Portugal: Obra “Memórias da luta clandestina” traz informações omissas sobre a luta para independência – diz apresentador

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Portugal: Obra “Memórias da luta clandestina” traz informações omissas sobre a luta para independência – diz apresentador
16/03/25 - 11:48 am

Lisboa, 16 Mar (Inforpress) – O livro “Memórias da luta clandestina”, de Inácio Soares de Carvalho, traz informações importantes e não conhecidas sobre a história e a luta para a independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, defendeu o apresentador José Vicente Lopes.

O apresentador defendeu esta ideia quando apresentava a obra na tarde/noite deste sábado, 15, no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa, na presença dos coordenadores da obra, Carlos de Carvalho e Felino de Carvalho.

“Este tipo de trabalho é importante. Um livro deste tipo, de Inácio Soares de Carvalho, conta mais do que as dificuldades da sua luta política, porque o seu testemunho vale pelas informações que dá sobre os guineenses e cabo-verdianos”, disse.

Para José Vicente Lopes, que participou no evento por videoconferência, “é um livro que vem trazer informações extremamente importantes, porque é nessas pequenas histórias que vamos tendo toda a dimensão real daquilo que foi a luta de Guiné-Bissau e Cabo Verde e as vicissitudes de cada um nesse percurso”, sublinhando que o livro de memórias é um contributo inestimável.

Essa ideia também foi partilhada por Vladimir Brito, que corroborou com o facto de “esses tipos de testemunhos ajuda a desmistificar algumas informações sobre a luta clandestina”, defendendo que é importante que a luta clandestina seja investigada e contada pelos historiadores guineenses e cabo-verdianos, que devem recolher testemunhos e esclarecer o que realmente se passou.

Durante a apresentação, houve várias intervenções, nomeadamente, do jornalista e escritor guineense Tony Tcheca, que chegou a conhecer Inácio Soares de Carvalho, quando o autor vivia na Guiné-Bissau.

Todos concordaram que o livro é um testemunho raro e pessoal da luta de libertação dos povos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, desde os primeiros momentos na década de 1950 até à Revolução dos Cravos, em 1974, que culminou com a independência dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Os coordenadores, filhos do autor, consideraram que a obra é uma das primeiras narrativas escritas por um clandestino sobre este período histórico, sustentando que essa deve ser a primeira vez que “quase se confirma, pela voz de um protagonista, que o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) nasce não em Bissau, nem em 1956, mas no exterior, nos anos 60”, destacaram.

Inácio Soares de Carvalho, natural da cidade da Praia, figura activa na luta pela independência, relata, na primeira pessoa, os momentos vividos durante as várias detenções nas prisões do regime colonial, incluindo a 2ª Esquadra, Mansoa, Djiu di Galinha e o campo de concentração do Tarrafal, em Santiago.

O livro ganha uma dimensão adicional com o capítulo “Depoimentos”, que reúne testemunhos de outros protagonistas da clandestinidade, colegas de luta de Inácio Soares de Carvalho, que confirmam grande parte dos factos narrados pelo autor e trazem à luz momentos pouco explorados da história, como o processo e julgamento de Rafael Barbosa, primeiro presidente do PAIGC.

A obra é considerada uma referência essencial para quem pretende conhecer em profundidade a história da luta de libertação nacional, liderada pelo PAIGC, com destaque para os episódios vividos nas prisões coloniais e o impacto da repressão sobre os activistas.

Nascido em 29 de Abril de 1916, Inácio Soares de Carvalho foi levado ainda jovem para a Guiné-Bissau, onde viveu até 1978. Funcionário do Banco Nacional Ultramarino, ingressou na política em 1956, influenciado por Abílio Duarte.

Em 1962, foi preso e levado para a Colónia Penal do Tarrafal sendo, posteriormente, detido em várias ocasiões até à sua libertação em 1974, sendo que, após o fim da luta, Inácio trabalhou na UNTG-CS, na Guiné, e na UNTCV, em Cabo Verde, para onde regressou definitivamente em 1978.

Casado com Maria Rosa de Carvalho, com quem teve nove filhos, o autor que morreu a 27 de Dezembro de 1994, deixou um legado de resistência e compromisso com a liberdade e a independência dos povos africanos.

DR/HF

Inforpress/Fim

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