Dia Mundial da Rádio: Superando desafios e tocando vidas – as histórias de Teresa Pinto e Arilizia Rodrigues

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Dia Mundial da Rádio: Superando desafios e tocando vidas – as histórias de Teresa Pinto e Arilizia Rodrigues
13/02/25 - 11:46 am

*** Por Lucilene Fernandes Salomão, da Agência Inforpress ***

Ribeira Grande, 13 Fev (Inforpress) – Neste Dia Mundial da Rádio, é impossível não celebrar o impacto deste meio de comunicação que, por vezes, mais do que informar, toca e transforma, e em Santo Antão, duas jovens jornalistas são um exemplo disso.

Teresa Pinto e Arilizia Rodrigues são duas jovens jornalistas da Radiotelevisão Cabo-verdiana (RTC), cujas vozes ecoam em diversos programas daquela estação. As suas trajectórias são marcadas pela “superação, desafios” e por uma “incansável” busca pela evolução, tanto pessoal quanto profissional.

A paixão pela profissão e o compromisso com o jornalismo de qualidade, segundo ambas, são os pilares que sustentam os seus trabalhos, fazendo delas referências no cenário da rádio.

Para Teresa Pinto, a rádio é um “amor” que nasceu na infância. Crescida num recanto isolado em Ribeira das Patas, Santo Antão, onde a electricidade e a Internet eram luxos distantes, a rádio foi a sua janela para o mundo.

“Sempre gostei de ouvir as pessoas a falar na rádio e ficava imaginando como seriam”, recordou.

Aos 12 anos, Teresa Pinto teve a oportunidade de conhecer um estúdio, após uma visita à Rádio Nova, em São Vicente. Esse momento, segundo a mesma fonte, selou o seu destino no jornalismo. Foi entrevistada e a paixão por aquele universo foi “instantânea”.

“Decidi naquele dia que queria ser jornalista, porque me apaixonei por este universo da comunicação”, afirma.

Após concluir a faculdade de jornalismo, Teresa Pinto enfrentou o maior desafio da sua carreira, a timidez em relação à sua própria voz. Embora apaixonada pela rádio, hesitava em trabalhar na área, pois acreditava que a sua voz não era “adequada”.

“A imprensa escrita era a minha primeira opção, mas, como muitas vezes acontece na vida, o destino de forma inesperada empurrou-me para a rádio, quando venci um concurso público para ser correspondente da RTC em Santo Antão”, recordou.

“O desafio era grande, especialmente porque nunca tinha tido contacto com o desporto. Quando estava na faculdade, sempre fugia das notícias desportivas. Como correspondente, tinha de entrar aos fins de semana, directamente, no programa Tarde Desportiva, e tive que me reinventar”, explicou.

Sem experiência em reportagens de desporto, Teresa Pinto disse que teve de pesquisar, ouvir especialistas e até se expor a novas formas de aprendizado.

“Entrei na rádio praticamente como um peixe fora d'água, mas foi esse desafio que me ajudou a crescer, mesmo com erros pelo caminho. Hoje, já consigo fazer um directo de forma tranquila, apesar dos erros. E, claro, continuo a aprender todos os dias”, compartilha.

Com o passar do tempo, a mesma fonte revelou que sentiu que estava limitada ao fazer apenas notícias e cobrir os jogos de futebol do campeonato regional. Foi então que decidiu criar uma rubrica na rádio.

“A agenda cultural já existia, mas estava suspensa. Falei com o director da rádio e assumi a rubrica. No entanto, tenho o desejo de expandir para outras áreas, como uma rubrica literária. Confesso que ainda me sinto insegura. Tenho um pouco de medo, pois, depois de assumir o dia, surgem muitos trabalhos e eu poderia não conseguir entregar a rubrica”, salientou.

Além disso, Teresa Pinto foi recentemente premiada com o Prémio Nacional de Jornalismo 2024, por uma grande reportagem feita na rádio.

