
Espargos, 12 Nov (Inforpress) - A saúde mental na ilha do Sal atingiu um “ponto de crise” que tem levado a Associação Dja d’Sal Saúde Mental e o seu presidente, João Barros, à exaustão e a pedir por empatia “urgente” para combater a negligência.
Em declarações proferidas hoje à comunicação social, João Barros “exigiu” que a sociedade e, principalmente, as entidades governamentais e autárquicas demonstrem a empatia e o apoio necessários para que o trabalho da associação possa prosseguir, alertando que “amanhã pode ser tarde”.
A motivação para a criação da Dja d’Sal Saúde Mental nasceu da experiência de João Barros, que trabalhou por anos com a comunidade cabo-verdiana nos Estados Unidos através da Catholic Charities.
Segundo o presidente, foi a reação entusiasta dos populares do Sal ao seu trabalho anterior – que incluía acções simples, como conseguir doações de pão e queijo para a comunidade – que o incentivou a formar a associação na ilha.
“Foi uma boa experiência, mas tenho trabalhado incansavelmente... a associação está cansada, e os nossos sócios e os nossos parceiros estão cansados também”, desabafou Barros, reconhecendo que a paixão inicial se chocou com a dura realidade da falta de apoio estrutural.
O presidente sublinhou a dificuldade e o sacrifício pessoal exigido pelo trabalho.
O mesmo descreveu a área da psicologia e da saúde mental como um campo que exige total dedicação, a ponto de o próprio profissional necessitar de cuidados.
“Este trabalho não é fácil para quem está com ele, porque, se não tiver o saber da psicologia, fica com problemas também no futuro”, clarificou, numa alusão ao desgaste emocional.
A maior barreira, no entanto, reside na carência de recursos e na “negligência institucional”.
Barros critica “veementemente” a falta de apoio e a aparente indiferença das entidades responsáveis, mencionando os "problemas de recursos" e a “negligência total” em relação a centenas de casos registados.
“A preocupação da ilha devia estar melhor”, lamentou, alertando que a inação tem um impacto severo, especialmente considerando que Cabo Verde celebra 50 anos de independência.
João Barros faz uma ligação directa entre o problema da saúde mental e o aumento dos problemas sociais na ilha.
De acordo com o líder associativo, a falta de tratamento e prevenção contribui para que jovens entrem no mundo da droga, da bebida e da prostituição, levando consequentemente ao roubo para sustentar os vícios.
O líder da associação defende uma abordagem concertada e recusa a ideia de que a responsabilidade deve recair apenas sobre a Dja d’Sal.
João Barros insistiu que o problema só será resolvido com o envolvimento de todas as partes: “Cada um de nós deve ter responsabilidade nisso. A Polícia Nacional tem que entrar, Delegação de Saúde, Câmara Municipal, para fazer as coisas juntas”, continuou.
Para financiar as suas actividades e dar seguimento ao trabalho, a Dja d’Sal Saúde Mental tem recorrido a eventos solidários, como o jantar programado para o final deste mês, que visa também celebrar o segundo aniversário oficial da associação e angariar fundos.
João Barros concluiu com um pedido por sensibilidade na área, alertando que a “inação tem um custo elevadíssimo para o futuro da ilha do Sal”.
NA/ZS
Inforpress/Fim
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