*** Por Sandra Custódio, da Agência Inforpress ***
Cidade da Praia, 19 Jun (Inforpress)- A ministra de Estado e da Defesa Nacional, Janine Lélis, considera-se uma “mulher de luta”, tendo na família a base de tudo, e revela que o seu compromisso com a vida é ser feliz.
“Eu sou uma pessoa focada. Faço e valorizo aquilo que é importante para mim. Costumo dizer que o meu compromisso com a vida é ser feliz. E não sou do tipo de pessoa que fica à espera que as coisas aconteçam. Corro atrás. Considero-me feliz e realizada, graças a Deus”, manifestou.
Janine Tatiana Santos Lélis, de nome próprio, falava em entrevista à Inforpress, discorrendo sobre o seu percurso de vida, desde a sua infância, juventude e a vida adulta, numa conversa animada, trazendo à memória boas recordações, dando a conhecer, enquanto pessoa e ser humano, o outro lado da governante, isto é, da ministra de Estado, da Defesa Nacional e ministra da Coesão Territorial da República de Cabo Verde.
Filha de Dja d’Sal, ilha do Sal, nasceu e cresceu em Pedra de Lume, localidade piscatória que dista a sete quilómetros de Espargos, onde passou toda a sua infância, até os 10/12 anos, altura em que foi para o liceu, passando a residir, a partir desta idade, em Morro Curral, nos Espargos, onde até hoje é a casa dos pais.
“Viver em Pedra de Lume era uma alegria, era uma festa. Havia muita agitação, muita movimentação. E juntávamos todos lá no largo do ABC, a zona onde morávamos, pequenos, médios e grandes, todos a brincar juntos no mesmo horário. Era uma coisa bonita”, recorda, referindo, entre gargalhadas, que os irmãos e os primos faziam-lhe “muitos abusos”, abusos no sentido de pirraças, picardias, bem entendido, relacionadas a situações engraçadas.
Conservando “boas recordações” da sua infância, Janine Lélis lembra-se do tempo que brincava com as bonecas, faziam baptizados de boneca, um baptizado de abóbora, cuja festa foi organizada pela mãe Ricardina Lélis, dona Dininha como é carinhosamente chamada.
“Que era para sinalizar a boa colheita na Terra Boa. E a abóbora tinha uma fita, um lacinho de cetim passado como se fosse ao pescoço…E era festa com pipocas, torresmos, bolo, sumo, tudo. Fazíamos piqueniques”, recorda, aludindo com carinho, à sua madrinha que também era de Pedra de Lume.
“Tinha também muitos filhos. E as nossas casas eram como se fossem casas gémeas. Nós estávamos sempre na minha madrinha, ou os filhos dela estavam na nossa casa. Era uma animação só”, conta, referindo que ela é a caçula dos irmãos, Armindo Lélis, Humberto Lélis e a irmã Edna Lélis, esta que morreu cedo, aos 50 anos, vítima de um cancro.
Apesar de ser a codê, (a mais pequena de todos), não se considera uma pessoa mimada, antes “muito meiguinha”, embora não pareça, conforme disse a rir, porque as pessoas lhe acham com um semblante muito sério.
Janine Lélis fez o 3.º, 4.º e 5.º ano, no Sal, tendo depois ido estudar o sexto e sétimo ano, hoje décimo e décimo primeiro, em São Vicente e o último ano, décimo segundo, em Setúbal.
Conta que sempre foi boa aluna, tirava boas notas, era atleta, gostava muito do desporto e actividade física, ganhava corridas, participou em campeonatos, foi da selecção de andebol no liceu de São Vicente, mas também gostava de festas.
Com uma vivência e ligação “muito forte” com São Vicente, onde estudou, Janine Lélis disse ter lá grandes e belas amizades que perduram até hoje, além das que guarda também da infância de Pedra de Lume.
Licenciada em Direito, no Brasil, pós-graduada em Direito de Empresas e do Trabalho, e ultimamente a concluir o mestrado em Direito Público, Janine Lélis disse ter muita energia para o trabalho, descrevendo-se, por outro lado, como uma mãe e esposa dedicada, valorizando muito a sua família, porque a base de tudo.
