Prémio Oceanos 2024: José Luiz Tavares “contente” pelo facto de seu livro chegar às meias finais

Inicio | Cultura
Prémio Oceanos 2024: José Luiz Tavares “contente” pelo facto de seu livro chegar às meias finais
25/08/24 - 10:09 am

Lisboa, 25 Ago (Inforpress) – O poeta cabo-verdiano José Luiz Tavares, semifinalista do Prémio de Literatura em Língua Portuguesa Oceanos, com a obra “Perder o Pio a Emendar a Morte”, mostrou-se hoje “contente” pelo facto de o livro chegar às meias-finais do prémio.

“Fico contente pelo facto de o livro chegar às meias-finais do prémio. Não que isso seja grande glória, recorde-se que o livro venceu o prémio Ulysses em 2022 entre seis centenas de obras concorrentes, e o autor já foi três vezes semifinalista deste prémio, mas porque dá uma certa visibilidade e à editora que o publicou, uma casa pequena, a The Poets and Dragons Society, mas muito empenhada, que me acolheu depois da morte do meu anterior editor”, afirmou.

Para além do cabo-verdiano José Luiz Tavares, a portuguesa Hélia Correia e o moçambicano Mia Couto estão entre os 60 autores semifinalistas do Prémio de Literatura em Língua Portuguesa Oceanos, anunciaram na sexta-feira os organizadores do concurso literário.

Este ano, o prémio contou com 2.619 livros inscritos, submetidos a dois júris especializados, um de prosa e outro de poesia, formados por profissionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal.

Em declarações à Inforpress, José Luís Tavares admitiu que a única surpresa é por ser um livro na contracorrente de toda a poesia em língua portuguesa, e por este livro ser “muito duro”, quer nas suas motivações filosóficas, que partem, contudo, de um indisfarçável cagaço existencial, quer na sua linguagem, não apocalíptica, ainda que veemente, escrito em poucos dias, logo no início da pandemia do coronavírus.

“Não é um livro sobre a pandemia, mas uma maturada e increpante reflexão, sem afrouxar no trabalho oficinal da linguagem e na dureza habitual dos meus pressupostos poéticos e éticos, sobre o homem em situação limite. É também um livro sobre o próprio acto de criação, do engendramento da beleza e do próprio sentido do humano quando temos apenas o horizonte da morte física ao nosso alcance”, explicou.

Esta notícia chega também num momento particular, em que o poeta está a escrever dois livros de “ambição épica, ainda que uma épica em tom menor, um em língua portuguesa e outro em língua cabo-verdiana.

“O livro em língua cabo-verdiana era um projecto que estava planeado para bem mais tarde, mas de repente, um pequeno pormenor duma visita que fiz recentemente ao meu chão natal, fez desencadear o acto da escrita, na língua que me é natural, e que me pôs num estado de exaltação tal, jamais sentido durante a escrita de um livro”, esclareceu.

Quanto ao outro, José Luiz Tavares disse que tem ambições de fazer uma leitura da história de Cabo Verde ligando-o “a um certo entendimento” do seu presente como povo, nação e civilização humana, com os concomitantes complexos e mistificações identitárias que vêm fazendo escola cada vez com maior e público descaramento.

“Espero conseguir oferecer ambos ao meu país nos cinquenta anos da nossa independência, tenha-se o entendimento que se tiver dela. Como diria o outro, história é história”, afirmou Tavares.

José Luiz Tavares nasceu no dia de Camões, 10 de Junho, em 1967, em Txonbon, cercanias do antigo Campo de Concentração, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde.

Estudou Literatura e Filosofia em Portugal, onde vive em exílio voluntário, dedicado à sua obra.

Publicou 22 livros desde a sua estreia em 2003, com Paraíso Apagado por um Trovão, que, segundo o autor, “vêm pondo a nu a mediocridade do panorama poético cabo-verdiano, apesar dos seus inchados pergaminhos, via certo Caliban e outras mirabílicas misérias”.

Em 2023 reuniu a sua poesia inacabada no volume “Como um Segredo na Boca do Universo – Obra completa – Mente Inacabada”, um tijolo de 1500 páginas, “apropriado para entupir a boca dos seus inumeráveis, ainda que ocultos e merdosos, inimigos”.

O seu último livro publicado Um Preto de Maus Bofes “é um acerbo ajuste de contas consigo próprio, com o mundo, a literatura, a morte, a glória e a posteridade”.

É o escritor mais premiado de sempre de Cabo Verde. Recebeu, no seu país e no estrangeiro, entre outros, os seguintes prémios: Prémio Cesário Verde/CMO, Prémio Mário António de Poesia/Fundação Calouste Gulbenkian, Prémio Jorge Barbosa/Associação de Escritores Cabo-verdianos, Prémio Pedro Cardoso/Ministério da Cultura de Cabo Verde, Prémio de Poesia Cidade de Ourense, Prémio BCA/Academia Cabo-verdiana de Letras, Prémio Vasco Graça Moura/INCM, Por três vezes consecutivas recebeu o Prémio Literatura para Todos, do Ministério da Educação do Brasil, Prémio Ulysses/ The Poets and Dragons Society, Bolsa Fundação Eça de Queirós.

Foi finalista duas vezes do prémio Correntes d’escritas, finalista do Pen Club Português, semifinalista do Prémio Portugal Telecom de literatura e Oceanos de Língua Portuguesa.

Os seus livros integram o Plano Nacional de Leitura de Cabo Verde e de Portugal.

Está traduzido para inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, mandarim, neerlandês, russo, finlandês, catalão, galês e letão. Traduziu Camões e Pessoa para a língua cabo-verdiana.

Não aceitou, até agora, nenhuma comenda ou medalha.

JMV/AA

Inforpress/Fim

Partilhar