Portugal: Imigrantes cabo-verdianos dos bairros da Penajóia e Raposo em Almada vivem sob o medo da demolição

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Portugal: Imigrantes cabo-verdianos dos bairros da Penajóia e Raposo em Almada vivem sob o medo da demolição
09/11/25 - 09:45 pm

***Por Feliciano Monteiro, da Agência Inforpress ***

Lisboa, 09 Nov (Inforpress) – Os imigrantes cabo-verdianos residentes nos bairros da Penajóia e Raposo, em Almada (Portugal), assim como os demais moradores, estão a viver sob o medo da demolição e exigem respostas da autarquia, do IHRU e do Governo.

A Inforpress esteve hoje nos dois bairros ilegais, onde conforme estimativa dos próprios moradores vivem mais de 2.000 famílias, sobretudo cabo-verdianos e santomenses, e constatou que não há saneamento, estradas, e água e energia eléctrica em poucas casas, através de “puxadas”.

Já em Penajóia o repórter da Inforpress presenciou crianças e adolescentes à procura de água num poço ao lado do bairro, onde está a ser construídas habitações sociais da autarquia e do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), dono dos terrenos de auto-construção.

Acompanhada de membros do Movimento Vida Justa, que segundo moradores  os tem ajudado nesta luta para não ficarem sem um tecto, a Inforpress encontrou logo à entrada do bairro do Raposo uma casa demolida, cuja família se encontra desalojada.

Em Penajóia o cenário é idêntico. O imigrante santomense Osvaldo Barros, de 52 anos, e a esposa foram trabalhar e os dois filhos à escola e quando regressaram encontraram a casa demolida com todos os seus pertences lá dentro, no passado dia 22 de Janeiro.

Este trabalhador, que vive em Portugal há três anos e que tem título de residência, avançou à Inforpress que fez um empréstimo para construir a casa para viver com a família, por não ter condições para pagar uma renda de 500/600 euros por um quarto.

Osvaldo Barros e a família não passaram a condição de “sem-abrigo” graças à uma pessoa que testemunhou o ocorrido e os acolheu em sua casa, onde vivem até hoje a aguardar pela resposta da autarquia, IHRU e do Governo.

Assim como os demais moradores de Penajóia, Barros saía de casa de manhã e só regressava à tarde/noite ao bairro, que não tem rede de esgoto, água ou luz eléctrica.

“Quero lembrar ao UHRU, à Câmara Municipal de Almada e ao Governo que somos imigrantes, mas, trabalhamos e fazemos descontos. Precisamos de uma casa assim como qualquer outro cidadão”, disse, acrescentando que continua a pagar os empréstimos que fez para construir a casa demolida pela autarquia.

Assim como Osvaldo Barros, está Jorge Veiga, de 36 anos. Veio para Portugal em 2017, e vive em Raposo há quatro anos, com mulher e filhos.

“Eu e os demais moradores já gastamos muito dinheiro, mas o IHRU quando vem para fazer a demolição não quer saber dos valores, se compramos o terreno, mesmo de forma ilegal, apenas vão mandar tudo abaixo”, disse, confessando que teme pela demolição da sua casa.

Este imigrante, natural de Santa Catarina, afirmou que não escolheram viver neste bairro por opção, mas, por causa do “salário baixo e renda alta”.

Na ocasião, lamentou o facto de durante todo este período de “perseguição” por parte do IHRU, autarquia e Governo, nunca terem tido apoio das autoridades cabo-verdianas, sobretudo da Embaixada de Cabo Verde em Portugal, que, lembrou, está sem embaixador desde Fevereiro.

Apesar das dificuldades, os entrevistados da Inforpress disseram que não arrependem de terem vindo para Portugal.

Os moradores do bairro de Penajóia, de acordo com o Movimento Vida Justa, enviaram uma carta aberta à Câmara Municipal de Almada, na qual pedem para serem ouvidos e incluídos num diálogo que permita encontrar “soluções dignas”.

Os mesmos também apelam à melhoria das “condições de segurança e dignidade dos moradores”, sublinhando que isso teria “um impacto positivo em todo o concelho" 

“Despejos e demolições não resolvem a crise da habitação, não é uma boa solução o Estado português deixar o Penajóia por baixo da ponte. Preconceito e culpabilização de quem não tem alternativas apenas alimentam discursos de ódio e violência, quando o que o nosso tempo mais precisa é de solidariedade e cooperação social”, lê-se na carta.

Apesar de toda a dificuldade, os moradores afirmam que mantêm viva uma comunidade solidária, com laços fortes e respeito.

Por isso, pedem a Câmara Municipal de Almada e às autoridades competentes que não os vejam como problema a eliminar, mas como parte da solução.

FM/JMV

Inforpress/Fim

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