Director do Festival Sete Sóis Sete Luas sublinha “dificuldades e desafios” que ameaçam a continuidade do festival

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Director do Festival Sete Sóis Sete Luas sublinha “dificuldades e desafios” que ameaçam a continuidade do festival
05/11/24 - 01:30 am

Tarrafal, 05 Nov (Inforpress) – O director do Festival Sete Sóis Sete Luas (FSSSL) abordou os desafios enfrentados pelo projecto cultural em Cabo Verde, ressaltando a falta de apoio financeiro e o impacto de políticas culturais inadequadas ameaçam a sua continuidade.

Em entrevista à Inforpress, Marco Abbondanza avançou que apesar de o festival ter um histórico sólido de actividades, (32 anos a nível internacional e 23 em Cabo Verde), que valorizam a música local e promovem intercâmbios culturais, as candidaturas ao financiamento “muitas vezes são superadas por entidades sem experiência na área”.

Esse cenário, conforme disse, “cria um sentimento de frustração”, pois, segundo o mesmo, existem programas direccionados para a cultura, nomeadamente para o apoio aos músicos, mas que, na prática, ignoram projectos de mérito consolidado.

Marco Abbondanza lamentou assim a falta de apoio sustentável à cultura em Cabo Verde, destacando que as políticas de financiamento priorizam projectos com grandes subsídios, deixando iniciativas de médio porte, como o próprio festival, à margem.

Nesta senda, defende que “é preciso coragem e mudança nas políticas de financiamento cultural, e que as entidades culturais merecem mais atenção e investimento constante para criar empregos, fortalecer o turismo cultural e valorizar a identidade cabo-verdiana”.

Alerta que é fundamental repensar as políticas para garantir que a cultura em Cabo Verde possa prosperar.

“É uma pena que instituições como a União Europeia concentrem recursos em “super apoios” de milhões de euros, dificultando a captação de financiamento para projectos de médio formato e de relevância cultural, como o SSSL”, declarou.

Para o responsável, “essa política de concentração de recursos, aliada à burocracia envolvida, acaba favorecendo principalmente entidades sedeadas na Europa, e negligencia projectos culturais sólidos em Cabo Verde”.

 

O festival, que já recebeu apoio europeu no passado, segundo o mesmo, é um exemplo de iniciativa enraizada nas comunidades locais e que desempenha um papel importante na valorização da cultura cabo-verdiana.

Porém, o director critica a falta de linhas de financiamento voltadas para o fortalecimento de instituições culturais de médio porte, sugerindo que isso limita o potencial de crescimento cultural de Cabo Verde, especialmente em regiões como Brava, São Filipe, na ilha do Fogo, Ribeira Grande de Santo Antão, Tarrafal de Santiago e a ilha do Maio.

Para o dirigente do Sete Sóis, investir em cultura “não deve ser visto como um gasto, mas como um investimento”, ressaltando que sem apoio, muitos talentos locais, especialmente músicos formados no festival, acabam emigrando por falta de oportunidades.

A crítica estende-se também à falta de diálogo e colaboração com o Governo de Cabo Verde e com outras entidades.

Conforme sublinhou, apesar do reconhecimento internacional do festival, inclusive pelo ex-presidente da República, Jorge Carlos Fonseca que reconheceu o festival como sendo um dos principais promotores da cultura cabo-verdiana no exterior, “a falta de interação institucional e de reconhecimento interno impede o avanço cultural como um todo”.

Neste sentido, o director defende ser “urgente” a revisão das políticas culturais e ampliar o suporte a projectos de médio porte, garantindo que a cultura cabo-verdiana seja valorizada e sustentada de forma “mais equilibrada e acessível”, promovendo o fortalecimento das raízes culturais e o desenvolvimento contínuo do sector.

Este dirigente afirmou que apenas a Embaixada da Espanha tem contribuído com uma “cooperação estável”, possibilitando a vinda de artistas espanhóis para intercâmbios em Cabo Verde.

O director aproveitou para destacar a importância dos medias para dar voz a essas questões e em lutar para que projectos culturais locais possam receber o devido reconhecimento e suporte.

O FSSSL é um projecto de uma rede cultural que envolve 30 cidades de 12 países, incluindo Cabo Verde, Brasil, França, Itália, Marrocos, Espanha, Eslovénia, Croácia, Roménia e Tunísia, promove projectos relacionados com música popular, étnica e tradicional, e artes plásticas. 

Cabo Verde foi o primeiro país fora da Europa a entrar na rede SSSL, em 1998 e desde 2012, o ex-Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, é o presidente honorário do Festival.

MC/JMV

 

Inforpress/Fim

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