Mulheres cabo-verdianas não se sentem representadas na vida política

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Mulheres cabo-verdianas não se sentem representadas na vida política
08/03/24 - 01:05 am

Cidade da Praia, 08 Mar (Inforpress) - A luta pelo direito das mulheres é tema de debates e reflexões em Cabo Verde e no mundo, mas, apesar de alguns avanços já conquistados, a nível da representatividade na vida política encontra-se muito longe do almejado.

Esta é a opinião compartilhada pelas testemunhas Maria de Pina, Katia Gonçalves e Eliane Correia, em entrevista à Inforpress no âmbito do Dia Internacional da Mulher que se assinala hoje, 08 de Março.

No entender de Maria de Pina, mãe e arquivista de profissão, existe sim liberdade e democracia em Cabo Verde, contudo a política exerce alguma pressão e influência na vida das pessoas que, muitas vezes, praticam a auto censura por medo de represálias ou até, como referiu, de “perder o próprio emprego”.

De acordo com a arquivista, as mulheres ainda têm dificuldades em ocupar cargos de poder na sociedade ou serem voz activa na tomada de decisões do país, isto devido ao “machismo” e pelo facto de a sociedade não aceitar a mulher como figura de destaque.

Maria de Pina disse que não se sente representada na vida política por causa do número reduzido de mulheres, defendendo que houve avanço significativo nas últimas décadas e que os partidos estão a confiar mais na capacidade e espírito de liderança das cabo-verdianas.

“Exemplo disso é a presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina, mas não totalmente, os partidos políticos precisam confiar mais nas mulheres e tirar a venda de que as mulheres não podem liderar um país” evidenciou, reiterando a necessidade de melhorias na matéria.

Na mesma linha Katia Gonçalves, socióloga, avançou que por medo do “sistema” de ser julgado ou até ser “preso”, as pessoas não conseguem expressar a sua opinião livremente em Cabo Verde.

Garantiu que se sente “um pouco” representada na vida política, em comparação com os tempos anteriores em que as mulheres eram catalogadas como “donas de casa” e “mãe”, preservando o seu direito de ocupar outras funções.

“Hoje as mulheres ministras e presidente de câmara que estão a nos representar já demonstraram que temos competências, apesar da sociedade cabo-verdiana ser machista e não confiar na liderança feminina”, frisou, apelando a mais oportunidade para as mulheres.

Por seu turno, Eliane Correia assegurou que “não há” liberdade em Cabo Verde, explicando que pelo monopólio exercido pelo Governo, não há liberdade para expor as opiniões, e quando são expostas não são publicadas por questões políticas.

Realçou que hoje em dia as mulheres exercem cargos políticos, mas não conseguem avançar por conta da discriminação por parte dos homens que defendem que o lugar da mulher é em casa e a cuidar dos filhos.

Este cenário é observado em todas as esferas da vida política, asseverou, afirmando que o quadro da representativa ainda permanece muito abaixo do desejado e a corrida para o poder não é feita de forma igualitária aos homens.

“É uma situação triste, as mulheres todos os dias lutam para conquistar um espaço, e, por mais que sejam realizadas lutas pela igualdade de género no final das contas não é o que é visto, nas candidaturas se encontrar uma mulher é um milagre”, enfatizou, exortando ao reforço da sensibilização da população de que a mulher tem potencial e pode ocupar grandes cargos.

O Dia Internacional da Mulher foi oficializado em 1970 pela Organização das Nações Unidas (ONU). A data simboliza a luta histórica das mulheres em busca de condições equiparadas às dos homens como igualdade salarial, bem como a luta contra o machismo e a violência.

LT/CP

Inforpress/Fim

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