Genebra, Suíça, 09 Set (Inforpress) – O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos advertiu hoje contra políticos populistas que em vários países europeus e nos Estados Unidos fazem dos migrantes, refugiados e minorias “bodes expiatórios”, podendo desencadear “ações odiosas”.
Intervindo na abertura da 57ª sessão ordinária do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que decorrerá até 11 de outubro em Genebra, Suíça, Volker Türk, ao fazer a tradicional atualização do relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no mundo, defendeu que a classe política deve zelar pela sua salvaguarda, mas apontou que muitas vezes ocorre o oposto.
“Há os políticos, amplificados por alguns meios de comunicação social, que fazem dos migrantes, dos refugiados e das minorias bodes expiatórios, como vimos, por exemplo, em períodos eleitorais na Áustria, em França, na Alemanha, na Hungria, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, para citar alguns”, apontou.
Segundo o responsável das Nações Unidas, estes políticos “capitalizam a ansiedade e o desespero, colocando uns contra os outros, procurando distrair e dividir”.
“A História tem-nos mostrado que palavras odiosas podem desencadear ações odiosas. Uma liderança política assente nos direitos humanos e num debate baseado em provas é o antídoto para tudo isto. Esta é a única forma de enfrentar os verdadeiros desafios que as pessoas enfrentam em áreas como a saúde, a habitação, o emprego e a proteção social”, defendeu.
Quase a cumprir metade do seu mandato de quatro anos, o alto-comissário sustentou que a humanidade vive atualmente “numa bifurcação”, precisando de escolher entre um “despertar e mudar as coisas para melhor”, ou aceitar “um «novo normal» traiçoeiro” e caminhar “sonâmbula para um futuro distópico”.
“O «novo normal» não pode ser uma escalada militar interminável e viciosa e métodos de guerra, controlo e repressão cada vez mais horríveis e tecnologicamente ‘avançados’. O «novo normal» não pode ser […] a disseminação gratuita de desinformação, sufocando os factos e a capacidade de fazer escolhas livres e informadas [nem a] retórica inflamada e soluções simplistas, que eliminam o contexto, as nuances e a empatia, abrindo caminho para o discurso de ódio e para as consequências terríveis que inevitavelmente se seguem”, declarou.
Advertindo também que o «novo normal» não pode ser “o descrédito das instituições multilaterais ou as tentativas de reescrever as regras internacionais, destruindo as normas universalmente acordadas”, Volker Türk apelou a que, coletivamente, se faça “a escolha de rejeitar o «novo normal» e o futuro distópico que ele apresentaria” e “abraçar e confiar no pleno poder dos direitos humanos como o caminho".
Durante esta 57ª sessão, que se prolonga por cinco semanas, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas passará em revista os desenvolvimentos em matéria de direitos humanos a nível mundial.
Na próxima semana, debaterá a instabilidade na Venezuela na sequência das eleições presidenciais de 28 de julho, com a agenda a prever, como já tem ocorrido nas anteriores sessões, discussões sobre os efeitos das operações militares da Rússia na Ucrânia e de Israel na Faixa de Gaza.
Inforpress/Lusa
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