Ocidental]”.

“Penso que com este anúncio, doravante, os cidadãos da CEDEAO não vão ser deportados, como tem vindo a acontecer ao longo dos tempos”, espera Joaquim Almeida.

“Estou ciente de que os trabalhadores da costa africana virão, claro, para fugir da guerra e de outros abusos nos seus países de origem e, depois de conseguirem o cartão de residência e a cidadania cabo-verdiana, rumam para a Europa ou América”, apontou, concluindo que, seguramente, “estes cidadãos não vão ficar aqui”.

Justifica a sua posição, alegando que Cabo Verde “não tem condições para oferecer aos referidos cidadãos, nem em termos salariais nem no que concerne à habitação.

Mostrou-se, por outro lado, contra a discriminação que diz serem vítimas os cidadãos africanos, quando pretendem entrar no País.

“Exige-se de um cidadão africano mil euros em dinheiro e reserva do hotel, mas a um cidadão europeu não se exige nada disso”, deplorou a SG da UNTC-CS, ajuntando que esta é uma “situação triste”, apesar de Cabo Verde ser um país membro da CEDEAO.

A contratação da mão-de-obra da costa africana é, segundo Joaquina Almeida, uma “medida paliativa”, porque os governantes sabem que essas pessoas não vão ficar no País.

“Se não conseguirmos oferecer condições aos nossos cidadãos para os impedir de abandonarem o País, como vamos oferecer o que não temos”, indaga Joaquina Almeida.

Este ano, a maior central sindical cabo-verdiana comemora 47 anos de existência. Por isso, a sua líder lamenta que não tenha sido convidada para as comemorações dos 50 anos da independência nacional.

Lembra que o núcleo que veio a dar lugar à UNTC-CS surgiu em 1974.

“Não entramos na política partidária, sabemos o nosso papel, que é um papel restrito aos trabalhadores, a defesa dos seus direitos e interesses, mas gostaríamos, é claro, de poder participar [nas comemorações dos 50 anos da independência nacional]”, sublinhou Joaquina Almeida.

Aproveitou a oportunidade para convidar todos os trabalhadores, não só, para a Feira de Saúde para assinalar o 1.º de Maio, que a UNTC-CS realiza na Rua Pedonal, Cidade da Praia, com uma tenda de saúde, onde, além de exercícios físicos ao ar livre, vai haver uma tenda jurídica em que os trabalhadores possam ter alguma orientação.

“É hora de olharmos para o futuro com coragem, com visão e, acima de tudo, com respeito pelos trabalhadores que movem este país dia a dia”, concluiu a SG da UNTC-CS.

A Inforpress tentou falar também com a Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres (CCSL) sobre as comemorações do Dia dos Trabalhadores, 1.º de Maio, mas sem sucesso.

LC/ZS

Inforpress/Fim

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