*** Por Marli Coutinho, da Agência Inforpress ***
Santa Catarina, 28 Jun (Inforpress) - Os agricultores dizem-se mais cientes e conscientes de que a prática das queimadas traz consequências negativas para o ambiente e a agricultura em si, tendo casos em que as consequências vão deveras além do imaginário.
Nesta época em que muitos já iniciaram a faina agrícola, a Inforpress procurou alguns agricultores para falar sobre as queimadas, que, além de prejudicarem o meio ambiente, danificam o solo, mas também, muitas vezes têm sido originados incêndios que têm devastado várias áreas florestais.
No município de São Lourenço dos Órgãos, o agricultor João Pereira diz já ter iniciado a preparação dos seus terrenos e encontra-se à espera de mais alguns sinais da natureza para lançar os primeiros grãos no solo, mas acrescenta que este ano resolveu amontoar os entulhos num canto reservado para não praticar queimadas, na sequência de várias acções de sensibilização e comunicações feitas nos órgãos de comunicação social que o fizeram aperceber-se do quanto essa prática é “nociva” para a natureza.
“É algo que fazemos para que o terreno fique mais bonito, mas todos os sinais que estamos a ter da natureza nos mostra que temos de mudar certas práticas”, disse este agricultor, sublinhando que as mudanças climáticas são cada vez mais evidentes e que ano após ano a situação está mais “caricata”.
“Foram muitos anos a usar a natureza de forma indevida e agora vamos ter de ser mais ligeiros, diminuir as nossas acções para ver se esse cenário se reverte”, lamentou João Pereira. O agricultor aponta como consequências das más práticas humanas a pobreza do solo e a falta de chuva, chuvas escassas e chuvas que, quando aparecem, são de características torrenciais.
Bem próximo deste agricultor a Inforpress encontrou Mariana Lopes, que, por sua vez, decidiu semear o milho e o feijão a seco na esperança de que a chuva venha nos próximos dias, permitindo assim ter um ano agrícola melhor.
Quanto às queimadas, Mariana Lopes contou que há alguns anos deixou de praticá-las, pois começou a frequentar algumas formações ministradas por entidades ambientais que sempre alertaram os participantes para as consequências das queimadas.
Uma prática que, segundo a mesma, foi complicado deixar de lado, mas que aos poucos aprendeu a dar outras utilidades aos entulhos dos terrenos, passando a utilizá-los como adubo.
Em Figueira das Naus, já no município de Santa Catarina, um outro concelho da região Santiago Norte, Auxilia Borges, uma líder dessa comunidade, avançou que já começaram a preparar os terrenos, mas que as queimadas se encontram fora das suas práticas, principalmente depois do incêndio ocorrido em Abril de 2023 no Parque de Serra Malagueta, e até hoje estão a viver na pele as consequências deste trágico acontecimento que até vidas ceifou.
Por ser uma prática muito utilizada em Cabo Verde, o Governo tem emitido comunicados, declarações, entre outras iniciativas apelando aos agricultores a não usarem o método das queimadas considerando que muitas vezes “essa prática é feita de maneira indiscriminada e sem acompanhamento, causando danos ao solo e ainda pode provocar incêndios”.
O Governo, através do MAA, tem tentado sensibilizar os agricultores mostrando que a queimada, além de eliminar os restos vegetais que ajudam na formação da matéria orgânica do solo, prejudicam a qualidade do ar pela libertação de gases que contribuem para o aquecimento global.
Por ocasião do Dia Mundial do Ambiente, assinalado a 5 de Junho, nas comemorações oficiais que foram realizadas no município de São Lourenço dos Órgãos, o secretário do Estado para Economia Agrária, Miguel Ângelo da Moura, reforçou o apelo para se evitar as queimadas e o presidente do Serviço Nacional de Proteção Civil e Bombeiros (SNPCB), Domingos Varela, fez juntar à sua voz ao do secretário neste apelo.
Esta luta tem sido contínua a nível nacional e na região Santiago Norte. O comandante regional da Protecção Civil e Bombeiros, Amaro Varela, tem vindo a sensibilizar as comunidades para evitarem esta prática, pois a região foi a que mais registou incêndios durante o ano de 2023.
Segundo um artigo do MAA, intitulado “Linhas orientadoras para a prevenção de incêndios florestais em Cabo Verde”, “muitas das ignições que dão origem aos maiores incêndios estarão associadas à prática da roça, queimando restos vegetais na preparação do terreno para as culturas que entrarão imediatamente após as primeiras chuvas. Mas outras ignições que causaram danos significativos foram também associadas a outras práticas agrícolas, como a recolha de mel por fumigação, ou simplesmente ao cozinhar alimentos, aquecer café durante os períodos de trabalho agrícola”.
Todas estas práticas, segundo o documento são “qualquer modo, comportamentos de risco associados a trabalhos no campo que estarão na origem dos incêndios mais graves.
Ainda, segundo o Banco Mundial, a larga maioria dos incêndios têm origem em queimas e queimadas agrícolas, sendo que os fogos são responsáveis por uma parte importante das emissões globais de gases com efeito de estufa (as emissões dos incêndios são superiores às do Japão, o sexto maior emissor de dióxido de carbono do mundo).
Além do seu impacto no aquecimento global, as queimas e os incêndios são também nefastos para a saúde humana, devido à emissão do chamado “carbono negro”, uma componente das partículas finas que se infiltra nos pulmões e aumenta significativamente o risco de se morrer de doenças cardiorrespiratórias, AVC e cancro, além de provocar alterações de comportamento nas crianças.
A Organização Mundial de Saúde calcula que a poluição do ar mate anualmente cerca de sete milhões de pessoas no mundo, entre os quais 650 mil crianças.
MC/CP
Inforpress/Fim
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