Tarrafal, 09 Mai (Inforpress) - Os representantes de Portugal, Guiné-Bissau e Angola enalteceram o valor das actividades que estão a ser realizadas em torno das comemorações dos 50 anos da libertação dos presos políticos no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.
Este reconhecimento foi feito publicamente no acto da abertura do simpósio internacional “Memórias e Diálogos de Resistência em Tarrafal de Santiago”, que decorre hoje e sexta-feira, no Campo de Concentração, no município do Tarrafal.
Em representação ao embaixador de Portugal, Odete Sarra, destacou que além de todas as cerimónias já realizadas, que se iniciaram no passado dia 1 de Maio, este simpósio internacional dota esta programação de uma dimensão científica, académica e de conhecimento a estas comemorações.
Pois, segundo a mesma fonte, este é um início de diálogos que “fazem justiça ao dever da responsabilidade de memória, recordar e reiterar a importância do Campo de Concentração como símbolo de resistência contra o regime fascista e colonialista”.
Sublinhou ainda que é preciso sempre destacar “o papel fundamental” que este lugar desempenhou na luta pela liberdade e pelos direitos humanos em Portugal e também nas ex-colónias, evocando igualmente as lutas pela libertação e independência em si, também impulsionadoras do 25 de Abril.
“Importa lembrar, recordar, estudar, investigar, afirmar, difundir que o Campo de Concentração, também conhecido como o Campo da Morte Lenta, foi um dos lugares mais sombrios da resistência, libertação e independência”, frisou, reforçando que no local “os seres humanos resistiam ao poder, à ditadura, enfrentando condições desumanas e injustiças”.
Nestas comemorações dos 50 anos da libertação dos últimos presos políticos deste campo, defendeu ser essencial que se perpetue o compromisso de honrar o legado dos que sofreram e lutaram neste lugar.
Odete Sarra falou ainda da participação activa de Portugal não só na participação das comemorações, mas também no envolvimento nas actividades, nomeadamente na instalação da exposição permanente, o acervo de títulos proibidos da biblioteca do campo, o auditório, o apoio à participação de uma artista portuguesa no festival da resistência, na participação dos investigadores portugueses neste Simpósio Internacional.
Igualmente, destacou neste quadro o financiamento concedido ao Projeto de Capacitação da Comunicação Social em Cabo Verde, sublinhando que “uma comunicação livre, independente e forte é a primeira defesa da liberdade de expressão, do pleno exercício da cidadania e de uma condição indispensável para a consolidação e salvaguarda das democracias e dos princípios que os regem”.
Por seu turno, o representante do embaixador da Guiné-Bissau, Ibraime Sanó, considerou este evento como sendo de resgate à memória e do exercício da reflexão, um momento de homenagem a centenas de cidadãos portugueses, angolanos, guineenses e cabo-verdianos que passaram anos encarcerados no Campo de Concentração do Tarrafal, conhecido como Campo da Morte Lenta.
“Encontramos também no Tarrafal a representação da memória histórica do nacionalismo dos africanos, nomeadamente angolanos, guineenses e cabo-verdianos, que lutaram pela libertação nacional dos seus povos contra o império colonial português”, mas também, sublinhou que representa algo que foi essencial para a luta dos povos, “a consciência da solidariedade estrutural do anti-fascismo e do anti-colonialismo contra a ditadura em Portugal e contra o império colonial”.
Neste campo, realçou que perderam a vida dois guineenses, que também foram sepultados no cemitério deste Campo de Trabalho, reforçando que nos acontecimentos de 1 de Maio de 1974, dia da libertação dos presos políticos, nenhum preso político guineense foi sepultado no Campo de Trabalho pois, os últimos 52 presos políticos guineenses, foram libertados em Julho de 1969, sete anos depois de terem sido internados neste Campo.
Este representante parabenizou o Governo de Cabo Verde pela iniciativa e responsabilidade de levar a candidatura do Campo de Concentração a Património Mundial, o que segundo o mesmo vai “preservar e honrar desta forma a memória daqueles que sobreviveram pelas nossas liberdades”, reiterando a determinação da Guiné-Bissau em fortalecer a cooperação e o envolvimento nesta jornada histórica para melhorar o peso histórico negativo do campo.
A representante da embaixadora de Angola, Júlia Machado, também reconheceu que estes actos são oportunidades para se render homenagem a todos aqueles que passaram pelo Campo de Concentração, nomeadamente, 340 portugueses no período de 1936 a 1956, 107 angolanos, já no período de 1961 a 1974 e nesta mesma época 100 guineenses e 20 cabo-verdianos, dos quais alguns morreram no local.
A comemoração dos 50 anos da libertação dos presos políticos, segundo a representante, deve ser vista como um momento de reflexão para se tirar lições desse passado histórico comum de Portugal, de Angola, de Cabo Verde e da Guiné-Bissau.
“Esta homenagem a todos estes combatentes que passaram por aqui e que estiveram aqui presos por delito de opinião é uma oportunidade para nós dizermos, levantarmos todos nós a nossa voz para dizer Tarrafal, nunca mais”, disse, referindo-se ao Campo de Concentração.
Pois, considerou que este testemunho é um testemunho vivo e exemplar que deve ser ensinado às novas gerações, no sentido de que não só as gerações presentes, mas as gerações futuras, devem dar continuidade à luta pela liberdade, pela dignidade da pessoa humana, pela democracia e pelo primado da lei.
Sobre a apresentação da candidatura do Campo de Concentração a Património Mundial evidenciou que a Angola recebeu esta proposta de “bom grado” e que remeteu com toda a celeridade que o assunto exige aos órgãos centrais do Governo, a fim de se ter uma resposta, e se unir à Cabo Verde e os outros países nessa luta.
MC/CP
Inforpress/Fim
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