Tarrafal, 10 Mai (Inforpress) – A presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) considerou hoje que conseguiram alcançar os objectivos traçados para o Simpósio Internacional que decorreu durante dois dias no Campo de Concentração do Tarrafal.
Ana Samira Baessa, que fez estas considerações no discurso do encerramento do Simpósio Internacional “Memórias e diálogos de resistência em Tarrafal de Santiago”, relembrou que as actividades iniciaram no passado dia 25 de Abril e culminaram hoje, 10 de Maio, com uma programação vasta e que envolveu diferentes instituições e entidades.
Tendo em conta o envolvimento e a programação, esta responsável considerou que o balanço é positivo, explicando que o conceito deste programa foi de promover uma celebração diferente, trazer alguma inovação porque a data e a memória do Tarrafal assim o exigem.
“Estamos perante um facto que mexe com as nossas emoções e abre-nos os horizontes para fazermos esta celebração com dignidade, honrando as memórias de todos quanto foram aqui aprisionados e de todas as famílias que sofreram com estas tragédias”, disse, justificando a amplitude do programa.
Ana Samira Baessa sublinhou que, nesta programação, foram promovidas reflexões entre gerações e entre os actores dessa história do Tarrafal, neste caso, os antigos presos e familiares, estudantes e investigadores, quebrando assim a tradição das actividades científicas em que participam académicos, cientistas e investigadores.
“Quisemos uma celebração que, evidenciando o valor histórico, cultural e patrimonial do campo, pudesse trazer também outras vertentes da resistência, ou seja, uma resistência mais passiva, suportada no poder das artes, nomeadamente a música, as danças, as artes cénicas, a literatura, enquanto armas contra o silêncio, contra a opressão e contra a ditadura” ressaltou.
Por seu turno, em representação da Câmara Municipal do Tarrafal, o vereador Arnaldo Andrade, na sua intervenção, considerou que estes dois dias foram “muito produtivos”, tendo em conta a “grande variedade de comunicações e de perspectivas que enriquecem e contribuiram para aquilo que é foi o desígnio das comemorações”.
Tendo em conta a história do Tarrafal e do Campo de Concentração, Arnaldo Andrade evidenciou que existem dois grandes desafios que passam por voltar para o mundo e ao reconhecimento do mundo deste património de muito significado.
Significado este que, conforme explicou, não é porque foi um Campo de Concentração que não teve fornos crematórios, mas sim, porque foi um campo de concentração que serviu para concentrar presos considerados perigosos em outras prisões e tinham de vir para um sítio com estas características, “isolado, distante, inóspito, duro, especial, de castigo e onde a morte não era rápida, era lenta”.
Ainda, dentro dos desafios, disse que é preciso fazer com que os tarrafalenses deixem de sentir e carregar o estigma, e isso, só é possível de fazer “se esta comunidade se apropriar, se tiver os instrumentos, os dados, as informações, para se apropriar da história do campo e saber que o campo tem um lado positivo, que é a história de gente que contribuiu para que a liberdade fosse possível”.
Já a representante do Instituto Camões, Andreia Falcão, reforçou o compromisso de se envolver no projecto para conseguirem juntos os objectivos traçados, aproveitando para “elogiar” o Simpósio Internacional que envolveu diversos momentos de reflexão e de partilha, considerando que foi um evento “carregado de um enorme simbolismo”.
A representante do Instituto Camões assinalou ainda que estas comemorações foram mais do que um evento académico ou cultural, mas sim um acto de justiça, um confronto com a história comum e um tributo à resiliência do espírito humano.
A cerimónia de encerramento contou com a presença do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente.
Para encerrar as comemorações dos 50 anos de 25 de Abril e 50 anos do encerramento do Campo de Concentração de Tarrafal (1974-2024) está a decorrer o Festival de Resistência – Do Eco à Música, com a actuação de artistas cabo-verdianos, portugueses, angolanos e bissau-guineenses como: Batchart, Princezito e Batucadeiras, Susete e Venancinho, Fattú Djakitté, Vacine Rosa, Tabanka, Ary Kueka, Mário Gamboa e A Garota Não.
MC/HF
Inforpress/Fim
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