Cidade da Praia, 20 Mar (Inforpress) – A União Africana defendeu hoje que os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) devem ter um financiamento adequado para recuperarem as perdas relacionadas com os impactos negativos das mudanças climáticas, mas também realizar todo o seu potencial.
A proposta foi apresentada pela comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, da Comissão da União Africana, Josefa Sacko, durante a sua intervenção na 3ª edição da Conferência Anual de Política Externa (CAPE24), que decorre na Cidade da Praia, de hoje a sexta-feira, 22, sobre o tema central “Mudanças Climáticas e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento: Desafios e Perspectivas”.
Lembrou que os SIDS são os que menos contribuem para a crise climática, mas são eles que suportam o maior peso dos seus efeitos e que continuaram a ser ameaçados pela subida do nível do mar, pelos ciclones tropicais e extratropicais, pelo aumento da temperatura do ar, da superfície do mar e pela alteração dos padrões de precipitação.
Segundo a comissária, os dados disponíveis dão conta de que os efeitos das alterações climáticas na agricultura geram repercussões significativas e negativas noutros sectores, desde a indústria aos serviços e à exploração mineira.
Explicou que nos últimos 50 anos, os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento perderam cerca de 153 mil milhões de dólares devido aos riscos relacionados com o tempo, clima e a água, e sublinhou que estes efeitos podem ser invertidos através do aumento de investimentos de adaptação na agricultura.
“Por exemplo, é demonstrado que o aumento do investimento na conservação do solo e da água, de modo a atingir 40 a 90 por cento (%) das terras cultivadas ajudaria a evitar os impactos negativos das alterações climáticas nestes países”, precisou.
Neste sentido, defendeu que o acesso a um financiamento climático adequado será fundamental não só para ajudar os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento a recuperar as perdas, mas também para realizar todo o seu potencial.
Entretanto reconheceu que o financiamento climático para os SIDS continua a ser chocantemente baixo, sendo que em 2021 foram destinados apenas 2,0% do financiamento climático para os países insulares.
Apontou ainda que a frequência, a intensidade e a escala das catástrofes relacionadas com o clima tiveram um impacto negativo nos rácios da dívida em relação ao PIB nos SIDS, atrasando o seu progresso no desenvolvimento sustentável.
Para Josefa Sacko, é urgente que a comunidade internacional reforce o seu apoio técnico aos esforços dos SIDS para colmatar as lacunas nas infra-estruturas e construir economias mais diversificadas, sustentáveis e resilientes.
Na mesma linha apelou à comunidade global para que inicie rapidamente e intensifique as intervenções nesses países na elaboração de planos nacionais de adaptação, crescimento e desenvolvimento das microempresas e das pequenas e médias empresas, promoção do investimento directo estrangeiro, desenvolvimento da economia verde, incluindo o sector das energias renováveis.
Durante três dias, os conferencistas nacionais e internacionais vão debruçar-se sobre temas pertinentes como “O Índice Multidimensional de Vulnerabilidades (IMV) de Cabo Verde enquanto SIDS: Alinhamento nos mecanismos multilaterais da S.A.M.O.A. Pathway e novos meios de mobilização de recursos” e “Cabo Verde e a geopolítica dos oceanos: Construção de uma Agenda de Desenvolvimento Ancorada na Potencialização e Geração de Riquezas Internas”.
AV/HF
Inforpress/Fim
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