Mindelo, 18 Out (Inforpress) - Várias pessoas, alegadamente burladas pela cidadã Janine Santos Sousa e que até agora não recuperaram bens e valores subtraídos, pedem justiça para que esta possa “pagar pelos seus crimes” e não continuar “livre e solta”.
Nakita Pereira, 37 anos, foi uma das primeiras a falar com a Inforpress e disse ter sido burlada pela jovem Janine Santos Sousa mesmo quando mantinham uma relação de amizade de mais de dez anos.
Como contou, o comportamento da sua suposta amiga começou a lhe causar estranheza quando, em 2023, esta fez um telefonema a pedir se poderia ficar em sua casa, na zona da Ribeira Bote, em São Vicente, depois de ter estado alguns anos a viver na cidade da Praia.
“Até aí tudo bem, mas o que me espantou é que ela chegou somente com a roupa do corpo e disse que veio de avião, mas enviou todos os seus outros pertences de barco”, explicou Nakita Pereira, que mesmo assim a acolheu ainda por uns dias.
Entretanto, ajuntou, a amizade começaria a desandar quando a suposta burlona deu conta que Nakita tinha alguns produtos enviados pela sua irmã dos Estados Unidos da América (EUA) para venda e se ofereceu para os comercializar, “já que tinha mais jeito” para tal.
Na “confiança tomou mais de 80 mil escudos” em produtos que nunca mais foram devolvidos, apesar de várias insistências.
“Nunca mais vi a cor desse dinheiro e nem os produtos restantes. Depois vim trabalhar na ilha da Boa Vista e ela continuou a fazer promessas de que me pagaria a dívida, mas não aconteceu, pelo contrário, cheguei a receber dela comprovativo de depósito falso”, denunciou.
Outras das supostas vítimas é Alcindo Jesus Maurício, também conhecido por Tchindin, emigrante na Holanda, que contou ter sido abordado pela mesma pessoa, em Fonte Inês, onde tem um prédio e reside, e ainda com apartamentos que pretendia vender.
“Mas acabei por ceder à lábia de Janine quando ela me pediu encarecidamente para lhe alugar o espaço para viver com o namorado, e justificou que iria pagar sem problemas porque trabalhava por conta própria, fazendo massagens, e que o namorado trabalhava no Tribunal”, detalhou a fonte.
Para o convencer, pediu a Tchindin o seu número de conta para pagar imediatamente 50 mil escudos, 25 mil como o acordado para o arrendamento mensal e outros 25 de caução.
A mesma fonte admitiu ter sido “coberto por uma manta” pela jovem de 28 anos, ao ponto de lhe fornecer água e luz, porque a casa ainda não dispunha de contadores, e ainda lhe confiou uma “boa quantidade” de produtos cosméticos que trouxe do estrangeiro para comercializar.
“No primeiro mês foi tudo muito bem, até que ela começou a não cumprir o pagamento da renda e nem dos produtos que deveria me pagar logo no dia seguinte e sempre me dava desculpas com a boca muito doce”, relatou Tchindin, que se sente “bem lesado”, não só pela parte monetária, mas também pela confiança depositada.
Assim como Tchindin, Earlene Santos, também conhecida por Lenny, e Clemente Cruz também dizem ter sido enganados, mas agora com outro ‘modus operandi’, com a suposta burladora a assumir o papel de agente imobiliária.
No caso de Lenny disse que foi contactada logo após deixar nas redes sociais um anúncio em que procurava alugar uma casa já mobiliada para ela, o marido e o filho, que vinham dos Estados Unidos, para viver em São Vicente.
Segundo a jovem, de 26 anos, foi convencida com fotografias dos apartamentos para escolher e assinaram contrato para um, cujo arrendamento ficaria por 60 mil escudos, juntamente com uma caução do mesmo montante, que incluía no pacote água, electricidade e Internet.
“No dia que ela deveria nos levar para o apartamento, já no carro, ela desviou-se do caminho, alegando que naquele primeiro não seria possível, e nos levou para um outro, mas garantiu que continuaria o mesmo contrato”.
Segundo a mesma fonte, “a ficha cairia” após 15 dias quando receberam a visita do tio da dona do apartamento e que afirmou que até agora não tinham pago a renda de casa.
Lenny disse ter confrontado Janine mesmo na presença daquele senhor e esta mentiu e até apresentou, também desta vez, comprovativo falso de depósito.
Desde então tem tentando recuperar o seu prejuízo, até conseguiu reaver parte pagos pela mãe de Janine, que também vive em EUA, mas ainda tem um montante de mais de 100 contos em dívida, já que teve de pagar a renda de novo, e ainda a electricidade, água e a Internet ficaram também por sua conta.
Clemente Cruz, por seu lado, emigrante também na Holanda, é dono de um apartamento, em Cruz João Évora, tendo Janine Sousa servido de intermediária para o alugar, contudo recebeu pagamento da renda, mas nunca o reenviou.
Mais ainda, o emigrante deu-lhe alguns produtos para vender no valor de 59 mil escudos, após várias tentativas conseguiu reaver 30 mil escudos destes e ainda tem em dívida 20 mil.
Todos estes interlocutores da Inforpress asseguram que o número de vítimas de Janine Sousa já ultrapassa três dezenas, não só em São Vicente, mas também no Sal, cidade da Praia e emigrantes no estrangeiro.
Além de pessoas individuais, as supostas burlas envolvem inclusive a empresa de vendas de automóveis Multimarcas, sediada na cidade da Praia, onde Janine já foi funcionária, que colocou na sua página oficial nas redes sociais um aviso a alertar os clientes que “Janine Helena Santos Sousa burlou uma cliente em seu nome pessoal mesmo depois de não fazer parte da empresa”.
Conforme fontes da Inforpress, nesse caso o valor ultrapassa um milhão de escudos burlados à uma emigrante.
Contactada pela Inforpress, a assessoria da empresa confirmou o acontecido e assegurou que já foi accionado o poder judicial, num processo movido em que é acusada de usar o nome e ainda uniforme da empresa indevidamente.
Quantos aos casos pessoais, os entrevistados da Inforpress confirmam ter apresentado queixa na Polícia Judiciária (PJ), onde foi-lhes informado que esta “já é conhecida e com uma lista bem longa” de ocorrências.
Entretanto, a Inforpress tentou saber mais detalhes junto do director da PJ, em São Vicente, mas este, apesar de não negar os factos, afirmou não ter autorização para dar informações sobre casos sob investigação.
“Mas, se já são do conhecimento das autoridades tantos casos, porque até agora ela não foi detida”, questionou a alegada lesada Lenny, que pede justiça para que Janine Sousa “pague pelos seus crimes e não continue livre e solta”.
Tchindin vai na mesma linha e disse ser preciso que as autoridades façam alguma coisa para parar a jovem porque ela “já fez coisas demais em Cabo Verde e se a Justiça não agir ela vai continuar”.
Sustentou que tal como Lenny tem tido informações de que a suposta burlona pretende fugir do país.
A Inforpress contactou Janine Sousa para ouvir a sua versão sobre estes relatos, contudo, após algumas chamadas não atendidas, retornou o contacto e até marcou um encontro com a jornalista, que deveria acontecer na última terça-feira, 15, no Mercado da Ribeirinha, onde afirmou ter venda montada.
Mas, momentos antes da entrevista, alegou, via Whatsapp, que se lembrara que tinha uma consulta marcada, por isso desmontou a venda e prometeu entrar em contacto para o encontro no dia seguinte.
Mas desde então não atende a chamadas telefónicas, e nem responde a chamadas e mensagens via Whatsapp.
LN/CP
Inforpress/Fim
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