Cidade da Praia, 01 Nov (Inforpress) - A emigração em massa da juventude deixou a vila de Ribeira da Barca, situada no município de Santa Catarina em Santiago, com sequelas enormes enquanto que os que ficaram enfrentam desafios de saudades e solidão.
Localizada a beira mar, com uma economia predominantemente baseada em pesca artesanal e na agricultura, a Vila de Ribeira da Barca vê as suas perspectivas ameaçadas pela falta de oportunidades de emprego, o que tem levado os seus habitantes, sobretudo os jovens, a procurarem uma vida melhor no estrangeiro.
“A emigração não é um fenómeno novo em Ribeira da Barca. Há décadas que temos visto nossos filhos a partirem para países como Portugal, França, Espanha, Estados Unidos…, antes era uma prática isolada, agora se tornou uma realidade em massa, que vem afectando a estrutura social, económica e familiar da comunidade”, disse Maria Fernandes.
Relata ainda que todos os anos os familiares estão a deparar com a triste informação dos jovens que vão deixar a vila já que os que dependem da pesca e de pequenos negócios não estão a conseguir vingar.
“Os meus filhos foram para Portugal, e mandam algum dinheiro, mas o que eu queria mesmo é que pudessem voltar e construir algo aqui na terra que os viu nascer”, sublinhou, afirmando que a redução da população jovem tem provocado impacto directo na economia local.
Os moradores que admitem que a falta de mão-de-obra disponível tem afectado actividades como pesca, agricultura e transporte público, alegam que os poucos jovens que ficaram na vila estão preocupados em “fazer agendamento” para poderem ter a sorte de conseguir um visto.
Um outro facto, apontado por Maria Filomeno, é a de que a emigração tem gerado dependência das remessas enviadas por familiares no estrangeiro e que muitas vezes são as únicas fontes de rendimento de muitas famílias.
“A emigração também tem consequências nas famílias da vila. A separação familiar é uma das maiores queixas entre os habitantes. As famílias são forçadas a viver à distância, com pais e filhos separados por mares”, disse, alegando que a ausência física afecta a dinâmica familiar e provoca um sentimento de solidão entre os mais novos e os mais velhos que ficaram para trás.
Para Maria Filomeno, com cinco filhos emigrados, é difícil ver-lhos irem embora e sem saber qual é a próxima vez em que poderão abraçá-la.
Na mesma situação encontra-se Jedilson Varela, cujos pais emigraram-se, e hoje vive sob os cuidados da avó.
“De vez em quando me pego a pensar na minha mãe, e em como seria a minha vida se estivesse perto dela e da minha irmã. Sou muito grato à minha avó, por cuidar tão bem de mim, mas sinto falta da minha mãe”, acrescentou.
A emigração apesar de ajudar financeiramente tem também efeitos negativos na perda de talentos e conhecimentos já que muitos dos jovens que partem são os que poderiam contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade com novas ideias e capacidades.
Sem esse capital humano, a vila de Ribeira da Barca vê-se privada de inovação e crescimento, pois, segundo dados estatísticos, a vila que antes era dominada maioritariamente por jovens, com idades entre 15 e 30 anos, hoje é constituída por uma população velha.
PC/ZS
Inforpress/Fim
Partilhar