Mindelo, 05 Fev (Inforpress) – Os pescadores de São Vicente pediram hoje mais atenção das autoridades e investimentos para dotar o sector de melhores condições para que a actividade continue a ser aliciante para os mais novos.
Um desejo exteriorizado à imprensa por profissionais do sector, que estiveram hoje envolvidos numa conversa aberta sobre os constrangimentos da profissão, organizada pela Associação dos Armadores de Pesca de Cabo Verde (Apesc) para assinalar o Dia Nacional do Pescador.
O presidente da Associação de Pescadores de São Pedro, Luis Andrade, defendeu que os jovens devem continuar a apostar na pesca, uma arte da antiguidade que “não pode ser deixada para trás”.
Entretanto, acredita ser um sector que precisa de mais atenção devido a algumas medidas que “não estão a agradar aos próprios pescadores”.
Luís Andrade exemplificou com o acordo de pesca assinado com a União Europeia.
“São medidas tomadas sem consenso, por exemplo, com os presidentes das associações de pescadores. São tomadas através do Ministério e da Assembleia Nacional, mas, no final, quem são prejudicados somos nós do sector”, sustentou.
Indo mais longe nas críticas apontou o projecto apresentado pela associação para criação de uma unidade de gelo e espaço para armazenamento do pescado na comunidade piscatória que, “até hoje, não teve nenhum `feed back´”.
Também bem contundente, o presidente da Associação dos Pescadores de Salamansa, Auxílio Matias, denunciou as dificuldades que ele e seus companheiros enfrentam para ter um pão em cima da mesa.
“A pesca artesanal dia por dia está a diminuir e os pescadores têm de ir mais longe para ter algo melhor, mas em termos de segurança fica muito difícil”, elucidou a mesma fonte, que pediu às autoridades para estarem mais perto da classe e conhecerem a realidade diária.
Por outro lado, conforme Auxílio Matias, encaram outros constrangimentos como partilharem os mesmos lugares de pesca, tanto para a feita com anzol, como com a de mergulho em apneia, que leva à “saturação” dos bancos de pescado.
Mais ainda, acrescentou, a pesca industrial feita por barcos estrangeiros está a “invadir” a área dos pescadores artesanais.
“Eu mesmo já vi barcos industriais a pescarem a duas milhas de terra, no Ilhéu Raso”, denunciou a mesma fonte, adiantando que o problema vem de há muito tempo e não sabe quando vai ter fim.
Como promotor do debate, o presidente da Apesc, Suzano Vicente, indicou que a ideia de promover o debate foi precisamente para abordar questões pertinentes para o sector.
Por exemplo, quanto ao acordo de pesca com a União Europeia, importa responder a questões como o seu impacto na sustentabilidade da actividade e a implementação da fiscalização.
Suzano Vicente falou de denúncias feitas hoje por um pescador sobre a pesca ilegal de tubarões e apanha de tartarugas feitas por barcos industriais estrangeiros.
“É uma questão muito preocupante e que chama a atenção para as autoridades, para efectivamente analisarem e ver lá onde se possa diminuir o impacto da pesca ilegal, porque são espécies que não podem ser capturadas e efectivamente estão sendo capturadas”, disse.
A questão da segurança também foi outro dos constrangimentos apontados pelo presidente da Apesc que exortou os pescadores a terem maior prudência, mas também incitou à maior fiscalização e aplicação de penalizações, lá onde for necessário.
A conversa aberta contou também com a participação do ministro do Mar, Jorge Santos, que pediu mais confiança aos presentes nas medidas do Governo e como novidades anunciou que vão ser distribuídos motores aos pescadores, sendo 50% a fundo perdido e os outros 50% reembolsados em prestações mensais, após seis meses do uso do material.
LN/JMV
Inforpress/Fim
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