*** Por Américo Antunes, da Agência Inforpress ***
Mindelo, 12 Fev (Inforpress) – A Comunidade Terapêutica da Ribeira de Vinha, em São Vicente, celebra no dia 16 o primeiro ano de trabalho efectivo, “um ano de conquistas” em que “nem tudo foi fácil”, declarou à Inforpress o director da comunidade.
Em entrevista à Agência Cabo-verdiana de Notícias, por ocasião da efeméride, Celso Monteiro lembrou que o edifício que acolhe a comunidade, construído de raiz para tratar a problemática da dependência química, num terreno de seis hectares, na Ribeira de Vinha, a sete minutos, de carro, do centro do Mindelo, foi inaugurado a 20 de Julho de 2022, mas o trabalho efectivo, com a entrada de residentes, deu-se a 16 de Fevereiro de 2023.
“Era necessário arrancar, já não se podia esperar mais, começamos com algumas lacunas, mas, na mesma, demos e temos dado uma boa resposta até agora”, recordou o psicólogo clínico e pós-graduado em Saúde Pública e Comunitária.
Até hoje já passaram pela comunidade 58 residentes, a maioria oriunda de São Vicente, três dos quais do sexo feminino, mas também de ilhas como Santo Antão (cinco), Sal (quatro) e São Nicolau, também com quatro residentes, já que a Comunidade Terapêutica da Ribeira da Vinha dá resposta a toda a região do Barlavento.
Para os utentes que vão fazer o tratamento pela primeira vez, explicou a fonte, o mesmo dura seis meses e para aqueles que terminaram o tratamento e voltaram a recair, há um programa de três meses.
Celso Monteiro esclareceu que 19 residentes concluíram o tratamento de seis meses, e quatro o de três meses, mas que houve ainda, dos 58 admitidos na comunidade, 13 abandonos e duas expulsões de residentes, que não conseguiram cumprir as regras da casa.
Dados fornecidos à Inforpress indicam que o intervalo de idades de residentes compreende os 18 e os 61 anos, o que dá uma média de idades de 37,9 anos, sendo 44 anos a idade que ocorre com mais frequência.
Relativamente às substâncias psicoactivas que originaram o quadro de dependência e o tratamento, destacam-se, de acordo com a mesma fonte, o álcool, a cocaína e a canábis, verificando-se, na generalidade, situação de policonsumo.
Actualmente, a Comunidade Terapêutica da Ribeira de Vinha tem 20 residentes em tratamento.
Para o director da comunidade, a questão do alcoolismo e consumo de outras drogas em Cabo Verde “já é uma situação que merece uma atenção muito, muito particular”, tendo em conta a idade cada vez mais precoce em que as pessoas começam a experimentar, e também com o prolongamento do consumo.
“Antigamente nós tínhamos um alcoolismo muito mais crónico, hoje nós temos muito alcoolismo funcional”, concretizou Celso Monteiro, um factor que se estende a outras esferas e outras classes do ponto de vista do perfil do consumidor de álcool e de outras drogas.
Daí, actualmente, a idade média dos residentes da comunidade situar-se à volta de 37,9 anos, mas, se antigamente a idade mínima para acesso era de 18 anos, hoje já está nos 16, tendo em conta a precocidade do consumidor, não havendo uma idade máxima para entrada.
A Comunidade Terapêutica da Ribeira de Vinha foi construída em vários módulos/blocos, como o administrativo, sala multiuso, cinco dormitórios, três masculinos e dois femininos, oficina, ginásio, placa desportiva, enfermaria e uma biblioteca.
“Ou seja, nós temos aqui tudo aquilo que dá todo o conforto para que o residente se sinta em casa”, pontuou Celso Monteiro.
O momento mais activo do tratamento técnico e clínico do residente no dia-a-dia, explicou, ocorre entre às 08:00 e às 15:00, em que são constituídos os grupos terapêuticos, de desgoverno, de meditação e de mudança de objetivo, consoante o dia.
Depois das 15:00 há um conjunto de outras atividades de ocupação terapêutica, como rega de plantas, desporto e limpeza dos sectores.
“Neste momento estamos a fazer um curso de resiliência emocional, depois partiremos para um curso de carta de condução e depois para educação de adultos, nós vamos inserindo determinadas formações para agrupar ao tratamento de base, que é baseado no modelo Minesota”, especificou o director.
Há também, concretizou, uma componente médica, todas as quartas-feiras, das 08:00 às 15:00, para dar cobertura a outros aspectos da saúde do residente.
Pois, recordou o psicólogo clínico, não é tratada apenas a dependência química, uma doença que normalmente traz em si outras, sobretudo cáries dentárias, hepatites, algumas doenças sexualmente transmissíveis, devido ao estilo de vida que as pessoas levam, diabetes, por causa do consumo excessivo de álcool, problemas de pele e oculares, entre outras.
“Nós tratamos aqui da pessoa no seu todo, para que quando sair, saia com melhor autoestima e tenha menos preocupações com outros aspectos da sua saúde, o que já ajuda mais na recuperação do doente lá fora”, finalizou Celso Monteiro.
A Comunidade Terapêutica da Ribeira de Vinha representa um investimento do Governo, de mais de 125 milhões de escudos, financiado pelo Fundo do Kuwait, para dar resposta a toda região do Barlavento em matéria de tratamento das toxicodependências, mais concretamente em regime de internamento.
AA/JMV
Inforpress/Fim
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