Tarrafal, 29 Out (Inforpress) – Os fundadores do Delta Cultura, Florian Wegenstein e Marisa Correia, apelaram hoje a um maior apoio e atenção das entidades nacionais a projectos de carácter social, destacando a importância das iniciativas no desenvolvimento das comunidades.
O projecto iniciou-se, em 2002, no município do Tarrafal e, conforme contaram os mentores, começou como uma pequena escola de futebol e com um grupo de batuque e, que, ao longo dos anos, se expandiu oferecendo hoje a 260 crianças, adolescentes e jovens actividades e serviços voltados para o desenvolvimento integral do seu público-alvo, promovendo a inclusão, igualdade de género e habilidades para a vida.
Os fundadores explicaram que a origem do Delta Cultura foi espontânea. Marisa Correia iniciou um grupo de batuque e Wegenstein começou a trabalhar com crianças no futebol, inicialmente em um terreno onde hoje se localiza o mercado municipal do Tarrafal.
Quando perderam o espaço, solicitaram à Câmara Municipal do Tarrafal (o único parceiro fixo aqui no país) um terreno e receberam um lote em Achada Tomás, onde em 2005 ergueram o actual centro, com o apoio de doações e parceiros estrangeiros.
Desde então, a organização cresceu, estabelecendo laços com parceiros estrangeiros, e hoje há outras unidades do Delta Cultura na Áustria, Suíça e Alemanha, que promovem eventos para arrecadar fundos e canalizar para o Delta aqui em Cabo Verde, pois os apoios nacionais, conforme classificou Florian Wegenstein “são esporádicos e insuficientes para as demandas crescentes”.
Wegenstein destacou que o centro sempre teve como objectivo promover a mudança através da educação estruturada e do incentivo à criatividade, permitindo que as crianças encontrem suas paixões e desenvolvam habilidades longe de influências negativas.
No entanto, o fundador também mencionou que as limitações de financiamento afectam directamente o alcance do projecto, tanto em relação ao número de beneficiários quanto à diversidade de actividades oferecidas.
“Nosso maior desafio é manter a estrutura funcionando, com um número limitado de funcionários para atender às crianças e jovens. Precisamos de mais apoio constante para cobrir até mesmo custos básicos, como água e luz”, afirmou.
Marisa Correia, natural do Tarrafal e co-fundadora, reforçou que o Delta Cultura foi essencial na vida de muitos jovens, proporcionando um “ambiente seguro e educativo que os afasta de situações de risco”.
Além do futebol e batuque, o centro oferece aulas de arte, oficinas de música e várias actividades lúdicas.
Segundo esta co-fundadora, o centro tem ex-alunos que hoje trabalham no próprio Delta, além de outros que conseguiram uma carreira académica e profissional em outras áreas, o que, para ela, é “uma prova de que o projecto está no caminho certo”.
De acordo com Wegenstein, a intenção é fazer com que as crianças e adolescentes adquiram valores e habilidades que os preparem para o futuro.
“Precisamos desenvolver novos métodos educativos que formem cidadãos preparados para um mundo em constante transformação, principalmente com o avanço da inteligência artificial”, destacou, reforçando que vão fazer o possível para manter o nível com os parcos recursos que conseguem.
Os fundadores também enfatizaram a necessidade de que o apoio governamental seja apartidário, dada a relevância de projectos como o Delta Cultura para a formação de cidadãos e o fortalecimento da comunidade.
E é neste sentido que Marisa Correia apelou para que as autoridades “peguem na mão” de instituições que promovem causas sociais, alegando que esses projectos assumem responsabilidades que poderiam ser do próprio Governo, como a criação de empregos e a formação de crianças e jovens.
Para Abril de 2025, o Delta Cultura está organizando um Fórum da Educação no município do Tarrafal e Florian avançou que estão a trabalhar para que o Ministério da Educação seja parceiro nesta actividade, com o intuito de ampliar o debate sobre métodos educativos que valorizem a autonomia e a motivação das crianças e jovens.
Por fim, o casal reconheceu o empenho da equipa, que mesmo com desafios, mantém o compromisso com o bem-estar das crianças e adolescentes do Tarrafal, em que apesar dos atrasos nos pagamentos e das limitações financeiras, estes continuam a actuar, unidos pela causa social do Delta Cultura e pela crença de que estão a contribuir para um futuro melhor para os jovens.
MC/ZS
Inforpress/Fim
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