Mindelo, 02 Maio (Inforpress)- O presidente da Associação Ambientalista Biosfera 1 disse hoje que a sustentabilidade parece muitas vezes estar fora do alcance daquilo que é o acordo de pesca entre Cabo Verde e a União Europeia (U E).
Tommy Melo falava durante uma conversa aberta sobre o Protocolo de Aplicação do Acordo de Parceria no Domínio da Pesca entre a República de Cabo Verde e a União Europeia (UE), no Centro Oceanográfico do Mindelo.
“Apesar de se estar a colocar verbas, a disponibilizar motores e embarcações, a captura de tunídeos em Cabo Verde nos últimos 20 anos tem diminuído. Não só em quantidade, como em tamanho médio. E vimos que as capturas da própria União Europeia têm diminuído. Portanto, como é que podemos falar que nem estamos a chegar às quotas estipuladas se está tudo a diminuir”, questionou o ambientalista, para quem “algo não bate certo com essa matemática”.
Além disso, segundo a mesma fonte, a sustentabilidade que se mostra nas apresentações indica que os tubarões também não são espécies visadas e são muito pouco capturadas, o que contraria estudos científicos.
“Já sabemos por estudos científicos e em altas revistas de impacto que os tubarões estão a diminuir em Cabo Verde. Eu sou um homem que mergulha há 30 anos e falo por experiência própria. Os tubarões estão a desaparecer de Cabo Verde. Portanto, eu proponho realmente que se façam estudos aqui em Cabo Verde”, argumentou.
Tommy Melo disse acreditar que a Comissão Internacional para a Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICAT) tem um conjunto de dados, mas acredita que a situação de Cabo Verde possa estar dissolvida no meio dos dados do norte Atlântico, o que justifica os dados apresentados pela comissão referentes aos tunídeos e tubarões em Cabo Verde.
“Eu não percebo o que está a acontecer. Como é que a ICAT pode dizer que temos quantidades de atuns, que os nossos tubarões estão bem, se as capturas têm vindo a diminuir drasticamente, o tamanho médio dos atuns tem vindo a diminuir, os tubarões desapareceram das nossas águas e os dados da ICAT ainda mostram que tudo está bem”, questionou o presidente da Biosfera.
Por causa disso, Tommy propôs que o Instituto do Mar e outras instituições ligadas à pesquisa em Cabo Verde comecem a fazer estudos nas águas cabo-verdianas para que se possa entender realmente o que é que se passa.
Outra questão que mexe com a sustentabilidade, segundo a mesma fonte, tem que ver com a ausência de dados sobre bycatch de tartarugas (captura acidental) pelas embarcações industriais em Cabo Verde.
“Eu não falo isso só por falar, já existem três artigos científicos em revistas de elevado factor de impacto, com grande credibilidade internacional, que demonstram a veracidade disso que eu estou aqui a dizer. Eu já estou nisso há pelo menos 18 anos e há 18 que ouço dizer que vamos criar medidas de mitigação contra bycatch e todos os anos voltamos a falar do mesmo e também os observadores de bordo continuam a não existir”, criticou.
Além disso, o biólogo e ambientalista considerou que Cabo Verde deve promover a transparência e criar comissões mistas que integrem os stakeholders ligados à pesca.
“Falam de transparência dos acordos de pesca, mas nós recebemos o acordo de pesca goela abaixo quando ele já está assinado. Nós, a sociedade civil, as associações de pescadores, as universidades queremos nos sentar nas comissões, discutir, nem que sejam discussões prévias, antes de sentar na mesa com a União Europeia. E já estamos a pedir isso há vários anos”, vincou.
Por sua vez, o presidente da Associação dos Pescadores de São Pedro, Luís Andrade, pediu mais transparência e participação nas discussões antes de assinar o acordo de pesca, salientando que os recursos têm sido cada vez mais escassos para as comunidades pesqueiras.
CD/JMV
Inforpress/Fim
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