Cidade da Praia, 28 Jan (Inforpress) - Um estudo concluiu que 65% dos cabo-verdianos consideram que o país está na direcção errada, e 75% mostram-se insatisfeitos, apesar de acreditarem que a democracia é o sistema político que melhor serve para o país.
Apresentado hoje, na Cidade da Praia, os dados constam do décimo inquérito sobre “A qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde: condições económicas e satisfação com a democracia”, realizado de 27 de Agosto a 10 de Setembro de 2024 nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Santiago e Fogo, o que representa 96% da população adulta cabo-verdiana.
Apesar da confiança na democracia, o estudo aponta que 20% da população “defende a possibilidade de intervenção militar no Governo”, ou seja, que os militares deveriam governar pelo tempo necessário para beneficiar o país.
A maioria dos inquiridos, o que representa 84% da população, considera que os políticos pouco ou nada fazem para ouvir as suas opiniões e preocupações, demonstrando um descontentamento generalizado com a forma como os líderes lidam com o povo.
Os dados indicam que 79% das pessoas em situação de elevada pobreza consideram que o país segue na direção errada, enquanto 70% ainda mantêm esperança de um futuro melhor nos próximos 12 meses.
O estudo destaca que dois terços da população não têm rendimento em dinheiro, 48% enfrenta falta de água em casa, 46% sem combustível para cozinhar, 36% sem acesso a cuidados médicos e 31% enfrentando períodos sem alimentação.
O estudo avaliou igualmente o papel das Forças Armadas, tendo em conta que Cabo Verde está inserido numa sub-região marcada por intervenções militares cada vez mais frequentes.
Os resultados indicam que 36% dos cabo-verdianos concordam com a ideia de que as Forças Armadas devem intervir no processo político do país, e além disso, 56% consideram legítimo que as Forças Armadas assumam o controlo do Governo em situações onde os líderes eleitos abusam do poder para benefício próprio.
O director-geral da Afrosondagem, José Semedo, sublinhou que a crise democrática presente a nível mundial e também em Cabo Verde, exige reflexão e acção política, considerando o distanciamento entre políticos e cidadãos e o crescente deficit de participação dos cabo-verdianos.
Durante a apresentação do estudo, disse ainda que 84% dos cabo-verdianos sentem que os políticos não os ouvem, refletindo descontentamento com a classe política, mesmo mantendo confiança no sistema democrático.
Segundo disse, a abstenção elevada nas últimas eleições autárquicas é vista como um sinal claro da insatisfação dos cabo-verdianos.
“Por exemplo, o MpD, que é o maior partido autárquico desde 1991, perdeu a maioria das câmaras municipais nas eleições autárquicas. Será que a responsabilidade é única e exclusiva dos eleitos municipais ou também será que, numa outra leitura, os cabo-verdianos acabaram por penalizar, de uma certa forma, até a oportunidade que encontraram, de penalizar o Governo pelas políticas que têm implementado”, apontou.
Para o director-geral, é fundamental ultrapassar o mero plano das intenções e focar na melhoria concreta das condições de vida dos cabo-verdianos, sendo que a população precisa de sentir que existem políticas reais e eficazes com impactos positivos.
No seu entender, os jovens necessitam de alternativas credíveis que lhes ofereçam perspectivas de futuro uma vez que a falta de oportunidades leva muitos a considerarem a emigração como única saída, mas Cabo Verde tem potencial para encontrar soluções viáveis que revertam essa tendência.
No seu entender, cabe aos políticos e ao Governo como oposição, refletir e agir de forma a atender às expectativas da população dentro das possibilidades reais.
AV/AA
Inforpress/Fim
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