“Foi um reconhecimento do meu trabalho. Só quem trabalha nas delegações e em ilhas periféricas sabe o quanto é desafiador. A reportagem abordou um desafio enfrentado por Santo Antão. Não esperava ser premiada, fiquei muito feliz. Este prémio deu-me esperanças de que, com dedicação, posso conquistar ainda mais. Espero que o prémio seja repetido em Santo Antão e que outras histórias da ilha recebam o reconhecimento que merecem”, salientou.

Se, por um lado, Teresa Pinto descobriu ainda na infância que a sua vocação era ser jornalista, Arilizia Rodrigues jamais imaginou que a rádio se tornaria a sua paixão.

"Nunca sonhei ser jornalista. Inicialmente, queria ser professora de português, mas uma conversa casual com uma professora abriu-me os olhos para o vasto mundo da comunicação social, revelando uma nova perspectiva sobre as inúmeras oportunidades de carreira", recordou.

Ao ingressar na universidade, Arilizia Rodrigues disse que foi tomada por uma paixão crescente pela profissão. O que mais a cativava era o universo da rádio, da televisão e das diversas formas de comunicação que o mundo lhe oferecia.

"A paixão pela rádio surgiu de forma natural", confessou.

Foi na Rádio Nova que Arilizia Rodrigues deu os seus primeiros passos como locutora. Após concluir a faculdade, retornou à sua terra natal, Santo Antão, trabalhou nas duas rádios comunitárias da ilha, Rádio de Sentonton e RCM.

“E, como se o destino já tivesse planeado esse momento, surgiu a oportunidade de tornar correspondente da Radiotelevisão de Cabo-verdiana, na Ribeira Grande”, afirmou.

Segundo a mesma fonte, a sua carreira na rádio tem sido marcada por desafios constantes e um dos maiores foi adaptar-se ao ritmo “frenético” de uma rádio que, numa ilha periférica como Santo Antão, enfrenta limitações em termos e equipamentos.

“Contudo, encarei cada obstáculo como uma oportunidade de crescer e fazer a diferença. A maior recompensa de ser jornalista é saber que a minha informação pode, realmente, mudar a vida de alguém", salientou.

Arilizia Rodrigues recordou emocionada várias situações que a marcaram profundamente, como as condições de vida de algumas pessoas que conheceu ao longo da sua jornada.

"Já estive em várias localidades onde pude ver, de perto, como as pessoas enfrentam uma vida cheia de sacrifícios e dificuldades, em condições de vida extremamente precárias. Isso me entristece imenso. Tive também a oportunidade de estar em locais mais isolados, como Dominguinhas, e testemunhar de perto a vida da população local, longe de tudo, com recursos limitados e completamente afastada do resto do mundo. Quando dou voz a essas pessoas através da rádio, sinto-me profundamente tocada, pois o jornalismo, para mim, é, acima de tudo, dar voz àqueles que não a têm", explicou.

Ao longo da sua carreira, Arilizia Rodrigues disse que tem vivido momentos de grande intensidade. Recordou, por exemplo, a cobertura de incêndios devastadores, no Planalto Leste, onde, no auge da tragédia, se viu a ajudar a apagar as chamas.

"O fogo estava por todos os lados e, em determinado momento, sentimo-nos completamente encurralados, tal era a intensidade do incêndio. Foram momentos de grande tensão, mas também de enorme responsabilidade. Senti que era fundamental transmitir, com clareza e precisão, a verdadeira dimensão do que se passava", afirmou.

"Ser jornalista é, acima de tudo, uma missão de vida. E quando vejo o impacto que as minhas palavras podem ter na vida das pessoas, isso é algo que me gratifica profundamente. Nada é mais recompensador do que perceber que a informação que dei ou a notícia que cobri, pode realmente fazer a diferença na vida de alguém", enfatizou.

O Dia Mundial da Rádio é celebrado anualmente a 13 de Fevereiro. A data foi proclamada pela Unesco, em 2011, com o objectivo de destacar a importância da rádio como meio de comunicação, educação e promoção da liberdade de expressão.

A data também serve para lembrar como a rádio pode contribuir para a diversidade cultural, alcançar populações remotas e fornecer informações essenciais, especialmente em tempos de crise.

LFS/CP

Inforpress/Fim

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