Ponta do Sol, 07 Out (Inforpress) – A presidente da Projeto de Preservação da Herança Judaica em Cabo Verde (CVJHP), Carol Castiel, expressou a sua “revolta” com a degradação do cemitério judaico na Ponta do Sol.
A mesma fonte assinalou que tal situação “ameaça a memória dos antepassados e desrespeita" seu estatuto de Património Nacional.
A Inforpress esteve no local e constatou que o cemitério judaico na Ponta do Sol, que preserva a memória dos antepassados, enfrenta uma situação em que materiais de construção e lixo cercam o espaço, os muros necessitam de camadas de cal e o portão e as placas estão completamente enferrujados.
Carol Castiel expressou sua “profunda preocupação” com a degradação e ressaltou a indignação diante do “desrespeito” por um património classificado como "Nacional, Cultural e Histórico", em 2017, pelo Governo.
“Estamos alarmados com esta situação, uma vez que o CVJHP financiou todos os trabalhos de reabilitação dos dois cemitérios judaicos em Santo Antão, com o apoio de nossos parceiros internacionais, como o Rei Mohammed VI de Marrocos”, afirmou.
Segundo a mesma fonte, a situação actual é um desdobramento “decepcionante que profana” a memória dos antepassados ali enterrados.
Carol Castiel destacou a contradição entre a realidade vivida pelos cemitérios e a imagem que Santo Antão projeta como uma ilha orgulhosa da sua herança judaica.
“Falar em turismo sustentável, montanha, natureza e turismo religioso enquanto se desrespeita um património nacional é incoerente”, comentou.
Desde Março, Carol Castiel afirmou que as autoridades locais prometeram remover os detritos ao redor do cemitério, mas até agora não houve progresso.
“Pedimos que as autoridades cumpram as leis e respeitem os vestígios preciosos dos judeus marroquinos de Santo Antão”, solicitou.
Por sua vez, o ponto focal da Associação Jewish Heritage Project, Francisco Dias, relembrou que os cemitérios judeus do concelho da Ribeira Grande foram requalificados no âmbito de um protocolo entre a câmara municipal e a Associação Jewish Heritage Project, em que as cláusulas principais visavam a manutenção dos cemitérios judeus da Penha de França e da Ponta do Sol.
Na altura, antes da sua reabilitação, a mesma fonte afirmou que os mesmos se encontravam num estado “bastante degradado”.
“Foi feita a reabilitação dos dois cemitérios, com colocação de placas de identificação, todos os túmulos passaram por um estudo sobre os covados e os nomes das famílias que lá estão sepultadas”, precisou a mesma fonte.
Em Penha de França, segundo Francisco Dias, mudou-se a estrutura da entrada e das portas, enquanto na Ponta do Sol criaram um espaço mais voltado para a visita turística.
“O objetivo principal era, de facto, garantir a manutenção, uma vez que estávamos num processo, juntamente com o Governo, de requalificação dos cemitérios e de os classificar como património nacional”, afirmou.
O processo, conforme referiu Francisco Dias, começou em 2017 e, desde 2020, através de uma lei que foi promulgada, esses cemitérios foram classificados como património nacional.
“Como património nacional, têm de obedecer a certas regras de manutenção. Enquanto estive na câmara, até 2020 fizemos a manutenção dos cemitérios. Entretanto, nós saímos, deixando todo o processo delineado. Infelizmente, actualmente deparamo-nos com lixo, nomeadamente entulho de construção, ao lado do cemitério de Ponta do Sol”, salientou.
Francisco Dias avançou que fizeram uma reunião, no mês de Maio, com o vereador Rui Costa e o arquiteto Nivaldo em que tentaram mobilizar parcerias entre a câmara e a associação para realizar a limpeza do local, visto que se trata de um património nacional.
A mesma fonte afirmou que é preciso um esforço da associação, da câmara municipal e do Ministério da Cultura para preservar aquele património que foi elevado à categoria de património nacional.
“Existem regras para aquilo que é património classificado, regras que devem ser seguidas tanto pelas autoridades municipais como nacionais”, enfatizou.
Contactado pela Inforpress, o vereador do Saneamento, Rui Costa, esclareceu que houve um encontro com a presidente do Projeto de Preservação da Herança Judaica em Cabo Verde (CVJHP), Carol Castiel, e ficou acordada a elaboração de um orçamento coparticipado para a introdução de melhorias no cemitério.
No entanto, até ao momento, não teve conhecimento em que pé se encontra o tal projeto.
Quanto aos restos de material de construção que se encontram junto ao cemitério, Rui Costa disse que a autarquia fez uma limpeza do local, mas, infelizmente, vincou, devido a algumas construções nas proximidades, materiais de construção foram novamente despejados ao lado do cemitério.
"Estamos comprometidos em encontrar soluções e em manter um diálogo aberto com a comunidade e os responsáveis pelas obras nas proximidades para evitar que esse problema persista", finalizou.
A presença dos judeus em Santo Antão remonta ao século XV, quando muitos buscavam refúgio em terras que ofereciam a promessa de liberdade religiosa.
Ao longo dos anos, essa comunidade desempenhou um papel significativo na formação da identidade cultural de Santo Antão, contribuindo para o seu desenvolvimento económico e social.
LFS/AA
Inforpress/Fim
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