São Vicente/PERFIL: Kiki, jovem com Síndrome de Down que trabalha com crianças e tem como maior sonho ser professora (c/áudio)

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São Vicente/PERFIL: Kiki, jovem com Síndrome de Down que trabalha com crianças e tem como maior sonho ser professora (c/áudio)
08/03/24 - 01:41 am

*** Por Letícia Neves, da Agência Inforpress***
Mindelo, 08 Mar (Inforpress) – Portadora de Síndrome de Down, Cristina Alhinho, que gosta mais de ser chamada de Kiki, não se deixou definir pela doença, tanto que trabalha como assistente de monitoras em jardim de infância e quer ser professora.

Numa conversa descontraída com a Inforpress a propósito do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, a timidez de Kiki, 30 anos, começou a desaparecer ao falar do seu trabalho, no Jardim de Infância Flores de Santo António, em Chã de Alecrim.

Contou que, na verdade, a oportunidade apareceu por ser uma das meninas a frequentar o Centro Santa Clara, instituição voltada para o acolhimento de meninas com Síndrome de Down, situada na mesma zona a norte de São Vicente e igualmente pertencente a congregação religiosa Irmãos Capuchinhos.

Entretanto, o centro, como tantos outros estabelecimentos, foi encerrado durante a pandemia da covid-19 e depois ficaram à espera da construção de um edifício de raiz, onde só recomeçou o funcionamento no dia 04 de Março último.

Com um período largo de tempo somente em casa e já se sentindo “entediada”, kiki tomou a iniciativa de pedir à responsável do jardim para trabalhar ali.

“Primeiro pedi autorização à tia Djena para ir trabalhar no jardim e ela pensou que estivesse a brincar, mas, disse-lhe que estava a falar mesmo a sério”, explicou, adiantando que o seu pedido passou também por concertações entre o seu pai e o padre Bernardino, e a 15 de Abril de 2023, data que sabe dizer com precisão, tornou-se assistente de monitoras nas duas salas de creche.

De segunda a sexta-feira, ajuda então a cuidar de crianças dos zero ao 03 anos, que auxilia, por exemplo, na alimentação e idas à casas de banho, algo que adorar fazer, mas, quer trabalhar também com as monitoras de crianças maiores e um dia concretizar o sonho de ser professora, porque, como ressaltou, gosta de ensinar aos outros.

E também cultiva esse espírito de educadora no Centro Santa Clara, onde aprendeu a fazer bordados, costuras e a ajudar as colegas que a fazem “sentir-se bem e muito acolhida”, tanto que não se sente cansada por partilhar o seu tempo com o trabalho no jardim, de manhã, e de tarde fazer “várias coisas” na instituição.

Mas, como menina-mulher que não para de sonhar, gostaria também de ser cantora, assim como a conhecida Teté Alhinho, sua tia e irmã do pai, e assim como a prima Sara Alhinho.

“Adoro cantar e gosto mais de música de Cabo Verde, principalmente morna. Gosto de ouvir Cesária Évora e Bana, mas, nenhum deles são meus cantores preferidos”, assumiu Kiki, que, simultaneamente também quer ser cozinheira e aprender a fazer o seu prato preferido, bacalhau.

Mas, enquanto estes sonhos não realizam, guarda o desejo de nunca se separar dos pais, porque como disse separação a deixa “muito triste”.

Questionada se já sofreu por alguma separação, Kiki fala de um colega de escola, com quem estudou da primeira à sexta classe e que viajou para o estrangeiro e de quem até hoje não tem notícias.

Desabafou que o seu maior medo é que este tenha sido morto nalguma guerra, “coisa muito má” que gostaria que acabasse no mundo, para “felicidade de todos”.

O Dia Internacional da Mulher, celebrado, anualmente, a 08 de Março, teve as suas sementes em 1908, quando 15 mil mulheres marcharam pela cidade de Nova York, Estados Unidos da América, exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto. Um ano depois, o Partido Socialista da América declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres.

A proposta de tornar a data internacional veio de Clara Zetkin, activista, comunista e defensora dos direitos das mulheres, que fez a proposta em 1910 durante uma Conferência Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, Dinamarca, com a participação de 100 mulheres, de 17 países.

A data foi celebrada pela primeira vez em 1911, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, mas o Dia Internacional das Mulheres só foi oficializado em 1975, quando a Organização da Nações Unidas (ONU) começou a comemorar a data.

LN/JMV
Inforpress/Fim
 

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