
Cidade da Praia, 23 Out (Inforpress) – O consultor Miguel Sousa manifestou “profunda preocupação” com a situação de crianças e jovens cabo-verdianos na diáspora que estão fora do sistema educativo, alertando que essa exclusão compromete o futuro da diáspora e o desenvolvimento de Cabo Verde.
Em entrevista à Inforpress, Miguel Sousa, que é consultor do Ministério das Comunidades, disse que há comunidades cabo-verdianas na diáspora onde muitas crianças não frequentam a escola por falta de cobertura do sistema educativo local, sobretudo nas periferias onde vivem os imigrantes.
O especialista observou que os imigrantes vivem, em geral, nas periferias das sociedades de acolhimento e advertiu que, quando o sistema educativo não chega a essas zonas, também não alcança as comunidades cabo-verdianas, considerando ainda preocupante que, em pleno século XXI, existam jovens que possam “nascer e morrer analfabetos”.
“Já visitei comunidades cabo-verdianas onde as crianças estão totalmente fora do sistema educativo. Sem acesso à escola, o futuro dessas crianças fica comprometido. Estamos a gerar novas gerações sem cuidar da sua educação, e Cabo Verde não pode ignorar esta realidade”, sublinhou, preferindo não citar exemplos para não “comprometer situações concretas”.
Miguel Sousa defendeu que Cabo Verde deve assumir esta questão como uma prioridade diplomática e educativa, propondo o reforço das relações bilaterais com os países de acolhimento para encontrar soluções conjuntas.
“Se Cabo Verde tem consciência de que existem segundas, terceiras e quartas gerações sem acesso à escola, o Estado deve agir e criar mecanismos que assegurem esse direito básico. Porque não há sucesso sem educação. E não há país rico sem pessoas ricas em conhecimento e formação”, sublinhou.
Entre as medidas propostas, o consultor destaca a criação de “Escolas Cabo-verdianas” em países africanos com uma forte presença de emigrantes, um modelo já adotado por nações como França, Espanha, Itália ou Israel.
“Não é uma invenção nossa. Não é uma solução inventada por nós, é uma solução que os outros já fazem. Cabo Verde também pode fazê-lo, negociando com os países de acolhimento para criar estruturas que ofereçam ensino pré-escolar, básico e secundário às crianças cabo-verdianas”, explicou.
Miguel Sousa advertiu ainda que, se a situação persistir, o discurso de desenvolvimento inclusivo “sem deixar ninguém para trás” corre o risco de se tornar vazio.
“Como apenas 25% da população cabo-verdiana vive no país, se deixarmos a diáspora para trás, estaremos a deixar a maioria dos cabo-verdianos para trás. Isso compromete o futuro nacional (…) não temos que ter medo de defender o interesse do país e de conversar com esses países que Cabo Verde pretende proteger a sua população que é acolhida por esses países, nomeadamente às crianças e os jovens”, afirmou.
O consultor apelou ainda à inclusão da componente educativa da diáspora nos planos de cooperação com os respectivos países, defendendo também atenção especial às áreas da saúde e integração social.
“É uma questão complexa, difícil e que requer meios, mas deve ser tratada com determinação e sensibilidade diplomática. Proteger as nossas crianças é proteger o futuro de Cabo Verde”, concluiu.
CM/CP
Inforpress/Fim
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