Cidade da Praia, 27 Mai (Inforpress) – O secretário-geral do MpD (poder) reconheceu hoje os avanços dos 50 anos da independência de Cabo Verde, mas lamentou que o país poderia ter avançado mais rapidamente, sobretudo em áreas como saúde, transportes e acesso à água dessalinizada.
“Eu sonhei que pudéssemos ir mais depressa, sobretudo depois de 75 (..), mas perdemos muito tempo de 1975 a 1990 e de 1991 a 2025 poderíamos ter ido mais depressa em alguns sectores básicos, por exemplo, como a saúde e os transportes deveriam merecer uma atenção diferente e investimentos mais robustos”, precisou.
Agostinho Lopes, que falava à Inforpress sobre os 50 anos da Independência de Cabo Verde, que se comemora a 05 de Julho, considerou que os 50 anos como país independente marcam vitórias e desafios, mas exigem também consensos e mais ambição rumo ao desenvolvimento nacional.
O secretário-geral do Movimento para a Democracia (MpD) destacou que o 05 de Julho de 1975 foi “o coroar de uma luta pela liberdade”, mas lembrou que a caminhada ainda está longe de ter terminado.
Para o dirigente do MpD, governar é fazer escolhas, mas alerta que nem sempre as opções tomadas se traduziram no desenvolvimento desejado.
“O povo dá poder aos dirigentes desde 1990, mas nem sempre as decisões correspondem às expectativas dos cidadãos”, sublinhou.
Agostinho Lopes apontou o exemplo de arquipélagos como Maurícias, Seychelles e Singapura, que, tal como Cabo Verde, não possuem grandes recursos naturais, mas seguiram caminhos distintos e alcançaram resultados expressivos em termos de desenvolvimento.
Na mesma linha, mencionou ainda os casos de Botsuana e Namíbia como referências africanas, com crescimentos económicos consistentes nos últimos 30 anos.
Apesar das limitações do contexto histórico e económico, o antigo presidente do MpD acredita que o país poderia ter feito diferentes apostas, nomeadamente na antecipação da dessalinização da água, uma área que considera agora estratégica e prioritária.
“Hoje sabemos que poderíamos ter começado mais cedo e devemos investir fortemente neste sector para garantir acesso à água dessalinizada”, apontou.
Agostinho Lopes lamentou ainda que, embora Cabo Verde tenha sido considerado inviável por alguns observadores internacionais aquando da independência, o país persistiu, no entanto, passados 50 anos, o arquipélago poderia estar mais avançado.
Apesar das críticas, o secretário-geral reconheceu os fundamentos da democracia cabo-verdiana, como a imprensa livre, o sistema multipartidário e a resiliência do povo.
O secretário-geral do MpD destacou o espírito reivindicativo da população como uma força que tem impulsionado o progresso e defendeu a necessidade de consensos nacionais sobre áreas fundamentais como a educação, a saúde, os transportes, a defesa, as relações externas e até o próprio modelo de desenvolvimento económico do país.
“Gostaria sinceramente que pudéssemos ser mais assertivos na construção de consensos fundamentais para o país, a política faz-se hoje em dia em Cabo Verde com alguma agressividade e talvez pudéssemos moderar a linguagem”, apontou.
Reforçou a urgência de melhorar os transportes marítimos e aéreos, especialmente para garantir a ligação eficaz entre as ilhas, reconhecendo falhas nas promessas feitas pelo seu próprio partido: “Infelizmente, esse ‘como’ não foi completamente exitoso”.
Admitiu que o país enfrenta sérias dificuldades nos transportes marítimos, com uma frota envelhecida e pouco adequada às condições do mar nacional, com excepção dos catamarãs Kriola e Liberdadi, mas barcos esses que não foram concebidos para as águas nacionais.
Agostinho Lopes garantiu que o Governo está empenhado na resolução dos problemas, ainda que o processo exija tempo.
“Vamos resolver, é um desígnio nacional. Pode demorar cinco, seis ou dez anos, mas o Estado tem essa missão”, assegurou.
A nível da saúde, reconheceu falhas na gestão hospitalar, nos equipamentos e carência de profissionais, mas destacou investimentos em curso e a complementaridade entre os sectores público e privado.
“A humanização dos serviços é urgente, não é admissível esperar quatro meses por uma análise. Mas é preciso reconhecer que hoje temos alternativas em 1975 e em 1990, não era assim”, sublinhou.
Destacou os progressos alcançados na educação, mas reconheceu que persistem desafios, defendendo que o progresso alcançado deve ser acompanhado por novas aspirações para o futuro.
O dirigente do partido no poder defendeu que o 13 de Janeiro foi uma “consequência lógica” do 05 de Julho e que a liberdade conquistada exigiu uma luta contínua entre os próprios cabo-verdianos.
“Poderíamos ter optado por um regime democrático no dia 05 de Julho, mas não optamos e a conjuntura mundial também não era tão favorável como é hoje”, reconheceu.
Realçou que Cabo Verde passou de “um país considerado economicamente inviável” a um “farol da democracia e do desenvolvimento em África”, considerando que, apesar das limitações de recursos naturais, há motivos para orgulho, sobretudo quando se compara com outras ex-colónias portuguesas.
“O 13 de Janeiro foi o explodir de uma panela de pressão que se acumulava desde 1975 e o povo foi sábio ao confiar-nos dois terços dos votos em 1991”, afirmou, realçando que a democracia cabo-verdiana é hoje uma referência internacional, graças ao contributo do MpD para o sistema político, as liberdades e o reconhecimento internacional de Cabo Verde como um Estado de direito.
Para Agostinho Lopes, o percurso de Cabo Verde é motivo de orgulho, mas há ainda muito por fazer.
“Chegámos longe, mas temos que continuar a trabalhar para ir ainda mais além”, concluiu.
AV/CP
Inforpress/Fim
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