Cidade da Praia, 15 Fev (Inforpress) – Um estudo sobre o potencial do crescimento sustentável da pesca na economia de Cabo Verde revela que 9 por cento (%) da pesca praticada no país está acima do nível da sustentabilidade.
O estudo intitulado “avaliar a sustentabilidade e o potencial da Economia Azul: Uma análise económica e de input-output do sector das pescas em Cabo Verde”, foi realizado pelo docente e investigador da Universidade de Cabo Verde João Brito, em colaboração com dois docentes e investigadores da Universidade de Akureyri e Universidade de Islândia.
Segundo explicou o investigador, o estudo, que faz uma análise da sustentabilidade biológica e económica do sector das pescas em Cabo Verde, utilizou o modelo “Input-Output” para calcular os multiplicadores de produção e de emprego para o sector das pescas e deixou uma série de sugestão políticas que poderão trazer uma melhor gestão para este sector no país.
João Brito adiantou que o primeiro passo foi analisar o nível de sustentabilidade biológica, ou seja, verificar a quantidade de peixe pescada nesse momento, porque, sublinhou, a economia azul tem a ver com a sustentabilidade, ou seja, ter uma economia a crescer, mas de forma sustentável.
Entretanto, avançou que foram feitas duas análises, tanto a nível da sustentabilidade biológica, que tem a ver com a quantidade do pescado e também do esforço da pesca, que tem a ver com os dias que os barcos passam no mar.
“Os indicadores de equilíbrio que eu utilizei demonstraram que a nossa pesca está acima do nível da sustentabilidade, ou seja, os dados disponíveis, que eram de 2021, indicam que estávamos a pescar num nível superior ao nível sustentável, por volta dos 9%, o que não é muito”, referiu.
Revelou que em Cabo Verde a pesca é feita com os barcos artesanais e os barcos semi-industriais e industriais.
João Brito explicou que com o uso apenas de barcos industriais, o sector iria aumentar o efeito no Produto Interno Bruto (PIB) e teria um menor impacto a nível de criação de postos de trabalho, mas por outro lado, se for utilizado os barcos artesanais, o impacto seria menor no PIB, mas haveria mais postos de trabalho.
A investigação prevê que os stocks de peixe estimados em Cabo Verde variam entre 32.000 e 41.000 toneladas, sendo que o peixe fresco representa uma fonte significativa de proteína animal para a população cabo-verdiana.
Por outro lado, adiantou que o estudo procurou analisar também as políticas implementadas nos países com características próximas de Cabo Verde, de modo a serem adaptadas no país.
“Uma das opções, por exemplo, poderia ser a introdução de um sistema de quotas que é utilizado na Islândia e com isso iria permitir tanto a redução da quantidade de pescado e também aumentar o valor do sector na economia”, precisou.
O estudo recomendou ainda uma gestão mais próxima dos pescadores, melhorias a nível da regulamentação, introdução de um sistema de gestão para acompanhar de forma mais direta a quantidade de peixe pescado que permita ter dados mais fiáveis e um sistema de gestão que permita proteger a biodiversidade de uma forma mais eficiente.
Na mesma linha sugeriu também uma forte aposta na formação, porque constataram que muitos jovens não pretendem seguir carreira na área das pescas.
Tendo em conta que a União Europeia utiliza os mares de Cabo Verde para a prática da pesca, defendeu um maior envolvimento na definição das políticas sustentáveis para o sector das pescas da parte da União Europeia.
“Então se houver maior envolvimento de mais sectores de actividade econômica, nós poderíamos desenvolver muito mais o sector das pescas, e com isso o impacto seria cada vez maior na nossa economia”, concluiu.
O estudo encontra-se publicado na revista internacional “Ocean & Coastal Management” e está disponível gratuitamente por um período de 50 dias.
AV/JMV
Inforpress/Fim
Partilhar