Cidade da Praia, 22 Mai (Inforpress) – O Presidente da República, José Maria Neves, disse hoje que, nos 50 anos da Independência, Cabo Verde deu um "salto gigantesco", com ganhos em domínios como a saúde, educação e infraestruturação do país.
“Cabo Verde é hoje um país de rendimento médio e com grande credibilidade internacional”, afirmou o chefe de Estado, acrescentando que se conseguiu criar um Estado com instituições que funcionam e se fez a “transição para a democracia”, pelo que os cabo-verdianos têm motivos para comemorarem os ganhos destes 50 anos.
José Maria Neves fez estas considerações em entrevista à Inforpress, a propósito dos 50 anos da Independência de Cabo Verde, que se comemora no próximo dia 5 de Julho.
Quando Cabo Verde se tornou independente, José Maria Neves era um jovem adolescente, tendo acompanhado o percurso destas ilhas do Atlântico Médio. Foi chefe do Governo durante 15 anos.
“Nós conseguimos fazer muito nesses 50 anos, mas para continuarmos a viabilizar o país, e a ter um país moderno, próspero, com oportunidades, temos necessariamente que mudar muitas coisas”, alertou o chefe de Estado, acrescentando que, para a concretização deste desiderato, é preciso “fazer muitas reformas e construir consensos”.
Na sua opinião, há que “melhorar o nível do debate político” em Cabo Verde, para o país poder fazer face aos desafios dos próximos anos.
“Se continuarmos a fazer tudo na mesma, com certeza que não conseguiremos enfrentar os desafios do século XXI”, avisou o Presidente.
Para o desenvolvimento durável do país, enfatizou José Maria Neves, há que “abrir novos caminhos” e pensar de forma diferente, ou seja, “agir com mais sofisticação e mais celeridade”.
Instado sobre os que, em 75, abandonaram o país, alegando que Cabo Verde era “inviável” e, por conseguinte, não aguentaria seis meses, o Presidente da República declarou que alguns deixaram o arquipélago, porque “uns eram contra a ideia da independência e outros “não acreditavam nas possibilidades de o país viver enquanto Estado soberano”.
“Essas dúvidas também se puseram em 1980 [por ocasião do golpe de Estado de 14 de Novembro], quando houve a ruptura com a Guiné-Bissau”, indicou Neves.
Acrescenta que muitos consideraram que, fora de um quadro de unidade Guiné-Cabo Verde, “seria difícil a construção de um Estado independente”.
“Mas, graças à grande abnegação e à grande resiliência, os cabo-verdianos conseguiram viabilizar o país e Cabo Verde, hoje, a todos os títulos, é um país possível”, asseverou o mais alto magistrado da nação.
Para José Maria Neves, o desenvolvimento alcançado significa que “valeu a pena a independência e valeu a pena termos trabalhado de mãos dadas, desde 1975, para a construção de um país”.
Na sua perspectiva, os cabo-verdianos têm uma “grande ânsia de desenvolvimento”.
Nos primórdios da independência, o arquipélago contou com a mão amiga de países como Portugal, Angola, Moçambique e Tanzânia.
De acordo com o Presidente, a partir do “prestígio granjeado pelo PAIGC e por Amílcar Cabral na arena internacional”, Cabo Verde pôde contar com a amizade e a solidariedade de muitos países do mundo, nomeadamente de Portugal e Angola.
“Em 2001, quando assumi o governo, a situação financeira do país era extremamente difícil e Angola, através do Presidente José Eduardo Santos, deu-nos um grande apoio para fazermos a ponte, as reformas e conseguirmos estabilizar os fundamentais da economia”, reconheceu José Maria Neves.
O chefe de Estado lembrou, ainda, que Cabo Verde tem contado com a cooperação de vários outros países e de várias instituições financeiras internacionais.
Citando Amílcar Cabral, afiançou que, “por mais quente que seja a água da fonte, ela não cozerá o teu arroz”.
“Nós tivemos de fazer o nosso trabalho de casa para podermos cozer o nosso arroz”, afiançou, ajuntando que desde 1977 Cabo Verde é membro do sistema de Bretton Woods, aderiu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), ao Banco Mundial, podendo contar com o apoio dessas instituições internacionais.
José Maria Neves citou ainda outras instituições que desde sempre apoiaram Cabo Verde, como o Sistema das Nações Unidas, o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimentos e um conjunto de outros pacotes financeiros internacionais, como o Millennium Challenge Account.
“Tivemos dois pacotes do Millennium Challenge Account”, realçou o Presidente que indicou outros “importantes parceiros”, nomeadamente Holanda, Luxemburgo, a França, a Alemanha e, também, outros países africanos, designadamente a Nigéria, África do Sul, Argélia, Marrocos, Egipto e Tunísia.
“Os primeiros quadros cabo-verdianos na área da aviação foram formados na Tunísia”, recordou o chefe de Estado, realçando que Cabo Verde contou desde o início com uma “forte cooperação” da comunidade internacional.
Ao ser confrontado com a preocupação dos cabo-verdianos no concernente à saúde, reconheceu que o arquipélago “evoluiu muito” neste sector, mas que se deve acelerar passos em ordem a responder às necessidades da população.
“O índice de desenvolvimento humano, que saiu [há pouco tempo], mostra que ainda estamos a crescer, mas a crescer muito mais lentamente”, lamentou o Presidente.
Sublinhou que, para responder às demandas e às exigências das pessoas, é preciso que as coisas sejam feitas com “muito mais eficácia e muito mais eficiência”.
“Há reformas que temos de fazer, há recursos que temos de mobilizar para podermos responder aos desafios de hoje na área da educação, da saúde, mesmo na área de infraestruturação”, assegurou a fonte.
Nesta entrevista, o Presidente da República não ficou indiferente aos problemas da cidade da Praia no que diz respeito às acessibilidades.
“Hoje, temos vias aqui muito mais modernas, mas se continuarmos com essas mesmas vias, daqui a pouco a Praia vai ficar uma cidade intransitável”, assegurou Neves.
“Temos de ter novas vias, circuitos alternativos e temos de repensar todas as acessibilidades aqui na cidade da Praia”, sugere o chefe de Estado, concluindo que, caso contrário, “vamos nos bloquear”.
Para José Maria Neves, o que permitiu desenvolver o país até hoje já deu os resultados, pelo que “precisamos procurar novos caminhos, novas estratégias, acelerar o passo e ser muito mais eficaz”.
Cinco décadas depois, ainda há cabo-verdianos que vivem no limiar da pobreza extrema. Perguntado se esta situação não deve interpelar à consciência dos políticos, respondeu: “Claro, dos políticos e de todos os cabo-verdianos”.
“Quem escolhe os governos são as pessoas. O que precisamos aqui é de um forte equilíbrio entre o Estado e a sociedade. Precisamos de muito mais cidadania, a nível dos municípios, a nível dos governos, a nível também da sociedade civil, de muito mais responsabilidade e de muito mais participação cívica”, concluiu o Presidente.
LC/CP
Inforpress/Fim
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