Mindelo, 16 Abr (Inforpress) – O controlador de tráfego aéreo Crisólito Oliveira considerou hoje que, como qualquer sistema humano exposto a níveis extremos de exigência, a profissão precisa de cuidados e mecanismos de suporte, não apenas disciplinares, mas também preventivos e humanos.
Em artigo de opinião
Ciente de que o assunto “causou alarme compreensível na sociedade cabo-verdiana”, o articulista considerou que a profissão se encontra exposta a “níveis extremos de exigência”, numa actividade de “alta complexidade e responsabilidade”, em que decisões rápidas “podem significar a vida de centenas de pessoas”.
No entanto, Kisó Oliveira considera “urgente” olhar para além do impacto imediato da notícia e questionar o que pode este episódio estar a revelar sobre as condições estruturais em que operam os profissionais que garantem a segurança dos céus de Cabo Verde.
Aliás, a mesma fonte chama atenção para o facto de organismos internacionais como a ICAO e o EUROCONTROL estarem “há anos” a alertar para a necessidade de programas estruturados de gestão do stress e apoio psicológico em serviços de navegação aérea.
“O relatório Critical Incident Stress Management in Air Traffic Control, da EUROCONTROL, é claro ao identificar que, em contextos de alta pressão, a ausência de apoio emocional pode levar a reações disfuncionais, incluindo o uso de substâncias como fuga ou compensação”, escreve o controlador de tráfego aéreo.
Na mesma linha, anota, a Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO), por sua vez, foi além e, no seu Boletim Eletrónico EB 2020/55, recomendou explicitamente que os prestadores de serviços de navegação aérea adoptem programas de suporte entre pares, formação em gestão emocional e acompanhamento psicológico contínuo como componentes estratégicos da segurança operacional.
Ou seja, conforme a mesma fonte, a segurança aérea começa com atenção a quem a garante, e que profissionais que operam diariamente em turnos longos, muitas vezes sozinhos, lidando com falhas técnicas, tráfego intenso e pressão institucional, “precisam de mais do que vigilância”.
“Precisam de protecção emocional, canais de apoio acessíveis e de uma cultura que não os estigmatize quando procuram ajuda”, concretizou Kisó Oliveira.
Por fim, o controlador de tráfego aéreo chama atenção para que o episódio não seja tratado como um caso isolado ou simplesmente como uma falha individual, antes, deve servir de alerta, chamada à acção e “oportunidade para repensar as políticas e práticas em vigor no sector da aviação civil cabo-verdiana”.
“É tempo de fortalecer, sim, os mecanismos de supervisão e responsabilidade, mas também de investir com a mesma seriedade em estratégias de prevenção, valorização humana e bem-estar psicológico no interior das nossas instituições”, sintetizou, pois, finalizou, o profissional de controlo de tráfego aéreo não é apenas um técnico, um ser humano, e, como tal, também precisa de “um sistema que o veja, o apoie e o proteja”.
AA/CP
Inforpress/Fim
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