Cidade da Praia, 31 Jul (Inforpress) – O presidente da Fundação Batuco, Bob Mascarenhas, defendeu hoje, na Praia, que o batuco sobreviveu graças ao esforço e dedicação das batucadeiras, apesar de enfrentar falta de reconhecimento por parte das entidades culturais e institucionais.
Apesar dos avanços desde a institucionalização do Dia Nacional do Batuco, há quatro anos, Bob Mascarenhas destacou à Inforpress os obstáculos que continuam a marcar o percurso do batuco em Cabo Verde.
“Começamos este projecto em 2016, numa altura em que o batuco estava praticamente morto. Desde então, registou-se um crescimento de quase 80%. Mas, infelizmente, houve muitos constrangimentos, não só por parte de agentes culturais, como também do próprio Ministério da Cultura, que não souberam dar o devido valor ao batuco”, afirmou.
Segundo Bob Mascarenhas, “o que o batuco conseguiu até hoje foi graças às batucadeiras, ao seu esforço, à sua dedicação”.
Mulheres que, sublinha, conciliam as responsabilidades familiares com a preservação de uma tradição ancestral.
Entre os principais desafios enfrentados pelos grupos, destacou a desigualdade de tratamento em comparação com outros artistas.
“Um artista de fora recebe quase mil contos, com tudo incluído. Um grupo de batuco com 16 elementos, se pedir 100 contos, é logo considerado caro pelos próprios organizadores ou pelas câmaras municipais”, criticou.
Além disso, apontou entraves burocráticos no processo de registo dos grupos, dificuldades de transporte e a escassez de oportunidades em festivais e actividades culturais no país.
Ainda assim, o presidente da Fundação Batuco mostra-se esperançoso tendo em conta a crescente adesão da juventude.
“Hoje, muitos grupos de batuco são compostos por jovens e crianças. Está no sangue. Se colocarmos batuco em qualquer lugar, mesmo sem aviso, vemos logo a adesão”, declarou.
Bob Mascarenhas reforçou o apelo à valorização destas mulheres e do género musical que representam.
“Está mais do que na hora de câmaras municipais, ministérios, Governo e empresas reconhecerem o trabalho das batucadeiras. São elas que mantêm o batuco vivo. E hoje, sem margem de dúvidas, o batuco é o passaporte de Cabo Verde”, apelou.
Não obstante as dificuldades, Bob Mascarenhas afirmou que estão a trabalhar para que o batuco venha a ser reconhecido como património mundial, um objectivo que considera realista, dada a força que o género já demonstra a nível nacional e internacional.
Por seu lado, a presidente do grupo de batuco Mon Don, Ivone Martins, lamentou a falta de iniciativas oficiais no Dia Nacional do Batuco, apontando que “hoje é Dia do Batuco, mas não há praticamente nada alusivo”.
Conforme afirmou, o “Festival Marapano”, realizado todos os anos na Praia, em celebração do Dia Nacional do Batuco, foi cancelado este ano por ausência de respostas às solicitações enviadas ao Ministério da Cultura e à Câmara Municipal e outras entidades.
Ivone Martins destacou ainda que um dos principais desafios dos grupos de batuco é a falta de palcos e de cachês para actuação, o que leva muitas batucadeiras a actuarem apenas em festas privadas como aniversários.
Apelou às instituições para incluírem regularmente grupos de batuco nas actividades culturais dos municípios e incentivou as batucadeiras a persistirem, pois “o batuco está na moda” e precisa de espaço para crescer.
O batuco, provavelmente o género musical mais antigo de Cabo Verde, tem raízes no século XIX e está profundamente associado às raízes africanas do arquipélago. É liderado por batucadeiras, mulheres que combinam canto‑resposta, percussão e dança em círculo, cantando sobre temas cotidianos, sociais e políticos.
TC/HF
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