A partida dos jovens mudou Librão dos Engenhos

Inicio | Sociedade
A partida dos jovens mudou Librão dos Engenhos
29/12/25 - 04:53 pm

Assomada, 29 Dez (Inforpress) – Em Librão dos Engenhos o silêncio fala alto, as ruas estão quase vazias, poucas pessoas circulam e muitas casas com portas fechadas, enquanto os poucos jovens que ficaram continuam a sonhar com a partida.

Poucas pessoas à vista, portas fechadas e um silêncio que conta, por si só, a história de um lugar que vai ficando para trás, assim como tantas outras localidades que têm perdido jovens pela emigração.

Quem o diz é Cláudio Tavares, morador da localidade, que fala com nostalgia de um tempo em que as casas estavam cheias e a vida comunitária era mais intensa.

“Antigamente, numa casa viviam dez, doze pessoas. Hoje isso é muito difícil de ver”, recorda.

Segundo Cláudio Tavares, cerca de 95 por cento (%) dos jovens emigraram, deixando para trás uma comunidade envelhecida, sendo que muitos partiram inicialmente sozinhos, deixando os filhos aos cuidados dos avós, uma realidade que, segundo ele, já começa a ter impacto no comportamento das crianças.

“Isso afecta as crianças, na forma como crescem e se comportam”, afirmou.

Com o tempo, grande parte desses emigrantes acabou por mandar buscar os filhos, o que contribuiu ainda mais para o esvaziamento da localidade.

Hoje, Librão dos Engenhos é habitado sobretudo por idosos e alguns adultos, enquanto os poucos jovens que permanecem alimentam também o sonho de um dia partir.

A economia local assenta essencialmente na agricultura de subsistência e nas remessas enviadas pelos emigrantes.

Cláudio explicou que a falta de mão de obra jovem enfraqueceu a produção agrícola, tornando difícil manter a actividade como principal fonte de rendimento.

“A agricultura está quase no fim e sem jovens fica ainda mais difícil”, lamentou.

O abandono é visível nas casas fechadas, muitas delas ainda em bom estado, e segundo o morador, há proprietários com vontade de encontrar alguém para viver nessas casas, mas a falta de pessoas interessadas trava qualquer tentativa de repovoamento.

“Há casas fechadas, os donos até querem que alguém more nelas, mas não há quem fique”, explica

Apesar do cenário marcado pela estagnação, Cláudio acredita que Librão dos Engenhos ainda pode ter futuro, se forem criadas condições para fixar pessoas, sobretudo jovens.

Defendeu investimentos que incentivem a agricultura, pequenas iniciativas económicas e melhores condições de vida, capazes de transformar o desejo de partir num motivo para ficar

Librão dos Engenhos é, hoje, o retrato de uma localidade que resiste entre a memória do passado e a incerteza do futuro.

Um lugar onde o silêncio não é apenas ausência de som, mas o sinal claro de uma comunidade que espera ser novamente habitada, vivida e ouvida.

DV/HF

Inforpress/Fim

Partilhar