“Família para mim é a base de tudo. Seja a família materna, seja a minha que constitui. Para mim é fundamental ter harmonia, tranquilidade… esforcei-me para educar os meus filhos, tendo presente os bons valores e princípios, de respeito, generosidade, companheirismo, de meritocracia. Dar prémios quando merecem, mas também castigar, quando é tempo e necessário for”, manifestou.
Casada e com dois filhos, a filha tem 25 anos e o rapaz 13, contando também seus enteados que viveram com ela desde pequenos, mas neste momento só o Luís, o mais pequeno, se encontra em casa, porque os outros saíram para estudar fora.
Advogada de carreira, hoje governante deste país, assumindo várias pastas, tem três ministérios, além de ter de estar seis dias por mês no Parlamento, o que implica gerir muita coisa, Janine Lélis, assegurou que por mais que trabalhe, ou por mais volume de trabalho tiver, esforça-se para estar em casa o mais tardar à 19:00, evitando também compromissos aos fins-de-semana, a não ser os inevitáveis.
“Porque também tenho marido e um filho de 13 anos, os outros estão fora… que preciso cuidar e dedicar também a eles porque são muito importantes na minha vida. Tenho que estar bem na minha casa, com a minha família para poder fazer bem o meu trabalho. A família é a base de tudo”, enfatizou.
Mesmo que chegue em casa “cansada, exausta”, faltando às vezes energia para falar, particularmente quando sai das sessões parlamentares, arranja energia para estar e conversar com o marido e o filho, mesmo que lhe apeteça chegar e deitar-se.
“As pessoas, de certa forma, têm uma perspectiva de que o governante ou o político é uma pessoa virada para si, focada na sua ambição pessoal, que pensa na sua realização. E muitas das vezes não pensam que é desafiante e que nos privamos de muita coisa”, desabafou.
Nunca idealizara estar na política, mas afinal o bichinho veio a despertar-se, tendo começado no Grupo Independente para a Mudança e Desenvolvimento do Sal (GIMDS) formado por um grupo de cidadãos que apoiava o doutor Jorge Figueiredo, na época, para a Câmara Municipal do Sal.
Conta que entrou na política mais para “afastar e proteger” a mãe que era muito activa politicamente, dos ataques e telefonemas anónimas com assuntos que incomodavam e magoavam a todos lá em casa, então pediu à mãe que saísse, para ela Janine entrar e vestir a couraça.
“Mas ela disse-me: Se quiseres entrar na política, entras, mas eu não vou sair. E foi mais ou menos assim”, contou, recordando todo esse caminho até agora.
“Acho que a maior frustração que se tem quando se está na política, é não conseguir passar às pessoas a intencionalidade que se tem, a bondade que se tem interiormente para trabalhar em prol das pessoas e do Estado”, exteriorizou.
Quanto aos episódios mais marcantes da sua vida, conta com visível alegria estampada no olhar que foi o nascimento dos seus filhos.
“É uma sensação tão boa, é uma expressão de felicidade. A gente enche a alma…acho que não voltei a viver momentos como os dos nascimentos do Luís e da Zara. É uma coisa que transborda”, frisou.
Sobre a sua vida social, facto é que enquanto governante a liberdade muda, até porque anda também com seguranças, não resta muita margem para muitas actividades, mas sempre procura estar com os “bons amigos”, normalmente em convívios em casa.
“E sou eu que faço as minhas coisas. Gosto de cozinhar. Faço muita coisa boa. As minhas amigas gostam. Faço um bom polvo a lagareiro, um bom arroz com atum, com muita verdura, faço ovas de peixe… cozinho bem porque sou apreciadora de uma boa comida. Ah, e faço também doces”, completou.
Já no fim da conversa, Janine Lélis disse viver a política com “gosto e intensidade”, sentindo-se que ainda pode “fazer muito” pelo Movimento para a Democracia (MpD), ciente, porém que na política “ninguém tem lugares garantidos”.
SC/ZS
Inforpress/Fim
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