Pequim, 20 Out (Inforpress) – Um dos encontros mais importantes da política chinesa arranca hoje, com a elite do Partido Comunista a reunir-se à porta fechada para delinear as prioridades económicas e sociais da China para os próximos cinco anos.
O quarto plenário do Comité Central, que deverá durar quatro dias, servirá para finalizar o plano quinquenal 2026-2030, documento que orienta a estratégia do país até ao final da década. A reunião decorre num contexto de tensões comerciais com os EUA e antes de um possível encontro entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e o homólogo norte-americano, Donald Trump, à margem de uma cimeira regional.
Com cerca de 370 membros, o Comité Central reúne-se normalmente sete vezes por ciclo de cinco anos. Estas sessões visam reforçar a coesão interna em torno da agenda do partido, podendo também incluir mudanças de pessoal, embora os detalhes só sejam divulgados posteriormente.
O conteúdo integral do plano será anunciado apenas em março de 2026, durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional, mas analistas não antecipam mudanças profundas face aos planos anteriores. Segundo Lynn Song, economista do ING Bank, “não há razão para esperar uma rutura radical”.
A economia chinesa deverá crescer 4,8% este ano, valor próximo da meta oficial. A crise imobiliária, o excesso de capacidade industrial e a guerra comercial com os EUA continuam a pesar sobre o desempenho.
Entre as prioridades estão o estímulo ao consumo e ao investimento privado, o controlo do excesso produtivo e a liderança tecnológica em áreas como a inteligência artificial. A aposta na autossuficiência, nomeadamente na produção de semicondutores, deverá acelerar à medida que Washington reforça os controlos à exportação. Segundo Ning Zhang, economista do banco de investimento UBS, isso implicará mais investimento chinês em tecnologia avançada.
Outro ponto-chave é saber se haverá mudanças mais ambiciosas na política de estímulo ao consumo. Até agora, Pequim adotou medidas graduais, como subsídios à infância, créditos ao consumo e incentivos à renovação de eletrodomésticos e veículos. Zhang considera que “estimular o consumo é hoje mais importante do que nunca”, mas lembra que a confiança dos consumidores continua fragilizada pelo colapso do setor imobiliário.
Casos como a guerra de preços no setor automóvel ilustram os riscos da concorrência excessiva. Ao mesmo tempo, o aumento das exportações chinesas para países do Sudeste Asiático e África tem gerado novas fricções comerciais com os EUA e outros parceiros.
Desde a pandemia da covid-19, a China tem enfrentado dificuldades em recuperar um crescimento mais robusto. A crise imobiliária levou a despedimentos e reduziu o consumo das famílias. Segundo a professora Wendy Leutert, da Universidade de Indiana, o país continua a investir pouco em áreas como saúde, educação ou cuidados infantis e a idosos, que poderiam estimular o consumo interno.
“Os líderes chineses parecem dispostos a aceitar custos económicos em nome da autossuficiência e da liderança tecnológica”, escreveu.
A demografia é outro desafio: a população começou a diminuir e envelhece mais rapidamente. A taxa de desemprego jovem ronda os 19%, segundo dados oficiais, limitando o contributo das novas gerações para a economia.
Pequim quer duplicar o tamanho da economia entre 2020 e 2035. “Tal como qualquer outro governo, a China ainda se preocupa com o crescimento e quer continuar a enriquecer”, afirmou Zhang, que considera manter o crescimento entre 4% e 5% por década “desafiante, mas essencial” para sustentar a legitimidade do partido.
“O que importa à liderança chinesa? Estabilidade, legitimidade e apoio contínuo”, concluiu.
Inforpress/Lusa
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