ENTREVISTA/Letras: Novo livro de José Luiz Tavares lançado domingo em Cabo Verde

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ENTREVISTA/Letras: Novo livro de José Luiz Tavares lançado domingo em Cabo Verde
11/07/25 - 09:10 am

Lisboa, 11 Jul (Inforpress) - O escritor cabo-verdiano José Luiz Tavares descreve o seu novo livro “Sonoru Tenpestadi di Fumu Flor i Flexa”, que lança domingo, 13, na cidade da Praia, como uma obra de “índole dramática, lírica e filosófica”.

A mais recente produção poética de Tavares chega a Cabo Verde através da editora fundada pelo autor, a Pretomau, e terá uma sessão oficial de apresentação conduzida por Mário Loff, no largo do Memorial Amílcar Cabral, pelas 15:00, no último dia da Grande Feira do Livro.

A obra, totalmente escrita em língua cabo-verdiana, é constituída pelas grandes odes corais que integravam o volume “É Ka Lobu Ki Fase”, publicado em 2022, um livro de índole dramática, lírica e filosófica, de 400 páginas, que nem chegou às livrarias, dado ter-se vendida toda a tiragem feita nessa altura. 

Em entrevista à Inforpress, em Lisboa, José Luiz Tavares explicou porquê a opção de publicar agora em separado as odes corais que integravam essa obra de 2022.

“É porque inseridas na dinâmica dramática e filosófica, muitas vezes o leitor podia não se dar conta da complexidade e da autonomia poética daqueles poemas, que originalmente foram escritos autonomamente e só depois enxertados nessa obra. Agora com esta edição autónoma, com algumas modificações, o leitor terá a oportunidade de ler o poema sem outra qualquer condicionante, sendo estas odes a primeira tentativa conseguida de poesia de grande fôlego discursivo, metrificado e rimado”, contou Tavares.

O poeta, que habitualmente reside em Portugal, diz esperar que o livro seja um “valioso contributo” para a perenidade literária da variante-matriz da língua cabo-verdiana.

Variante-matriz da língua, prosseguiu, que o “Ministério da Educação de Cabo Verde tenta agora assassinar com uma engenharia bairrista de laboratório, praticado por nortistas e estrangeiras sem vínculo afectivo com a língua materna cabo-verdiana”, numa ilegalidade que o escritor considera ser “criminosa”, acobertado pelo “ministro da Educação e o coordenador nacional da língua cabo-verdiana ao nível do ensino secundário”. 

Ainda uma outra razão para esta publicação agora é, segundo o autor, o conteúdo destes poemas: parte deles são reflexões sobre o transcurso histórico, de que uma parte acabou de ser celebrada há poucos dias, os cinquenta anos da independência nacional. 

Para José Luiz Tavares, este facto pesou também nessa reunião, que pode ser um factor de significância na apreensão destes poemas, mas visando sobretudo fazer escola entre aqueles jovens ou menos jovens, que usam a língua cabo-verdiana como meio de expressão literária, mas não só, dado que estas criações “inflam a língua de um vigor novo”, que vai para lá da estrita expressão literária. 

“Mas a grande peça desse livro é um manifesto (po)ético-político-filosófico, um longo poema de cerca de vinte páginas, e que esteve na origem desse livro, que espero venha a inspirar muitos daqueles que hoje escrevem em língua cabo-verdiana, com maior ou menor acerto”, reforçou.

Este livro inaugura também a colecção Noti, o “seminal livro” de Koaoberdiano Dambará, das edições Pretomau, a editora que o poeta criou para a publicação dos seus próprios livros e dalguns outros, cuja “qualidade possa fazer a diferença” no cenário literário cabo-verdiano.

“Infelizmente, apesar de a Inforpress ter noticiado o aparecimento desta editora em Fevereiro, com o lançamento da obra de combate contra o supremacismo linguístico diglóssico, ´Uma Selvajaria civilizacional ´, nenhum órgão de imprensa em Cabo Verde fez menção ao facto, como se em Cabo Verde nascessem editoras do tipo todos os dias”, lamentou.

Referiu, no entanto, que a Pretomau veio para “incomodar e deixar uma marca indelével até onde a minha disponibilidade e paciência resistirem”.

José Luiz Tavares nasceu no dia de Camões, 10 de Junho, em 1967, em Txonbon, cercanias do antigo Campo de Concentração, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde. 

Estudou Literatura e Filosofia em Portugal, onde vive em exílio voluntário, dedicado à sua obra.

Publicou 22 livros desde a sua estreia em 2003, com “Paraíso Apagado por um Trovão”, que, segundo o autor, “vêm pondo a nu a mediocridade do panorama poético cabo-verdiano, apesar dos seus inchados pergaminhos, via certo Caliban e outras mirabílicas misérias”.

Os seus livros integram o Plano Nacional de Leitura de Cabo Verde e de Portugal.

Está traduzido para inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, mandarim, neerlandês, russo, finlandês, catalão, galês e letão. Traduziu Camões e Pessoa para a língua cabo-verdiana.

Não aceitou, até agora, nenhuma comenda ou medalha.

JMV/AA

Inforpress/Fim

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