*** Por Lucilene Salomão, da Agência Inforpress ***
Ribeira Grande, 27 Mar (Inforpress) - Manuel Rodrigues, conhecido como Naiss Pritim, é uma figura reconhecida no teatro da Ribeira Grande, Santo Antão, com trajetória marcada por "dedicação e paixão", mas também por uma "luta constante" para que o teatro seja valorizado no concelho.
Em declarações à Inforpress, Naiss Pritim contou que, desde muito jovem, trabalha para que o teatro ganhe o reconhecimento que merece no concelho, e embora tenha alcançado feitos importantes,ainda enfrenta barreiras que dificultam o avanço da cultura teatral na região.
A paixão de Naiss pelo teatro começou ainda na infância, durante a segunda classe, quando teve o primeiro contacto com a dramatização.
“Desde muito novo, tenho vindo a fazer algo na área da cultura e o meu sonho era gravar a peça que fiz ainda na segunda classe, que retratava o quotidiano”, relembrou.
Em 2016, Naiss Pritim disse que teve a oportunidade de se inscrever num curso de teatro ministrado na comunidade de Pinhão.
Ao concluir a formação, ele e os seus colegas de turma apresentaram uma peça que abordava os grandes problemas sociais da actualidade como droga, prostituição, famílias destruídas e violência baseada no género.
“A peça tinha como objectivo chamar a atenção da sociedade para o quanto esses males sociais estão a destruir a nossa comunidade. O teatro muda o mundo e o nosso comportamento, mas é preciso fazê-lo com responsabilidade e seriedade”, explicou.
Em 2017, segundo a mesma fonte, concretizou o sonho de gravar uma peça que retratava o quotidiano em Ponta do Sol.
A experiência reforçou em Naiss a certeza de que o teatro é uma "poderosa ferramenta" para sensibilizar e transformar as pessoas.
No entanto, a sua luta pela valorização do teatro no concelho de Ribeira Grande não tem sido fácil.
“Aqui, as coisas são dificultadas em todos os sentidos. Temos que correr atrás de patrocínios, e muitas vezes, os apoios não chegam”, lamentou.
Actualmente, Naiss Pritim trabalha com vários grupos informais de teatro, mas sente que o potencial da arte ainda não foi explorado na sua totalidade.
“O teatro poderia estar mais em evidência aqui no concelho, mas as pessoas não acreditam ou não valorizam. Não conseguimos dar outros passos, e isso é um grande desafio. É como se estivéssemos a lidar com um analfabetismo de retorno. Temos muitas formações, mas elas acabam por não ter continuidade, pois não conseguimos levar adiante os projetos”, desabafou.
A falta de incentivos e o apoio institucional limitado são, segundo Naiss Pritim, "obstáculos constantes” para o desenvolvimento do teatro no concelho.
O agente cultural também mencionou que, frequentemente, “até mesmo os políticos”, a quem cabe fomentar a cultura, “se mostram distantes” quando se trata de apoiar projectos de teatro.
“Às vezes, vejo actores políticos que se escondem quando vamos pedir apoio. Isso é triste. Temos discursos bonitos, mas na prática nada se faz. Estamos no mês do teatro, e nada se vê nas ruas. Mesmo nas escolas, onde o teatro poderia ser mais presente, não há iniciativas”, frisou.
O papel do teatro na educação é outra questão que Naiss Pritim defendeu com veemência.
Para ele, é um mito que o teatro prejudique o estudo, pelo contrário, assinalou, a arte pode ser uma “poderosa” aliada na motivação dos alunos.
“O teatro ajuda, sim, os alunos a estudar. Temos exemplos concretos de alunos que, antes desmotivados, começaram a se interessar mais pela escola depois de se envolverem com o teatro”, salientou.
Entretanto, conforme Naiss Pritim, a falta de recursos e apoio para levar adiante as suas iniciativas é um fator desmotivador.
“Tínhamos um espaço onde fazíamos os ensaios, mas com as obras de requalificação, já nem sei se vamos ter esse espaço de volta. O mais difícil é ver que, muitas vezes, os esforços não se traduzem em resultados concretos”, afirmou.
Apesar de todos os desafios, Naiss Pritim enfatizou que continua “firme” no seu sonho de dar o devido valor ao teatro no concelho de Ribeira Grande e apelou para que as pessoas valorizem o teatro e entendam o seu potencial.
É que, segundo a mesma fonte, o teatro pode transformar vidas, mas para isso, é necessário que todos, incluindo as instituições, se envolvam e apoiem.
“Caso contrário, corremos o risco de deixar que essa arte maravilhosa se apague aos poucos”, disse.
O Dia Mundial do Teatro é celebrado no dia 27 de Março.
Foi criado pelo Instituto Internacional do Teatro em 1961.
A primeira mensagem internacional do Dia Mundial do Teatro foi escrita por Jean Cocteau, na França, em 1962.
LFS/AA
Inforpress/Fim
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