Lisboa, 09 Nov (Inforpress) – O legado de Henrique Teixeira de Sousa, uma das figuras da literatura cabo-verdiana, foi celebrado hoje, em Lisboa, num evento que destacou o seu papel como romancista, mas também como médico, cientista, autarca e figura familiar.
O tributo fez parte das comemorações pelos 40 anos de "Capitão de Mar e Terra" e 30 anos de "Entre duas bandeiras", dois marcos literários de Henrique Teixeira de Sousa, e teve lugar no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), numa sessão moderada por João Estêvão, sendo que Joaquim Saial, um dos intervenientes principais, abordou os objectivos da celebração, destacando a importância do autor cabo-verdiano.
O filho do escritor homenageado, Henrique de Sousa, que foi um dos principais oradores, revelou que a sua intervenção seguiu uma linha cronológica da vida do pai, revisitando os seus diversos papéis ao longo do tempo.
"A minha intervenção é, de certo modo, cronológica, ou seja, seguindo a linha do tempo, desde que ele se formou até ao final da vida. Abordo os vários aspectos da vida dele como autarca, como médico, como romancista, como homem e, também, como pai de família", explicou.
De acordo com o filho, em declarações à Inforpress, um dos aspectos menos conhecidos sobre a trajectória de Teixeira de Sousa é sua postura apartidária, mesmo ao ocupar cargos públicos, conforme destacou o seu filho.
"Ele nunca revelou as suas opções políticas a ninguém e mesmo quando aceitou o cargo de autarca, pôs como condição que isso não estivesse conotado com ideologia", afirmou, referindo-se ao contexto político em que actuou.
Outro destaque foi ter sido o único médico na ilha do Fogo num “período crítico de fome”, entre 1947 e 1948 porque, conforme Henrique de Sousa, ele teve de arranjar um sítio para colocar as pessoas afectadas pela fome para depois poder fazer do hospital, um hospital.
O evento também serviu para reflectir sobre a preservação do legado literário de Teixeira de Sousa, sendo que actualmente, a Casa das Bandeiras, dirigida por Henrique Pires, na ilha do Fogo, é responsável pela gestão do seu espólio.
"Nós cedemos os direitos sobre as obras dele e a Casa das Bandeiras tem vindo a publicar, republicou esse livro e salvou o “Capitão de Mar e Terra”. E estão a pensar em continuar a publicar, talvez com o auxílio do Estado cabo-verdiano", explicou o filho, destacando os esforços para manter viva a memória do autor.
O encontro culminou com um debate, proporcionando uma oportunidade de partilhar ideias e discutir a relevância contemporânea da obra de Teixeira de Sousa e será concluído com um jantar comemorativo.
A ideia das celebrações dos 40 anos de “Capitão de Mar e Terra” e os 30 anos de “Entre duas bandeiras” surgiu de um grupo de mais de 15 pessoas, que se conheceram há 60 anos no então Liceu Gil Eanes.
Henrique Teixeira de Sousa, natural da ilha do Fogo, faleceu aos 86 anos, em Algés, Portugal, em 2006.
DR/HF
Inforpress/Fim
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