***Por Simão Rodrigues, da Agência Inforpress***
Cidade da Praia, 09 Abr (Inforpress) – A Associação Ambientalista Biosfera está a intensificar uma campanha internacional, visando soluções para retirar os lixos recolhidos nos últimos 10 anos na praia dos Achados, em Santa Luzia, reserva natural, e que já ultrapassam as 50 toneladas.
Considerada cientificamente uma reserva natural, onde 40 por cento de tartarugas desovam, os lixos recolhidos durante este período, segundo avançou o co-fundador e primeiro presidente da Biosfera, Tommy Melo, permanece nesta única ilha desabitada do país, por falta de soluções.
É que por ser uma reserva natural, onde o “extenso areal da praia dos Achados recebe a desova das tartarugas marinhas Caretta caretta, torna-se praticamente inadmissível a utilização de maquinarias na ilha, explicitou este biólogo marítimo, para quem, esta campanha é destinada ao público nacional e internacional.
“Muitos destes resíduos são plásticos, toneladas de redes e materiais de pesca descartados, sendo que muito desse lixo vem dos países da Costa Ocidental Africana e que desembocam nesta ilha deserta”, revelou este especialista, assegurando que, Santa Luzia, apesar de ser uma ilha desabitada, sofre as consequências das perturbações humanas, indirectamente, pela quantidade de lixo que dá à costa, anualmente.
“A ilha já tem amontoada uma grande quantidade de lixos recolhidos, através de campanhas que têm envolvido uma grande quantidade de voluntários, nacionais e internacionais, sem que se tenha encontrado soluções para o transporte destes detritos para fora da ilha”, observou.
Realçou que, por cada campanha de limpeza, têm recolhido dezenas de toneladas de sujeiras, pelo que se estima que a ilha já tem 50 ou mais toneladas de lixo para serem retiradas.
“Já tentamos fazer alguma parceria com as forças armadas dos Estados Unidos e agora estamos em busca de parcerias com as forças armadas de Portugal, em busca de novas ideias ou ferramentas como helicópteros para nos ajudar a tirar esses lixos da ilha de Santa Luzia”, explicou Melo.
Adiantou que a Biosfera já tem contactos com alguns parceiros internacionais, concretamente algumas fábricas especializadas no aproveitamento das redes de pescas, já que cerca de 90 por cento (%) desses lixos são constituídos por materiais de pesca como redes, linhas, bóias de entre outros, para avaliar a qualidades destes lixos, visando a sua exportação para as unidades de transformações fora do país.
“Fábricas, por exemplo, que confeccionam meias, de entre outras peças de vestuário, e sapatilhas a partir dos lixos. Estamos a estudar estas possibilidades junto destes parceiros internacionais”, revelou Tommy Melo, dando conta de que a Biosfera conta, nesta altura, com uma fábrica de plástico – Plasticina – instalada recentemente em São Vicente e que está na sua fase experimental de confecção dos materiais escolares como jogos, carteiras e cadeiras.
“Uma forma encontrada de transformar os nossos lixos em algo que seja útil, por exemplo às crianças”, realçou Tommy Melo aos jornalistas da imprensa cabo-verdiana especializada em ambiente, no âmbito do Projecto Terra África que envolve jornalistas de Cabo Verde, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Guiné e Senegal.
Considerou, contudo, que a fábrica implantada pela Biosfera não está projectada para gerar lucros, já que a quantidade de lixo em Cabo Verde que poderá ser transformada e reciclada não se afigura como a porção adequada para uma linha de montagem de equipamentos do tipo, para venda.
SR/HF
Inforpress/Fim
Partilhar