Cidade da Praia, 27 Set (Inforpress) – A investigadora cabo-verdiana Neusa Correia Lopes, residente nos Estados Unidos, abordou hoje, alguns dos desafios da diversidade cultural e da adaptação no ensino durante a crise sanitária global da covid-19, no seu livro Educating Through Pandemic.
Em declarações à Inforpress, Neusa Lopes explicou que a obra Educating Through Pandemic, escrita durante a pandemia, não se foca exclusivamente na covid-19, como muitos poderiam pensar, mas explora a cultura, a diversidade cultural e os desafios da adaptação no contexto educativo provocados pela crise sanitária.
A investigadora refere que o livro aborda a experiência dos imigrantes, em particular dos cabo-verdianos, ao chegarem aos EUA durante a pandemia, bem como o multiculturalismo e as mudanças necessárias no sistema educativo para acolher estes novos alunos.
“O objectivo foi compreender como integrar os recém-chegados nas nossas comunidades, mesmo em tempos difíceis”, afirmou.
Segundo a autora, um dos temas centrais do livro é a importância da língua inglesa e das barreiras linguísticas enfrentadas pelos imigrantes, numa altura em que o ensino sofreu uma transformação significativa com a transição para as aulas virtuais, trazendo novos desafios e oportunidades.
A autora realizou pesquisas em vários países, incluindo Portugal e Cabo Verde, para melhor compreender os diferentes contextos educativos e o impacto da pandemia, destacando a sua experiência de dar aulas virtualmente em universidades cabo-verdianas enquanto residia nos EUA.
Neusa criou uma filosofia a que deu o nome de “between dimensions” (entre dimensões), com o objectivo de reflectir sobre o impacto emocional e psicológico do ensino “online”, procurando criar um espaço confortável para que alunos e professores enfrentassem as dificuldades deste novo paradigma.
Refere ainda algumas das conclusões que pôde tirar ao escrever o livro, sendo a principal a importância de manter um equilíbrio psíquico, emocional e social, analisar a situação, observar e manter a calma perante a sociedade em que vivemos. Por isso, desenvolveu a filosofia “between dimensions”, adoptada durante a pandemia com os seus alunos.
“Percebi que a cultura e a língua são cruciais para os indivíduos, especialmente no momento em que o emigrante multilingue e a população estudantil foram desafiados pela covid-19, com o uso de máscaras, o distanciamento social e a necessidade de adaptação a uma nova vida social”, afirmou.
Sobre as estratégias para construir resiliência, a autora sublinha no livro que os professores devem estar atentos à forma emocional, psicológica e fisiológica como abordam os alunos na “sala de aula do Zoom”, de modo a não perderem a identidade durante esta transformação tecnológica, que nos obriga a criar uma nova forma de adaptação social.
A entrevistada recorda o choque inicial com a chegada da pandemia.
“Quando voltei para casa, percebi que os transportes estavam encerrados e que a pandemia já tinha sido oficialmente declarada. Foi então que comecei a dar aulas pelo WhatsApp, para garantir a continuidade do ensino.”
Além disso, Neusa Lopes acompanhou, de perto, debates científicos internacionais, nomeadamente os fóruns da Harvard School, onde especialistas como o Dr. Anthony Fauci discutiam a evolução da covid-19, o que lhe permitiu aprofundar a sua investigação.
No final, o livro propõe uma reflexão sobre se a educação pós-pandemia regressará à “normalidade” ou se a crise provocará mudanças permanentes no modo de ensinar e aprender.
JBR/HF
Inforpress/Fim
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