Cidade da Praia, 31 Jul (Inforpress) – A diretora da Associação Karibú e membro do Conselho da Casa África, Nicole Ndongala, alertou que mulheres que fogem da guerra, fome e de abusos graves enfrentam “barreiras muito drásticas” e múltiplos riscos durante o percurso migratório.
“As mulheres sofrem mais. São escravizadas, mercantilizadas, sexualizadas e é ainda pior”, afirmou Nicole Ndongala durante uma conferência sobre migração africana desde uma perspetiva de género no âmbito do programa de campus África 2025 realizada em Tenerife Canárias.
Lembrou que nas rotas de travessia muitas recorrem a métodos perigosos para interromper o ciclo menstrual por falta de condições básicas.
Segundo a mesma fonte, “grande parte destas mulheres viaja de forma irregular, fugindo da guerra, da fome, de casamentos forçados, da mutilação genital feminina e de outras violações de direitos humanos”, em busca de melhores condições de vida.
São “situações extremas que as obrigam a arriscar percursos longos e perigosos”, atravessando desertos e fronteiras “sem garantias de segurança”.
“No deserto não há água, não há compressas. Muitas acabam por utilizar produtos sem controlo, apenas para bloquear a menstruação. Tudo isso tem consequências a longo prazo”, sublinhou.
Acrescentou ainda que além dos riscos de saúde, as mulheres grávidas enfrentam discriminação.
“Uma mulher grávida paga o dobro que um homem para subir numa piroga. E quando a gravidez já está avançada, muitas são obrigadas a ficar na fronteira, em condições higiênicas precárias”, denunciou.
Destacou que em muitos casos as mulheres são vítimas de violência sexual, sublinhando que “não é que uma mulher queira ser violada, mas muitas vezes não têm outra opção senão ceder a essa situação. Algumas dizem que se abandonaram a si mesmas, que fizessem com o corpo o que quisessem”, reforçou.
A mesma sublinhou que quando chegam à Europa estas mulheres raramente têm as suas histórias ouvidas, os meios de comunicação “falam de números, falam de estatísticas”, mas que “é preciso falar de humanidade, falar de empatia”.
Nicole Ndongala considerou ainda que as mulheres migrantes devem ser vistas como agentes de mudança, deixando de ser vítimas. para serem mulheres em acção.
“Hoje, muitas são pilares não só da história de África, mas também da história do mundo”, afirmou.
No Dia da Mulher Africana, que se celebra hoje, Nicole Ndongala apelou: “Mesmo que nos tenham abusado, nada é capaz de destruir a nossa mente se colocarmos a nossa fortaleza à frente. Há saída. É preciso apostar na interculturalidade, na solidariedade e no apoio mútuo entre as mulheres”.
O Dia da Mulher Africana, celebrado a 31 de Julho, foi instituído em 1962, na Conferência das Mulheres Africanas, em Dar-es-Salaam, Tanzânia, e é um dia dedicado à reflexão sobre o papel e as conquistas das mulheres africanas na sociedade.
DV/AA
Inforpress/Fim
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