
Cidade da Praia, 23 Dez (Inforpress) – Milhares de emigrantes cabo-verdianos passam o Natal fora do país, entre saudade e adaptação, longe das famílias e tradições, celebrando nos países de acolhimento e recorrendo à tecnologia para manter os laços afectivos à distância.
A equipa da Inforpress ouviu relatos de emigrantes cabo-verdianos que, mais uma vez, celebram o Natal longe das famílias, partilhando experiências marcadas por saudade, adaptação e resiliência.
Filipe Pina é um desses emigrantes que, pela primeira vez, passa o Natal fora de Cabo Verde, em Portugal, e admite que a experiência é marcada por sentimentos contraditórios.
“É a primeira vez que estou longe da minha mãe, do meu pai e dos meus amigos. Mas também tenho famílias bem próximas aqui, o que torna tudo mais suportável. É uma experiência nova e agradável”, contou à Inforpress.
Vivendo fora do país há cerca de dois anos, Filipe Pina reconhece que a tecnologia tem sido essencial para manter os laços afectivos.
“Vivemos numa aldeia global. Mesmo estando longe fisicamente, sinto-me perto de Cabo Verde. As chamadas de vídeo ajudam, mas não substituem a presença física. O Natal é para conviver”, sublinhou, acrescentando que, apesar de recriar o seu momento, sente falta “das piadas à mesa, das saídas com os amigos e da comida da mãe”.
A mesma saudade é partilhada por Joceline Afonso, emigrante em Portugal, que recorda com emoção os Natais passados no interior do país, junto dos avós.
“Desde pequena, sempre vivi o Natal no interior, com os meus avós e o resto da família. Isso é o que mais me faz falta. Havia um calor humano diferente, mais união, mesmo sendo tudo simples”, afirmou.
Afonso lembra ainda do choque cultural quando passou o primeiro Natal fora de Cabo Verde.
“A ceia à noite foi o que mais estranhei. Era algo que só via nos filmes. Na minha família, o Natal sempre foi vivido no próprio dia, de manhã, de forma simples, mas em família”, explicou, acrescentando que, apesar de hoje já não sentir grandes diferenças, “o Natal em Cabo Verde tinha mais aconchego”.
Outros emigrantes ouvidos pela Inforpress partilham percepções semelhantes.
Maria Lopes, residente no Luxemburgo há seis anos, diz que o Natal fora do país “é mais silencioso”.
“Aqui tudo é organizado, mas falta aquele barulho da família reunida, das conversas longas e espontâneas. Tento manter o espírito, mas não é igual”, confessou.
Já Anderson Tavares, emigrado nos Estados Unidos, afirma que as redes sociais têm sido um apoio emocional fundamental.
“As redes sociais ajudam muito. No Natal, as chamadas de vídeo fazem-nos sentir presentes, mesmo longe. Não substituem o abraço, mas ajudam a matar a saudade”, referiu.
Apesar das diferenças culturais e da distância física, os emigrantes procuram manter vivas as tradições e os laços familiares, adaptando o Natal à realidade da diáspora.
Longe das mesas familiares, dos abraços presenciais e das tradições vividas em comunidade, os emigrantes cabo-verdianos reinventam o Natal entre fusos horários e ecrãs iluminados.
Entre saudade e resistência, mantêm vivo o sentimento de pertença, à espera do dia em que o regresso transforme novamente a distância em presença.
Estima‑se que mais de 1,5 milhões de cabo‑verdianos e seus descendentes vivam fora do país, reforçando que, apesar da distância, o desejo de reencontro familiar continua a ser o maior presente desta quadra.
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Inforpress/Fim
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